domingo, 31 de outubro de 2010

Trigésimo Primeiro Domingo do Tempo Comum – Ano C

O Evangelho de hoje termina com a afirmação de Jesus que veio para salvar o que estava perdido. Veio para salvar os que estavam afastados de Deus por responsabilidade próprio, mas também para os que estavam afastados por imposição da sociedade.

Para os primeiros, os que por várias razões se afastam de Deus por causa dos seus actos, a primeira leitura de hoje dá esperança e alento. Deus ama-nos a todos sem excepção. O ódio não faz sentido em Deus, pois Ele é todo Amor. Ele é somente Amor. O Seu Amor atrai-nos, perante Ele sentimo-nos penalizados, repreendidos e se por acaso sentimos abandono, talvez seja por causa de O termos abandonado e não o contrário. Deus criador não cria o mal, porque o amor não pode gerar ódio.

(A nível pessoal, a primeira leitura, dá-me a resposta para muitas superstições e crenças pagãs. O mal não pode ser algo com personalidade, nem demónios ou espíritos que vagueiem. Deus não pode criar ódio, se Ele é Amor. O mal é o uso egoísta da liberdade. O mal não pode criar nada, por isso não pode criar seres maléficos. Quando Jesus diz que do exterior não vem nada que torna o Homem impuro, quer dizer também que o mal vem de dentro, do tal mau uso da liberdade. Por isso não acredito em espíritos, possessões, bruxedos, demónios e coisas que tais. Até sobre os anjos tenho uma opinião restritiva. Anjo para mim não é um ser, mas uma mensagem de Deus. Qualquer pessoa pode ser um anjo se for mensageiro e mensagem de Deus.)

O Evangelho de hoje aborda numa primeira leitura os excluidos da sociedade. Zaqueu era um deles, chefe dos publicano, representava o judeu corrompido pelo poder de opressor de Roma. Para além disso era desonesto, abusava da sua posição de cobrador de impostos. Era odiado por todos. E vivia faustosamente. No entanto este judeu, Zaqueu, sentia um desejo enorme de ver Jesus. Representa aquela ambição que todos sente de serem felizes, de fazerem o bem. Ele sentia essa atracção e identificou-a na pessoa de Jesus. Quantos de nós sente essa atracção e identificam-na com deuses errados? O ser humano é um buraco à espera de ser preenchido.

Jesus ajuda quem verdadeiramente quer se aproximar Dele. Este episódio represente isso. Zaqueu não se deixou fechar pelo pecado socialmente atribuido e o próprio, esforçou-se, esqueceu o ridículo que era aquele homem, ricamente vestido, subir a uma árvore. A conversão pressupõe um esforço do convertido. E obteve uma recompensa muito maior do que esperava obter. Jesus quis passar a noite na sua casa. Jesus entrou na vida daquele pequeno homem de uma forma transformadora e radical. O que faríamos se Jesus quisesse passar a noite na nossa casa? O que fizemos quando isso aconteceu? Reconhecemo-Lo?

O convertido perante tamanha recompensa tem tendência a fazer gestos de gratidão. Zaqueu deu metade da sua fortuna e indemnizou todos os prejudicados pelos seus actos. A penitência é isso, um gesto concreto que mostra a nossa transformação. O que mostramos aos outros? O que o nosso coração agradecido e alegre mostra?

As leituras de hoje podem ser lidas de outra forma, principalmente o Evangelho. Qual é o nosso olhar? Será superficial como o da multidão que impedia Zaqueu de se aproximar? Ou será mais profundo como o de Jesus que viu para além das roupas? O ser humano é composto por qualidades e defeitos. Temos o nosso olhar treinado para ver para além dos defeitos? E das qualidades mais visíveis? O que fazemos perante alguém que nos desagrada?

É um bom treino pensar em alguém que nos desagrada, irrita, e procurar relativizar esses defeitos. Imaginar porquê que essa pessoa é assim. O que na sua história a levou por este caminho. Procurar coisas que tenhamos em comum. Muitas vezes vemos nas outras pessoas defeitos nossos. Depois podemos imaginar o olhar que Deus tem para com essa pessoa e fazer nosso esse olhar. Ao fim de algum tempo os defeitos dessa pessoa começarão a não nos afectar tanto. Aí percebemos que muitos dos nossos problemas e sofrimentos vêm da forma como olhamos os outros, nós próprios e o que nos acontece.

sábado, 30 de outubro de 2010

Serei eu um básico? Acho que sim...

Ao saber dos resultados da sondagem da Católica para a RTP, DN e JN veio-me à meninge a ideia que, das duas uma, ou os portugueses estão contentes com os políticos ou são mais básicos do que eu. Assim de repente sem pesquisa nenhuma avanço que devem existir uns dez ou quinze partidos e movimentos políticos e estas lusas alminhas escolhem sempre a mesma canalha. Não há pachorra.

Ora vejamos. Desde a entrada de Portugal na CEE tivemos dez anos de governo do PSD, Primeiro-Ministro Cavaco Silva. Depois veio o PS com o Primeiro-Ministro Guterres durante uns seis anos. O PSD coligou-se com o CDS e esteve lá dois anos e meio sob o Primeiro-Ministro Durão Barroso e mais ou menos meio ano com o Primeiro Ministro Santana Lopes. Por fim veio o PS com o Primeiro-Ministro Sócrates quase com seis anos. O PSD esteve lá no poder para todos os efeitos treze anos e o PS doze. O CDS deu uma perninha na última encarnação governativa do PSD.

Vinte cinco anos de progressos económicos fruto dos fundos europeus, que estão a acabar. Talvez seja por isso que estejamos assim, o dinheiro vai acabar e habituámo-nos a ter muito.

Vinte cinco anos de regressão na qualidade dos intervenientes políticos. A fartura de dinheiro terá desviado os competentes para o sector privado e terá estimulado os incompetentes a chegarem a cargos que em situações normais não passariam de sonhos.

Os Portugueses foram tomando várias opções. Uns deixaram de votar e influenciar as decisões do país. Os outros acomodaram-se ao rame-rame do voto no partido de sempre.

Neste momento temos o Bloco de Esquerda a capitalizar com a crise. São verdadeiramente os necrófagos da política, quanto pior o país estiver melhor para eles. Sobrevivem através das causas fracturantes, engordam com o descontentamento, com o desemprego. O PCP gostaria de ser necrófago, mas não tem dentição nem estômago preparado para tal. É mais um herbívoro que tem a sua força no número. Mobiliza o mundo sindical, mas actualmente só o mundo sindical da Função Pública é motivado. Quem trabalho no sector privado nem pensa em greve, o desemprego está mesmo ali à porta.

No Parlamento (lugar onde vão parlar) os partidos presentes estão tão viciados naquela rotina que já não conseguirão transformar-se nem transformar o país. Eu pergunto: os partidos não deviam estar sujeitos aos eleitores? Porquê que os eleitores votam sempre nos mesmos?

Parece-me que o Povo Português culturalmente não aprecia tomar decisões. Preferia ter um Governo lá longe nos gabinetes e ir levando a sua vidinha de sempre. Ninguém se chateava, eles lá e nós cá. Talvez tenha sido por isso que nunca houve nenhuma revolta popular contra o Salazar. Já por si é comodista, com um Governo que o incentivava mais ficou.

E não digo mais pois tenho que ir almoçar. A minha barriga primeiro, né?

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Original e Versão

Mais um caso em que descobri o original depois da versão.





quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Era uma vez...

… um reino algures no tempo e no espaço governado historicamente por duas famílias. A nação confiava nelas e lá iam tendo pão e diversão.

Por altura dos acontecimentos narrados nesta história as famílias eram chefiadas por líderes de bonito aspecto e de agradável prosa. Tinham sido feitos um para o outro. O povo desconfiava que dali viria boda. Mesmo se nem todos fossem convidados, haveria festa na certa. Já tinha havido uniões no passado, por isso não seria de esperar.

O tempo foi passando e a aproximação entre o casal foi acontecendo. Houve encontros a sós, no maior respeito. Houve desentendimentos. Houve pazes. Houve namoro na presença de alguém mais velho.

Finalmente por razões de conveniência e prudência iniciaram-se preparativos para a boda. Como condição para a efectiva união das duas famílias pelos laços da durabilidade e fiabilidade, o casal teria que gerar um rebento antes da conclusão do processo.

A nação ficou expectante. Perante o olhar atento de todos iniciaram-se os encontros. Um dos elementos do casal deslocava-se aos aposentos do outro para providenciarem o tão desejado fruto da sua união. Muitos populares e coscuvilheiros rondavam o palácio e conseguiam, alguns, penetrar nos corredores até perto dos aposentos. Aí viam o visitante entrar. Aí viam o visitante sair. Nada mais conseguiam apurar.

Os dias foram passando. Os encontros sucediam-se. Chegou o tempo de começar-se a saber se ia haver procriação ou não. A nação fervilhava de boatos e adivinhações. Algumas vozes clamavam por moralidade, onde já se viu os nubentes usufruírem das delícias sem a correspondente efectivação?

Certo dia um dos elementos do casal deixou o outro a esperar. Por razões que só lhe dizem respeito esperou algum tempo, mas teve que ir embora. Ficara subentendido que voltariam à habitual fruição no dia seguinte, mas isso não aconteceu. Desentenderam-se e a nação ficou horrorizada com o desenlace. Não ia haver rebento, as duas famílias não iriam unir-se em boda.

Membros de destaque de cada família ficaram com as gargantas seca de tanto esgrimirem acusações à outra parte. Vossas Excelências nunca desejaram este fruto. Não, Vossas Excelências é que estiveram de má fé. Vossas Excelências não cederam nada. Qual quê, Vossas Excelências impuseram posições não conformes.

O debate durou tempo demais sem necessidade. Havia quem desejasse fazer o rebento no lugar de um deles, até estava disposto a secretamente aceitar posições fora do comum, para o bem da nação, mas por uma ou outra razão ficaram fora da corrida. Ou eram conhecidos por não tomarem banho ou tinham assumido pouco tempo antes publicamente que não queriam intimidades com o elemento fecundador.

O rei doente que pouco tinha conseguido fazer para ajudar à geração deste rebento, nas vésperas de uma corrida às termas para rejuvenescer-se (era esse o seu secreto ensejo) deu um murro na mesa. Agravando a sua debilitada saúde exigiu uma solução. O rebento tinha que ser gerado.

E por isso, dias depois surgiu a notícia que o casal tinha usado inseminação artificial. Iria haver rebento. E a nação, como ficou?

Bem, isso é outra história...

Moral da história: O PS e o PSD não se entenderam para gerar o orçamento, mas este nascerá de qualquer forma, nem que seja em tubo de ensaio. Houve excitação sensual entre eles, mas não houve conclusão eréctil e libidinal, porque chegou-se à conclusão que tinham os mesmo órgãos reprodutores. A reprodução terá que ser feita através de barriga de aluguer ou um deles descobre-se hermafrodita. De qualquer das formas o rebento, o orçamento, será um pequeno grande ditador e a nação algures no tempo e no espaço sofrerá, talvez com menos pão e diversão mais cara.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Venha o diabo e escolha

Para descobrir as diferenças: As várias candidaturas à presidência:

Cavaco Silva




Manuel Alegre (primeira parte, o resto vejam no youtube)




Fernando Nobre (para o resto vejam no youtube)




Francisco Lopes (PCP)




Defensor Moura (não encontrei o discurso de anúncio de candidatura)




E agora a candidatura que se impõe

Mauel João Vieira


A propósito das refeições de convívio

Nos primeiros episódios da série Dexter senti uma grande identificação com o protagonista. Não pela parte do sangue e das facas, mas por parte da incapacidade de socialização. Há certas normas sociais que não domino, nem entendo.

Admito que seja falha na minha educação, que poderia ter disfarçado, se tivesse existido essa educação, alguma falha minha de feitio. Acho que já falei aqui da minha pouca experiência em relações sociais, raramente consegui manter amizades após a separação dos nossos caminhos. Os meus pais não tinham amizades fortes e da família é melhor nem falar.

Por isso tive pouca formação em reuniões de convívio. Por isso tenho pouca vontade em participar nelas. Por isso vejo pouca razão de ser para existirem, pelo menos nos padrões civilizacionais da actualidade. Percebo que no tempo em que dependíamos muito mais da natureza, do que colhíamos e caçávamos com as nossas próprias mãos, a refeição em grupo seria importante para estabelecer relações sociais, mesmo hierárquicas. Partilhar a comida e a bebida era partilhar algo de vital e por isso muito importante. Se eu estou a partilhar algo de vital para mim, a pessoa com quem estou a fazer isso é muito importante para mim e eu para ela.

Festejar um casamento é compreensível. As famílias unem-se para abençoar a nova família. Uma nova família era importante para a sobrevivência da comunidade.

Já não consigo perceber a necessidade de colegas de trabalho, que estão juntos todos os dias, de irem almoçar ou jantar juntos. Há a desculpa do convívio, mas no trabalho não se convive? Há a desculpa de estarmos noutro ambiente, mas os assuntos da conversa acabam por serem os mesmos de sempre, do dia-a-dia. Há a desculpa de estarmos mais à vontade, mas em todas as circunstâncias devíamos ser auténticos, nós próprios, se no trabalho estamos a fingir, já não somos uma pessoa inteira.

Promover uma refeição de convívio para exorcizar frustrações, problemas, tristezas, parece-me que é embarcar numa ilusão. Os problemas, as tristezas, as frustrações estão lá quando regressarmos à rotina. Não seria melhor enfrentá-las? Procurar a origem e tratá-las?

As coisas pioram, sob o meu ponto de vista, nas reuniões com muita gente. Ainda vejo algum benefício numa refeição com no máximo seis pessoas, mais do que isso já começa a ser difícil. É mais fácil as pessoas partilharem-se num pequeno grupo do que num grande. Num grupo de seis, todos estão perto uns dos outros. Num grupo de dez, se a mesa não for redonda perde-se a intimidade e perde-se a razão de ser da refeição. Num grupo de vinte ou mais formam-se pequenos grupos ou come-se sozinho. Se um grupo grande se reúne em torno de uma pessoa, porque faz anos, porque vai embora do emprego, porque vai casar, para que serve a reunião? Essa pessoa não vai poder prestar atenção a todos da mesma forma, é impossível.

Já estive em alguns almoços de despedida. O que tem acontecido? Come-se, os mais próximos do que se despede falam com ele, talvez se fale mal da empresa e no fim cumprimenta-se deseando felicidades no novo emprego. Se me sinto mais próximo dele, volto para o escritório com o coração apertado e já com saudades. Onde há a partilha? Cada um paga a sua parte da conta, nem o grupo paga o almoço ao que se despede, nem ele nos paga a refeição. Ele segue a sua vida e no meu caso provavelmente trocaremos um mail por ano no Natal e na Páscoa, se eu tiver essa iniciativa.

O mais engraçado é que acabo por gostar de almoçar com os meus colegas de trabalho. Estou entre pessoas que gosto e com quem sinto-me à vontade, tenho o meu lugar na dinâmica do grupo. Continuo sem perceber a necessidade de nos juntarmos numa refeição, pelo menos a necessidade que alguns deles têm desses encontros. Acabo por apreciar vê-los alegres, uns copos de sangria e há risadas e boas disposição. Às vezes no trabalho há risadas sem necessidade de sangria. A nível egoísta aprecio a oportunidade de provar comidas que habitualmente não encontro. A minha dieta é bastante monótona, mais ou menos equilibrada, mas pouco condimentada.

Termino com uma referência literária. Há um escritor italiano de seu nome Giovanni Papini que é uma figura polémica. Ele nasceu filho de um ateu fanático e de uma mãe religiosa, tendo sido baptizado em segredo. Cresceu sob a influência do pai. Interessou-se pela literatura. Andou pelo fascismo italiano e a uma dada altura converteu-se ao catolicismo. Foi um católico algo singular. Teve livros no Index. Enfim foi um anarquista. O que ele tem a ver com esta reflexão sobre as refeições de convívio? Num dos mais famosos livros dele “Gog” há um capítulo que me marcou muito. O livro é uma colectânea de textos supostamente escritos por Gog, um homem rico e insatisfeito com a vida. Num desse escritos ele conta a sua estranheza sobre a importância que a raça humana dá às refeições. Ele pergunta, se nas nossas casas temos um lugar próprio para evacuar o que comemos com privacidade, porquê que não temos um lugar com igual privacidade para iniciarmos o processo? Assim sendo ele mandou construir uma casa de comer confortável e discreta.

(Na antiguidade era comum as latrinas comunitárias e havia lugar de encontro nesses lugares, mas se não se manteve por alguma razão foi, não é?)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Resposta a um comentário a um texto meu

Kássia, o seu comentário à minha reflexão sobre as leituras do domingo passado deu-me bastante que pensar, originou um longo e confuso texto, que rejeitei. Vou tentar de novo sob um prisma mais leve, mas temo que seja longo (e talvez confuso).

Então não é que estou perante um paradoxo? Sim, continuo a pensar o que escrevi, mas vejo-me forçado a dar-lhe razão. Se o blog aceitasse smile, era aqui que punha um. A frase citada “achar que os outros têm sempre mais razão do que nós” é muito forte. É natural que não posso dar sempre razão ao outro. E se ele me quer matar? Tenho dificuldade em aceitar, mesmo se fosse para manter a minha fé. Ainda estou muito preso a esta vida. Tenho um longo caminho interior de fé pela frente.

É um paradoxo, mas por outro lado vem dar razão à frase do blog, não vem? Afinal estou errado nas poucas opiniões que emito.

Fora de brincadeiras e malabarismos com as palavras. Realmente escrevi um frase forte. Mas a citação não tem a frase completa. Eu escrevi: “É desagradável ter como princípio de vida achar que os outros têm sempre mais razão do que nós, mas é uma forma de exercitar a humildade”. Acho que fica menos forte. Achar que os outros têm sempre mais razão é um exercício para a humildade. E vejo a humildade como uma forma de pacificação, o humilde não se importa que o outro seja superior, que tenha mais razão, porque humildemente reconhece a sua limitação. O que extrema a minha frase é a palavra sempre, não é? Concordo.

Eu tenho uma forma de escrita instintiva, normalmente com pouca reflexão anterior. Escrevo com o coração e com o instinto. Sou preguiçoso para estudar os assuntos, teologia, política, economia. Desta forma arrisco-me a errar e muito.

Eu defendo, mesmo esquecendo-me disso muitas vezes, que devemos dar oportunidade ao outro para expor a sua verdade. “Dar-lhe sempre mais razão” simboliza isso, ser humilde o suficiente para por em causa a minha verdade perante a verdade do outro. Concordo que devemos ser nem mais nem menos que o outro, pois somos todos iguais perante Deus e perante nós próprios, mas será isso mesmo assim? No fundo, no fundo, o nosso íntimo, subconsciente, sei lá, vai fazendo hierarquias. Por mais que racionalmente encontremos razões para defender essa igualdade, o coração humano vai arranjar forma de dar a volta à questão. Daí a recomendação de Jesus: orar e vigiar. Daí ser pedagógico considerar a razão do outro talvez mais certa que a minha. Vamos tentando.

Acho que estou a ser chato, mas queria chamar a atenção para o conjunto do meu texto. No parágrafo seguinte à frase citada eu falo de que talvez o melhor seja um meio termo. Não estar sempre a rebaixar-me, nem seguir cegamente um plano. Nem dar sempre razão ao outro, nem considerar-me superior por ser sempre certinho e cumpridor das regras. Falo em navegar à vista, ou seja, cultivar a humildade (e não a humilhação, que é outra coisa), mas sabendo que tenho uma tendência natural para ver-me maior do que sou. Ter a inteligência para entender os outros e a sabedoria de não me levar demasiado a sério.

Quanto à frase do blog. É mais a forma como me sinto em sociedade, do que forma como penso que os outros me vêem. Quando comecei há quase dois anos este blog era ainda mais a primeira hipótese. Acho que tenho agora mais auto-estima e uma melhor imagem de mim que tinha na altura. Encontrei pessoas que gostam do que escrevo e isso dá satisfação. Tento não embandeirar em arco. Mais incrível é encontrar pessoas que são minhas amigas somente pelo que escrevo, eu que penso ter várias falhas no capítulo da socialização (para perceber melhor o meu espanto ver o texto de amanhã). Estou mais confiante, por isso mesmo arrisco publicar o Silveira.

No entanto, apesar desta maior confiança, ainda sinto que não consigo manter uma conversa com a maioria das pessoas. Continuo a não conseguir manter algumas conversas sem ser interrompido com mudanças de assunto.

Vou contar um episódio que me marcou (talvez até tenha traumatizado). Uns dois anos antes da Expo 98 tive a oportunidade de concorrer a um recrutamento que a PT estava a fazer para a sua participação no certame. Fui chamado para testes numa empresa de recrutamento. O primeiro teste foi logo um debate entre vários candidatos perante um psicólogo. O objectivo era falar sobre a importância da Expo para o país. Devíamos falar e falar e falar. É claro que falei pouco. É claro que fui excluido. Perguntei ao psicólogo porquê e ele respondeu-me mais ou menos o seguinte: o que importava era mostrar iniciativa, capacidade de aguentar uma discussão, por mais inteligentes que fossem as minhas intervenções o que interessava era falar, era dominar o debate. Eu estava desempregado, foi muito duro. Nem cheguei aos testes psicotécnicos. Olhando para trás, ainda bem que foi assim. Provavelmente não estaria já na PT e talvez estivesse pior empregado do que estou agora. O que queria mostrar é que desde então percebi a minha limitação no discurso falado (maior do que a limitação no escrito, que existe), tantas vezes que tento entrar numa conversa e falho, ou atrapalho-me no que estou a dizer e alguém muda de assunto. É frustrante.

“Não tenho opinião muitas vezes e quando tenho estou errado” reflecte esta atitude, que é muito mais uma incapacidade, de dar razão aos outros e que por isso elimina muitas opiniões próprias. E quando as tenho por falta de hábito ou por ignorância ou por insegurança estou errado. E volto à palavra sempre, espero que não seja sempre.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Restless

Ora aqui está um filme que é capaz de ser interessante.

Original e Versão

Descobri esta música no mais recente episódio da série Chuck que deu na RTP2. Conhecia a versão que apresento depois, mas não o original, aqui ficam.





domingo, 24 de outubro de 2010

Ser missionário

Hoje é o dia de oração para as missões. Na missa de hoje tivemos um missionário da Consolata. Retive dele o seguinte: ser missionário não é só partir para longe, participar numa comunidade, num grupo, numa actividade, é e pode ser vivermos a vida normal de forma diferente nesta sociedade descristianizada. Quem viver de forma diferente, agir de forma diferente, está a transmitir uma mensagem.

Viver de forma diferente é viver segundo o Evangelho. Distinguir-nos dos outros pelo nosso agir. Nem precisamos de estarmos sempre a falar de Jesus, de Deus, dos mandamentos, nada, precisamos de agir segundo o Sermão da Montanha. Na relação com os outros, com a sociedade e connosco próprios agirmos com humildade, alegria e abertura. Recusarmos seguir a onda do facilitismo e da lógica distorcida. Um exemplo: não usar sites de partilha ilegal de música e filmes. Em vez de sacarmos o filme antes de estrear nas salas, se não queremos gastar dinheiro, esperarmos pela transmissão televisiva. Não há filme, música, livro imprescindível e de consumo inadiável.

Jesus diz que nas pequenas coisas vê-se o que fazemos nas grandes.

Trigésimo Domingo do Tempo Comum – Ano C


A primeira leitura fala de como Deus está atento a todos, principalmente aos mais fracos. A humildade é o salvo conduto para o coração de Deus. É isso que Jesus demonstra no Evangelho de hoje. E a lógica é simples, se alguém perante Deus só reconhece o que de bom faz, o que tem a ganhar? O humilde tem a ganhar tudo, porque no fundo só quer o perdão para as suas fraquezas.

Parece-me que perante Deus se não tivermos um forte sensação de inferioridade, algo se passa. Para usufruirmos da Misericórdia divina, é condição termos o coração pronto para Ela. Quem se acha justificado, quem não encontrar falhas na sua conduta, quem acha que age correctamente, quem sente-se salvo, corre o risco de ter-se a si no lugar de Deus, tal como o fariseu da parábola. Por vezes agimos segundo uma lógica que à primeira vista segue a lógica de Deus, mas mal damos conta estamos a agir segundo os interesses de todos menos de Deus.

É desagradável ter como princípio de vida achar que os outros têm sempre mais razão do que nós, mas é uma forma de exercitar a humildade. Perante Deus não sou nada e no entanto vivo atormentado com desejos, projectos, manias, conquistas e derrotas. Não será melhor viver em areias movediças do que agarrado a certezas?

Talvez não deva cair em nenhum destes extremos. Não estar sempre a rebaixar-me, nem seguir cegamente um plano. Talvez seja melhor navegar à vista, com uma perna pronta a ajoelhar perante a magnitude de Deus e a outra firme para apoiar-me na manobra do leme perante as tempestades que Deus permite para meu crescimento.

O que tem isto tudo a ver com a oração? Tudo. A oração é antes de mais uma relação com o Senhor. Se vou para ela com condições, exibindo galões, com uma postura de superioridade com quer que seja, quem vou encontrar não é Deus, é um reflexo distorcido de mim. Solidão e mais solidão.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Resenha da Semana

Tenho dúvidas sobre o título deste apontamento semanal. Não faço propriamente uma resenha. Limito-me a apontar algo de positivo e algo de negativo da semana.

Positivo

Nestes dias foi difícil encontrar uma facto positivo, principalmente porque não sou um espectador intensivo dos noticiários e muito menos de jornais. Normalmente as notícias positivas são discretas.

Nesta semana encontrei a notícia do homem que costumava circular pelo Rossio e arredores que tinha um tumor enorme na face, desfigurando-a. Tenho a impressão que cheguei a vê-lo. A notícia é que conseguiu extraí-lo nos Estados Unidos. Finalmente vai poder viver uma vida mais normal. E ao que parece é um feito da medicina.

Negativo

Ui, tanta coisa! Escolho um momento do início da semana, a noite de domingo. O anúncio da recandidatura do professor Cavaco à presidência por parte do professor Marcelo. Na altura fiquei com a impressão, pelo tom usado, que o professor queria mostrar que estava atento ao que se passava no país, mesmo tendo passado uma semana em Moçambique. O que é que ele ganhou com aquilo? Queria mostrar uma faceta de jornalista arranjando um furo? Se quis, esteve atrasado umas décadas. Ele não é visto como jornalista, mas sim como um político bem activo que usa o comentário como ferramenta. Se o recandidato lhe encomendou o anúncio, só lhes fica mal, ao Cavaco e ao Marcelo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

domingo, 17 de outubro de 2010

Vigésimo Nono Domingo do Tempo Comum – Ano C

As leituras de hoje falam-nos de um aspecto importante da oração: a persistência. A relação com Deus rege-se por leis diferentes das nossas. A oração tem que ter por base a gratuitidade de Deus. Tem que ser a expressão da verdade do que sentimos, pensamos e queremos.

Jesus no Evangelho apresenta uma parábola que compara a oração persistente com o pedido insistente de uma viúva por justiça a um juiz iníquo. Se o pior ser humano perante tanta insistência acaba por fazer o bem, quanto mais Deus que é infinitamente bom não fará? Devemos pedir sempre e sem desanimar a Deus. É isso que Jesus ensina. Neste ensinamento está o aviso que a resposta virá quando Deus quiser. Os tempos de Deus não são os nossos. Pode acontecer que aquilo que pedimos só mais tarde nos trará o bem e não agora. Temos que crescer durante a espera.

No final do texto do Evangelho de hoje, Jesus pergunta se quando o Filho do Homem voltar encontrará fé entre a humanidade. Isto parece-me um indício que grande parte dos pedidos a Deus não são relacionados com a fé. Noutras passagens Jesus dá a entender que o máximo que podemos pedir a Deus é o Espírito Santo que nos fará aumentar a fé. É uma grande responsabilidade que o Senhor coloca nos nossos ombros. Por norma Ele não nos dará mais saúde, emprego outra qualquer coisa que habitualmente somos levados a pedir. A mensagem de Jesus vai mais na linha que a fé tudo resolve, que as contrariedades são curvas no caminho de quem tem fé. Deus não vai resolver os nossos problemas sem esforço da nossa parte. Foi Jesus que teve que sentir os pregos a serem cravados nas Suas mãos. A fé ajudou-o a vencer o medo, a confiar na salvação.

Podemos até fazer pedidos, mas devíamos acrescentar no nosso coração: “no entanto faça-se a Tua vontade e não a minha”.

Na primeira leitura vemos um episódio em que a oração de Moisés foi ajudada por Araão e Hur. O significado disto está que sozinhos pouco podemos. A fé cresce mais facilmente em comunidade. E tal como São Paulo diz na segunda leitura a comunidade, encabeçada pelo sacerdote, deve conhecer a Palavra de Deus. A oração será mais purificada do nosso egoísmo se conhecermos melhor a Palavra. No fundo se conhecermos melhor o Deus revelado pela Palavra.

sábado, 16 de outubro de 2010

Saltimbanco – Cirque du Soliel

Pronto, já regressei do espectáculo. Gostei. É um dos mais antigos da companhia em digressão. Os artistas são competentes e os números também. Tem bastante humor, ainda eficaz ao fim de dezoito anos de estrada.

Das quatro vezes que o circo veio a Portugal, só à primeira vez é que não fui. Já conhecia pela televisão e felizmente os espectáculos que vieram têm sido pouco transmitidos.

Os números com trapézio e elásticos foram espectaculares. Aqui ficam alguns vídeos. O primeiro é do duo de trapézio, um dos mais bem conseguidos do ponto de vista da imaginação e ousadia. Durante a apresentação só perto do fim é que percebi que elas tinha cabos de segurança. Realmente tinha achado estranho quando começam a balançar os colegas no chão terem retirado o colchão. No vídeo é lá para o minuto cinco.



