domingo, 31 de outubro de 2010

Trigésimo Primeiro Domingo do Tempo Comum – Ano C

O Evangelho de hoje termina com a afirmação de Jesus que veio para salvar o que estava perdido. Veio para salvar os que estavam afastados de Deus por responsabilidade próprio, mas também para os que estavam afastados por imposição da sociedade.

Para os primeiros, os que por várias razões se afastam de Deus por causa dos seus actos, a primeira leitura de hoje dá esperança e alento. Deus ama-nos a todos sem excepção. O ódio não faz sentido em Deus, pois Ele é todo Amor. Ele é somente Amor. O Seu Amor atrai-nos, perante Ele sentimo-nos penalizados, repreendidos e se por acaso sentimos abandono, talvez seja por causa de O termos abandonado e não o contrário. Deus criador não cria o mal, porque o amor não pode gerar ódio.

(A nível pessoal, a primeira leitura, dá-me a resposta para muitas superstições e crenças pagãs. O mal não pode ser algo com personalidade, nem demónios ou espíritos que vagueiem. Deus não pode criar ódio, se Ele é Amor. O mal é o uso egoísta da liberdade. O mal não pode criar nada, por isso não pode criar seres maléficos. Quando Jesus diz que do exterior não vem nada que torna o Homem impuro, quer dizer também que o mal vem de dentro, do tal mau uso da liberdade. Por isso não acredito em espíritos, possessões, bruxedos, demónios e coisas que tais. Até sobre os anjos tenho uma opinião restritiva. Anjo para mim não é um ser, mas uma mensagem de Deus. Qualquer pessoa pode ser um anjo se for mensageiro e mensagem de Deus.)

O Evangelho de hoje aborda numa primeira leitura os excluidos da sociedade. Zaqueu era um deles, chefe dos publicano, representava o judeu corrompido pelo poder de opressor de Roma. Para além disso era desonesto, abusava da sua posição de cobrador de impostos. Era odiado por todos. E vivia faustosamente. No entanto este judeu, Zaqueu, sentia um desejo enorme de ver Jesus. Representa aquela ambição que todos sente de serem felizes, de fazerem o bem. Ele sentia essa atracção e identificou-a na pessoa de Jesus. Quantos de nós sente essa atracção e identificam-na com deuses errados? O ser humano é um buraco à espera de ser preenchido.

Jesus ajuda quem verdadeiramente quer se aproximar Dele. Este episódio represente isso. Zaqueu não se deixou fechar pelo pecado socialmente atribuido e o próprio, esforçou-se, esqueceu o ridículo que era aquele homem, ricamente vestido, subir a uma árvore. A conversão pressupõe um esforço do convertido. E obteve uma recompensa muito maior do que esperava obter. Jesus quis passar a noite na sua casa. Jesus entrou na vida daquele pequeno homem de uma forma transformadora e radical. O que faríamos se Jesus quisesse passar a noite na nossa casa? O que fizemos quando isso aconteceu? Reconhecemo-Lo?

O convertido perante tamanha recompensa tem tendência a fazer gestos de gratidão. Zaqueu deu metade da sua fortuna e indemnizou todos os prejudicados pelos seus actos. A penitência é isso, um gesto concreto que mostra a nossa transformação. O que mostramos aos outros? O que o nosso coração agradecido e alegre mostra?

As leituras de hoje podem ser lidas de outra forma, principalmente o Evangelho. Qual é o nosso olhar? Será superficial como o da multidão que impedia Zaqueu de se aproximar? Ou será mais profundo como o de Jesus que viu para além das roupas? O ser humano é composto por qualidades e defeitos. Temos o nosso olhar treinado para ver para além dos defeitos? E das qualidades mais visíveis? O que fazemos perante alguém que nos desagrada?

É um bom treino pensar em alguém que nos desagrada, irrita, e procurar relativizar esses defeitos. Imaginar porquê que essa pessoa é assim. O que na sua história a levou por este caminho. Procurar coisas que tenhamos em comum. Muitas vezes vemos nas outras pessoas defeitos nossos. Depois podemos imaginar o olhar que Deus tem para com essa pessoa e fazer nosso esse olhar. Ao fim de algum tempo os defeitos dessa pessoa começarão a não nos afectar tanto. Aí percebemos que muitos dos nossos problemas e sofrimentos vêm da forma como olhamos os outros, nós próprios e o que nos acontece.

Sem comentários: