quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Votos para o ano novo

Estou a passar por aqui nesta última noite do ano de 2008 para desejar que o próximo seja muito melhor.

Não tenho resoluções de ano novo, nunca tive, e para mais estou neste momento a entrar numa fase nova da minha vida (vejam que iniciei este blog, comprei este portátil e liguei-me à net).
Por isso espero que tudo corra bem para mim e para todos neste novo ano que já começou no planeta há muitas horas.

Feliz 2009!!!!

Vida nocturna I

Nesta semana saí do emprego às sete da tarde/noite, às dezanove horas. Estava escuro como breu. Tanto podia ser as horas que eram como de madrugada, estava escuro, muito escuro. Desde o fecho do mês de novembro que tenho saído à dezassete, ainda de dia. Mais uma vez constatei o meu desconforto com a noite. E não é por causa do escuro em si, pois em casa estou muito bem às escuras, até durmo melhor se estiver completamente sem luz. O meu problema é que a noite não é o meu ambiente.

Praticamente contam-se pelos dedos de uma mão as vezes que saí ou cheguei a casa muito tarde. Até posso enumerá-las: fui a duas vigílias pascais que normalmente acabam depois da uma; estive no trabalho uma vez até às duas, há uns oito anos atrás; em Outubro estive até às onze. Fui a quatro ou cinco missas da Ceia do Senhor na Quinta-feira Santa que acabam entre as oito e meia e as nove.

Nunca fui a bares ou discotecas, a minha adolescência não teve amigos. Fiz algumas viagens de combóio para o Algarve de noite com os meus pais e fui uma vez com a minha mãe ao Terreiro do Paço assistir a uma festa onde tomei conhecimento da existência do grupo Fura del Baus.

Sim, não gosto da de andar de noite fora de casa. Não gosto de me deitar muito depois da meia-noite.

Sim, gosto de me levantar entre as sete e as oito, isto mais de inverno, pois no tempo quente gosto de acompanhar o sol.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Fecho do ano

Esta altura do ano, para muita gente, é tempo de festa e de férias. Quem pode viaja para locais mais quentes ou mais frios. Muita gente faz isso... excepto quem trabalha como eu numa multinacional, na área financeira e tem algum sentido de responsabilidade.

Até ao Natal até que pode-se viver o espírito festivo, mas daqui em diante só se pensa nos prazos, deadlines (palavra curiosa, linha da morte, linha mortal), nas tarefas que se precisa fazer e que só existem nesta altura do ano, nos inevitáveis atrasos, nas horas extra que somos obrigados a fazer, no próximo fim-de-semana que deverá ser passado a trabalhar e quem sabe parte do outro a seguir.

Nos fechos do mês e, sobretudo, no fecho do ano tenho pena de não trabalhar noutra área, numa área que não estivesse tão pressionada. Ou então devia trabalhar numa empresa normal, pequena que fecha o ano lá para Março...

domingo, 28 de dezembro de 2008

Regresso pós-natalício

Estou a escrever este post/mensagem/texto directamente do meu portátil no blog. É a primeira vez.

O Natal correu bem, não tive aborrecimentos e até vi resolvido um dos meus problemas tecnológicos: consegui pôr o gravador de dvd a gravar para discos. Fiquei contente. Senti como uma prenda do Menino.

Este sentimento reforçou-se mais ao perceber que só resolvi o problema do dvd através de uma consulta que fiz à net. Ficou tudo encadeado.

Também tenho reflectido sobre o tom em que escrevi os posts do Natal. Peço desculpa pelo tom sombrio, em parte deve-se ao meu desajustamento com a sociedade e em parte deve-se às dificuldades quem andava a ter e que aqui deixei patentes.

Decididamente prefiro escrever no outro teclado. Parece-me que vou escrever poucas vezes directamente aqui como hoje.

Boas Festas!!!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Natal... Na província neva

Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Stou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

(Notícias Ilustrado, n.º 29, 30 de Dezembro de 1928)

Chove. É dia de Natal.

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Mensagem

Deixo aqui dois poemas do Fernando Pessoa que tratam o Natal.

O "Natal na província neva" é dos poucos que sei recitar.

Ao outro acho piada pela desconstrução.

Desejo a quem ler isto um Santo Natal e que nasça na sua vida a Esperança!!!!

Outra história de Natal

Há seis ou sete anos, resolvi ser eu o Menino Jesus dos meus pais. Levantei-me antes deles e fui cumprimentá-los à cama. Discretamente deixei uma nota nos chinelos de cada um e uma lupa para o meu pai, pois estava a ficar com a vista fraca.

Foi muito giro. Ficaram muitos surpreendidos.

Uma história de Natal

Era uma vez uma menina de uma família de agricultores. A vida deles era repartida no trabalho das terras e no trabalho dos homens da casa na cidade. Não havia dinheiro para mais que o essencial. De vez em quando haviam dívidas. Depois vinham os trabalhos redobrados para as pagar.