A forma como este número acaba foi espectacular. Infelizmente não encontrei um vídeo de melhor qualidade.



Como é habitual, as duas partes principais de palhaços contam com a participação de espectadores. Neste número há mímica, humor, está claro, e beatbox. Aqui ficam os vídeos.











Para além do espectáculo fui vendo, antes e no intervalo, as pessoas e os técnicos do circo. Quanto aos técnicos senti alguma inveja. Eles não sobem ao palco, mas fazem parte do espectáculo. Já é a segunda vez que sinto este desejo que participar numa organização daquelas, a um grupo assim. Todos têm um papel a desempenhar. Acho graça aos operadores de holofotes que antes do começo sobem lá para cima e só saem no fim.

Desde criança que sempre gostei de circo, sobretudo a parte dos malabarismos e acrobacias. Os números com animais nunca me cativaram. É por isso que gosto tanto do Cirque du Soleil. A minha mãe diz que em pequeno eu dizia que queira ser palhaço. Não me lembro desse desejo. Lembro-me sim e querer ser trapezista, mas gordinho como era, e ainda sou, com pouco gosto pelo exercício físico não passei do sonho.

Por fim quero falar do reverso da medalha. Ao olhar para as pessoas, senti-me sozinho. Fui sozinho, não tenho com quem ir a estas coisas. Vi poucas pessoas sem companhia enquanto o espaço ia enchendo. Vi casais, famílias com crianças. Na fila à minha frente estava uma família com pais, filho adolescente e, acho eu, avós. Dei por mim a sentir tristeza por não ter o meu pai ao meu lado, tal como aquele miúdo tinha. Não consegui lembrar-me da última vez em que estivemos assim, se calhar nunca aconteceu. Chegámos a ir ao circo no Coliseu dos Recreios, quando era criança. Um dos males da doença dele é eu já tr dificuldade em lembrar-me como ele era antes. Tenho medo de vir a esquecer definitivamente.

Quando cheguei a casa, a minha mãe estava pouco disponível para ouvir-me falar do que vira e rira. Tem um peso tal em cima, que por vezes não consegue ver para lá disso.

Enfim, dei por bem gasto o dinheiro do bilhete, mas a minha vida não mudou por causa do espectáculo...

Vim aqui só para dizer...

... que vou estar esta tarde ali. Ah ah ah ah ah ah (riso algo alucinado)

Resenha da semana

Tive esta ideia por causa de alguns programas de rádio que acompanho. Tirei a ideia do programa Um Certo Olhar da Antena2.

Aproveito a oportunidade para falar dos programas que ouço com regularidade e como. Normalmente o Um Certo Olhar ouço através do podcast, pois o seu horário colide com o horário da missa que costumo frequentar. Aos sábados há o programa Bloco Central na TSF. Por vezes ouço em directo às 13 horas outras pelo podcast a meio da semana, quando fica disponível.

À sexta há três programas que acompanho: Descubra as Diferenças, na Rádio Europa às 18 horas, que ouço ao domingo às 19 horas ou em podcast; Governo Sombra na TSF, às 19 horas, que ouço normalmente em podcast; Contraditório na Antena1, às 19 horas, que costumo ouvir em directo ou em podcast.

Todos estes programas abordam a vida política nacional e internacional. Ainda acompanho outro programa por podcast, Alma Nostra da Antena1. Este é uma análise diferente da realidade pois é uma conversa entre um professor, jornalista, Carlos Magno, e um psiquiatra, Carlos Amaral Dias.

São estes os programas que me informam e formam.

Agora voltando ao assunto principal. Vou deixar aqui os assuntos que destaco da semana.

Positivo

O salvamento dos mineiros do Chile. Há pouco para dizer sobre isto. Teve quase tanto impacto mediático como o 11 de Setembro, mas no sentido oposto. Gostaria que este salvamento seja o marco para a recuperação da humanidade, que caíra em 2001. o futuro dirá.

Negativo

Podia falar do Orçamento, mas destaco outro assunto. A pobreza de espírito do Partido Comunista Português. Como é possível um partido que lutou pela liberdade achar que o prémio Nobel da Paz deste ano seja desprestigiante para o prémio? Estiveram muito mal.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Estou à espera de um resumo para o Passos Coelho

... pois o PSD tem andado também com um discurso bipolar.

31 da Armada

A melhor novela

Chamei-lhe novela para não dizer tele/radio/imprensa/etcnovela, pois esta novela abrange todos os meios de comunicação social. Chama-se: Vida política Portuguesa. Pois é, a vida política nacional está transformada numa novela, tele e tudo mais. Novela mediática, na verdade.

Tenho acompanhado estes últimos episódios com interesse. Tanto interesse que tenho andado deprimido e sem assunto para escrever aqui. É uma novela absorvente.

Temos mistério: o Orçamento é aprovado ou não.
Temos romance: a relação dançante entre Sócrates e Passos Coelho.
Temos até um triângulo amoroso: Sócrates e Cavaco com os ciúmes de Passos Coelho.
Temos irreverência: PCP e BE, que encarnam os papéis de rufias simpáticos.
Temos uma personagem desparecida: CDS.
Temos cenários luxuosos e personagens da classe alta: clientelas dos partidos do arco do poder.
Temos vítimas das circunstâncias: nós, que não somos banqueiros, altos gestores públicos e boys do aparelho.
Temos um anti-herói (que é sempre chic numa novela): nós, que não sabemos eleger dirigentes de jeito, nem sabemos criá-los.
Temos a personagem dos desgraçadinho: somos nós que levamos porrada de todos os lados e não conseguimos escapar, porque o nosso herói anda deprimido enredado em crises existenciais.

As cenas dos próximos episódios fazem adivinhar mais desventuras dos desgraçadinho, deixa de comer peixe e fruta (cujo IVA passa de 13% para 23%), engorda porque os ginásios ficam ainda mais caros (o IVA passa de 6% para 23%), deixa de saber o que se passa no Benfica (pois os jornais e revistas desportivos passam de 6% para 23%). E vê aumentarem os incêndios à sua volta porque os extintores ficam mais caros (IVA de 6% para 23%). Se tiver uma intoxicação por causa do fumo terá que ter cuidado com o leite que for beber, pois todos com aditivos (chocolate ou cálcio) ficarão mais caros (IVA de 6% para 23%).

