terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Um modelo de ser humano

Ontem, dia 8 de Dezembro, foi o dia da festa da Imaculada Conceição da Virgem Maria. Penso que seja feriado em Portugal porque é a principal padroeira do país. Não sei bem se foi o primeiro rei após a Restauração, ou de outro depois, que decidiu não usar mais a coroa de rei para entregá-la a Nossa Senhora. Desde então passou a ser nossa Rainha e padroeira.

O culto mariano é bastante antigo e profundamente enraizado na nossa cultura. Até um certo ponto não sei se esta devoção não vem de tempos muito anteriores à existência terrena de Nossa Senhora. O cristianismo veio ocupar o lugar de muitas práticas pagãs. Não parece estranho pensar que os povos transferiram a devoção a divindades femininas para a Virgem Maria. Do ponto de vista simbólico a Virgem e as deusas partilham temas parecidos: a fertilidade nelas, ser mãe do Salvador em Maria.

Nossa Senhora é mais do que isso, mas no dia de hoje o facto de ser mãe do Messias é o mais importante. Há muita gente que duvida da virgindade de Maria. É um tema problemático. Mas o mais engraçado é que a Igreja (o conjunto dos baptizados e não só o clero) desde muito cedo considerou Maria, mãe de Jesus, Virgem e sem pecado desde a concepção, ou conceição.

Todo o olhar que dedicarmos a Maria deveria ter em vista, não ela própria, mas o seu filho. Jesus o centro da fé dos cristãos é que determina tudo o resto. Jesus que ressuscitou revelando-Se desta forma como inteiramente Deus, revelou a Sua completa humanidade ao morrer. O que morre teve que viver, teve que nascer. Jesus Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus (e não tenho qualquer dificuldade em aceitar este facto, ao contrário de muitos neo-gnósticos que procuram códigos e cálices escondidos, porque concedo a Deus a possibilidade de a Ele tudo ser possível), nasceu de uma mulher, não seria homem se isso não acontecesse, mas também não seria Deus se nascesse de uma gravidez como as outras. Não seria Filho de Deus se tivesse nascido da união de um homem com uma mulher. Por isso não seria de espantar que Ele nascesse de uma Virgem, pois não? Se Deus é a origem de tudo, também pode ser a origem da gravidez virginal de Maria. E porquê Maria? Porque ela não estava tocada pelo pecado original. Eu olho para o pecado original e não vejo aquela cena da maçã, mas vejo esta capacidade de fazermos ou escolhermos o pior caminho.

A mãe do Messias, do Salvador, próprio Deus, logicamente teria que ser isenta de pecado original. Deus para enviar o Seu Filho interferiu silenciosamente na História dando origem a uma mulher em tudo igual às outras, excepto na herança ancestral do pecado. Será assim tão difícil de entender?

Se quisermos, podemos até ver sob um ponte de vista mecânico. Deus ao longo dos tempo foi criando uma relação cada vez mais estreita: aliança com Abraão, a Lei através de Moisés, a acção educadora dos profetas, as quedas e reconciliações; todos estes elos vieram desaguar na Encarnação do Seu Filho. A Imaculada Conceição de Maria foi só mais um elo dessa imensa cadeia.

Por isso mesmo a virgindade de Maria está muito, muito mais relacionada com a ausência de pecado do que com o pormenor físico. Maria é Virgem porque não foi tocada pelo pecado, porque não foi infiel a Deus, porque não fugiu, porque deixou Deus actuar na sua vida. É por isto que ela é um modelo a seguir por cada ser humano: tentar ser como ela e deixar Deus actuar na História através da nossa existência.

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