E as cenas dos próximos capítulos não param de surgir.

Com tudo isto até começo a desejar que o Orçamento seja chumbado. É só um sentimento...


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Curso interessante para casais

Para quem esteja interessado ou conheça alguém que posso estar, aqui fica um link sobre um curso de planeamento familiar natual.

domingo, 10 de outubro de 2010

Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum – Ano C

Hoje, as leituras, têm três motes em simultâneo: a lepra, o universalismo ou missão e a gratidão. No Evangelho e na primeira leitura estes três assuntos estão interligados. Alguém com lepra é curado, agradece quem é estrangeiro e a salvação chega a quem agradece.

A lepra na Bíblia simbolizou a exclusão da sociedade, a impureza, o pecado. Quem tivesse a sua lepra curada poderia reocupar o seu lugar na comunidade e era readmitido no culto. Ter lepra era estar longe de Deus. Jesus curando os dez leprosos deu-lhes meios para recuperarem a vida em comunidade a relação com Deus. Na cruz Jesus curou-nos da lepra, bastando a nós retomarmos a relação com Deus e com os outros.

O universalismo das leituras está no facto de a cura ter atingido pagãos. Na época quem não fosse judeu era considerado inimigo de Deus e dos judeus. Não compreendiam que Deus pudesse salvar ou sequer curar alguém que não O adorava ou conhecia. Deus ama a todos da mesma forma, são os homens que criaram fronteiras. Nós, crentes, que somos membros do Corpo de Cristo somos chamados à missão por estes exemplos. Não podemos estar fechados à nossa paróquia, aos nossos amigos católicos. Estamos obrigados a não pôr entraves à acção do Espírito que não olha fronteiras, línguas, raças, nem mentalidades. Somos veículos e não mensagem.

Devemos fazer da gratidão uma oração diária, muito mais que pedir, devemos agradecer. O leproso que agradeceu foi salvo, ou seja, os seus pecados foram perdoados e entrou gloriosamente no Reino. Ao contrário dos outros nove que ficaram pela Lei mosaica, lei aprofundada, revogada e purificada por Jesus. Na primeira leitura o general sírio agradeceu a Deus convertendo-se. É nós, agradecemos a Deus alguma coisa? Tudo? Só as coisas boas?

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Sintel

É com muita alegria que divulgo aqui o mais recente filme da Blender Foundation. Blender é um programa de modelação e animação 3D em open source. Este filme foi feito com um objectivo artístico e de desenvolvimento do programa.

A minha relação com este programa começou há um ano. Na altura andava à procura de um programa que me ajudasse animar o "j" dos meus vídeos. Como se tem visto não consegui fazer nada, mas descobri o projecto deste filme. Vejam aqui o site. Se puderem, vejam as entradas do blog desde o início, é contada a história da produção. Muitas vezes desejei participar num projecto deste, nem que fosse a servir cafés...

Como curiosidade vejam o storyboard animado para o primeiro minuto do filme. Não está mal.



quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Eles vêm aí, melhor, já cá estão

Estou a falar dos Guns'N'Roses. Tocam hoje à Pavilhão Atlântico. É uma banda que acompanho há muito, ajudou-me a formar o meu gosto musical. No ano passado saiu o tão aguardado Chinese Democracy. Podem ouvi-lo aqui:



Não é a mesma coisa que os anteriores, afinal só o Axel mantêm-se e já passaram muitos anos, demasiados, desde o duplo Use Your Illusion. Falta muito o contributo do Slash, os riffs dele são imbatíveis. Mas há músicas boas. Ficam aqui algumas.



Ainda há poucos vídeos com qualidade para mostrar, por isso aqui fica o possível. Gosto desta.



E voltando ao passado, aqui fica uma triologia que fizeram em vídeo.








Voltando às apresentações ao vivo



Aqui fica Paradise City, cheguei a imaginar esta música num filme de cowboys sobre um português (imaginei sendo o Herman José) que emigrou para os Estados Unidos e tem um montão de aventuras com perseguições a cavalo. Haveria uma cena épica numa cidade onde uma briga num salon alastar-se-ia para a cidade. Bons tempos em que imaginei estas coisas. E esta música era a banda sonora da briga.


Como é de esperar não vou ao concerto. Quando vieram cá pela primeira vez ainda pensei ir, mas no dia seguinte tinha um exame de acesso à universidade, salvo erro de matemática, que não havia hipótese. Nem cheguei a falar com os meus pais. Sabendo o resultado que tive, mais valia ter ido, acabei por não entrar e ter uma nota miserável...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Cem anos da implantação da República

Ora aqui está um assunto onde não sei o que pensar. A primeira reacção que tenho é: tanto me faz viver em república como em monarquia. Bem vistas as coisas temos sido mal governados tanto num como noutro regime.

Com estas celebrações tão intensas sou obrigado a pensar no assunto. Não queria, mas parece ser imperativo nacional dizer alguma coisa. Quanto mais celebram o centenário mais gosto da monarquia. Estarei a ser do contra? É possível.

Pelo que tenho visto a crise que o país vive hoje é parecida com a existente há cem anos. Estaremos perto de uma nova mudança de regime? Tipo muda o disco e toca o mesmo? Haverá no activo algum regime inovador para testarmos? Se houver, estamos lá batidos. Já fomos monárquicos nas várias modalidades, já fomos, e somos, republicanos, igualmente nas diversas modalidades, fomos invadidos, já corremos com os invasores, já criámos novos países, já fomos anexados e deixámos de ser país, já restaurámos a independência. O que nos falta? Sermos desenvolvidos, talvez.

O meu lado romântico deseja ter um Estado com uma família real, com aristocracia, títulos e coisas dessas. Mas isso é acessório, no fundo. Sinto falta de uma figura de estabilidade, alguém lá em cima no topo da nação que faça a ligação entre as gerações, entre o Estado e nós. Um pai da nação. Não no sentido cubano ou norte-coreano. O presidente Mário Soares representou perto do fim essa imagem. Como chefe de Estado não precisamos de um político, precisamos de uma figura de referência, alguém como disse que faça ligações e nos congregue à sua volta.

A monarquia tem os seus defeitos. A ideia de uma família por tradição familiar estar à frente da nação desagrada-me ligeiramente. Isso talvez ficasse melhor se o novo rei pudesse ser eleito por referendo. Seria rei durante a sua vida, excepto se renunciasse ou o povo o depusesse. Teríamos que ter um parlamento mais poderoso para contrabalançar com um primeiro-ministro igualmente forte. O povo devia ser mais interventivo. Talvez uma segunda câmara com representantes directos da população e o parlamento mais reduzido com os partidos. Segundo o professor José Hermano Saraiva Portugal teve uma monarquia municipalista. O poder estava mais perto das populações através dos municípios. Talvez isso devesse regressar. O monarca seria o ponto de estabilidade, ligaria o governo central ao parlamento e aos representantes dos municípios. Teríamos que participar mais na vida municipal, mas com a net e a videoconferência seria possível não?

A república vende a ilusão de que qualquer um pode ascender ao ponto mais alto do Estado. Em teoria, porque na prática quem é que lá chegou sem ter alguma posição social anterior? O actual presidente está perto desse ideal, mas os pais conseguiram que estudasse e chegasse a professor universitário. Quem não teve dinheiro para pôr a estudar o filho nunca o terá na presidência. A não ser no Brasil, mas o Lula é a excepção que confirma a regra. O partido comunista tem alguns deputados que vieram das classes mais baixas, mas se não forem autarcas à presidência nunca chegarão. A regra tem sido: quem tem família com dinheiro pode chegar lá, se escolher com cuidado o seu trajecto.

Como sou romântico pendo para a monarquia, mas se houvesse um referendo, não sei o que votaria. Acho que devia haver. Aí está uma fraqueza da república. Devia haver a liberdade se questionar a sua viabilidade. Foi mais fácil cem anos depois dois homens casarem do que o povo dizer se queria viver em monarquia ou república.

Para entrar nos festejos aqui fica música (foi muito mais fácil encontrar música com referências à monarquia do que à república, mais um ponto a favor daquela).

Começando pela aniversariante (só encontrei estes)

The Presidents of the USA - Lump




Aqui fica como a monarquia inspirou e inspira a cultura popular muito mais que a república

Green Windows - No Dia Em Que O Rei Fez Anos





Quarteto 1111 - A Lenda d'el Rei Dom Sebastião




Queen - 'Killer Queen'




Kings Of Leon - Mollys Chamber (é cómico vê-los cabeludos, barbudos e de bigode)




Queens Of The Stone Age - Little Sister (o solo de guitarra final é incrível)




Metallica - King nothing




Como estão a caminho do Pavilhão Atlântico: Guns N' Roses - Rocket Queen


Fico-me por aqui com uma Viva _____ (e cada um completa como quiser)!!!!!

domingo, 3 de outubro de 2010

Vigésimo Sétimo Domingo do Tempo Comum – Ano C

Se ouvísseis hoje a voz do Senhor, não endureceis os vossos corações. Cantámos hoje no salmo esta frase. As leituras de hoje apontam para a nossa abertura de coração, para o serviço, para a pacificação de saber-se cumpridor da vontade do Senhor.

No Evangelho Jesus diz aos discípulos que a fé é poderosa, caso estejamos abertos a ela. Caso tenhamos o nosso coração de acordo com a nossa missão. O prémio de sermos fieis é podermos fazer a vontade de Deus. Somos servos e a nossa função é servir.

Para servir temos que ter paciência, como é dito na primeira leitura, para esperamos e agirmos segundo a vontade e ritmo de Deus. Para isso devemos orar e vigiar (já Jesus dizia isso noutra passagem), quem é fiel a Deus acabará por compreender tudo o que se passa à sua volta e terá espaço para cumprir a sua parte.

A oração e a vigia serão alimentadas se fizermos o que São Paulo recomenda na segunda leitura a Timóteo. Tomar como modelo a Palavra de Deus e trabalhar para manter o Espírito Santo livre na nossa existência para nos fortalecer, alimentar e aumentar a nossa fé.

Conhecer a Palavra de Deus através da leitura assídua da Bíblia, da participação em grupos de partilha e estudo bíblico, é muito importante. Conhecer a Palavra ajuda na oração e no aprofundamento da fé, da relação com Deus, e por consequência no serviço.

sábado, 2 de outubro de 2010

Dracma perdido

Acho que não deixei transparecer aqui no blog uma certo desgosto e apreensão que vivi nas últimas semanas. Pouco antes de inaugurar o blog Silveira dei por mim sem saber onde estava uma pen drive, onde estava uma cópia dos primeiros capítulos e muito mais coisas que tenho escrito. Andei desgostoso. Procurei, por todo o lado onde a podia ter deixado, várias vezes. Convenci-me do seu desaparecimento definitivo e rezei para que não fosse parar a mãos erradas.

Ontem à hora de almoço fui comprar outra, resignado. Então não é que ao chegar a casa a minha mãe disse-me que a encontrou na máquina de lavar roupa! Pelos visto foi lá parar no bolso das calças e por lá ficou escondida estes dias todos. Esta pen drive tem uma tampa que protege a entrada e por isso a estadia estes dias todos no tambor da máquina, com tantas lavagens, não a danificou.

Foi uma alegria imensa. Lembrei-me logo da parábola da dracma perdida e de como a mulher ao encontrá-la chamou as amigas. Agora tenho duas pens e mais uma motivo para agradecer a Deus esta lição. Agradecer, pois por enquanto não sei o que é suposto aprender com ela. Uma coisa é certa, no meu desgosto cheguei a pedir informalmente (já que não sei o responso) a Santo António pelo paradeiro dela ou então pela sua destruição. Não é o objecto em si que me interessava, era o conteúdo, fruto do meu trabalho de escrita que ficava por aí, ao deus dará...