Dos cinco irmãos, só a menina e o irmão mais velho andaram na escola. Uma outra irmã passou por lá e aprendeu o suficiente para escrever e ler. Na escola da menina havia meninas como ela, filhas de lavradores, e meninas de famílias mais ricas.

Por altura do Natal uma menina mais rica contou à menina que na noite de Natal punha o sapato na lareira e no outro dia havia lá prendas. Que o Menino Jesus descera pela chaminé e deixara lá o presente. A menina ficou a pensar no assunto e nessa noite resolveu deixar na lareira os tamanquinhos, sapatos era coisa que não tinha.

Na manhã de Natal foi à cozinha ver os seus tamanquinhos e a única coisa que havia era frio que sentia nos pés antes e depois de calçá-los.

A menina é a minha mãe e isto passou-se na década de quarenta do século XX no Alto Minho.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal

Eu, como muita gente, não sou lá grande apreciador do Natal. Gosto muito mais da Páscoa (neste aspecto já não devo ser tão acompanhado). Por tradição familiar, o Natal nunca foi uma festa. Tive sempre os meus natais só com os meus pais, não tive a sorte de pertencer a uma família unida e com uma avó aglutinadora. Actualmente a família materna está afastada de nós por desavenças, a paterna está longe e sem qualquer tradição de comemoração em conjunto.

Por isso a festa natalícia para mim resumia-se em criança a algum presente da empresa do meu pai, uma apetitosa caixa de sortido da Cuétara e alguma peça de roupa. Não era mau, os meus pais nunca tiveram sequer isso, mas em comparação com as outras crianças eu sempre estive à parte. Agora sei disso, na altura acho que não ligava, pelo menos até à adolescência. Outro ponto de interesse dos meus natais juvenis era a programação da televisão.

Houve uma fase em que o Natal como agora se vive perdeu totalmente a sua magia. Na adolescência percebi que os meus presentes não tinham qualquer graça e ficava triste. Depois deixei de pensar nisso, aproveitava a televisão e a melhoria das refeições.

Do ponto de vista religioso ainda não consegui entrar completamente no espírito da festa. Talvez por eu ser um pouco melancólico e depressivo, que me é difícil descobrir ano após ano motivos de redobrada esperança. É bem mais fácil viver intensamente a Quaresma e a semana Santa. Já a alegria da Páscoa custa a lá chegar, mas a Primavera ajuda e a teologia também.

Se calhar é por causa de ser muito fechado, de ser muito caseiro, de ser avesso a andar de noite na rua e achar dificuldades em sair mesmo de tarde é que o Natal, o verdadeiro Natal, o da Festa da Esperança me parece inacessível. O Natal para mim só teria verdadeiro sentido, religiosamente falando, se por exemplo na noite de consoada eu deixasse a minha casa e fosse ser voluntário para uma instituição de solidariedade, se fosse distribuir refeições pelos sem-abrigo da cidade.

O Natal atira-me à cara o meu comodismo, a minha cobardia e o meu pecado.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Poço de contradições

Parece que já tenho ligação à net móvel. Minutos antes de escrever estas palavras experimentei ligar-me e consegui.

Ainda não vou publicar a partir de casa por três razões:
1 – Quero ter a certeza que tenho ligação mesmo e como na véspera e Natal não trabalho, prefiro publicar no emprego;
2 – Gosto mais de escrever no meu velhinho computador de 1998. Gosto mais deste teclado e não apetece, ainda, ligá-lo ao portátil. Gosto mais desta versão do Word;
3 – Quero ter a certeza que já estou no serviço normal e não no plafond de promoção que com as duas ligações que fiz já vai a meio.

E se eu processasse o Estado?

Na semana passada ouvi, embora tenha sido na televisão, à hora de almoço ouço mais do que vejo, uma notícia que achei muito interessante. Os accionistas do BPP, pelo menos alguns, ponderavam processar o Estado por não exercido convenientemente a sua função de regulador dos mercados. Ele não exerceu essa função e os accionistas lucraram com isso, ou não?

Enfim, o que me levou a escrever agora foi esta ideia de processar o Estado por algo que ele devia ter feito e não fez. E apeteceu-me processar por meu lado o Estado pela má educação que me deu. Eu gostaria de ter um conhecimento e manejo da língua portuguesa bem melhor. Quem sabe se com uma melhor educação eu teria ido à universidade? Ou até teria seguido outro caminho?

Para me dar razão veio o eurodeputado Vasco Polido Valente, presidente do júri de um prémio literário, que na primeira edição desse concurso justificou em parte a não atribuição de qualquer menção devido à fraca qualidade das obras propostas. E essa fraca qualidade tinha por base a diminuição da qualidade do ensino nas últimas décadas.

Teria ou não teria motivos para processar o Estado?

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Frustração tecnológica IV

Após ter escrito estes três textos, falando do meu turbilhão emocional agora sinto-me bem mais aliviado e leve. Isto pareceu mesmo uma sessão de terapia, não que alguma vez tenha feito uma, e talvez precise, mas teve em mim o efeito que acho que teria se fosse a alguma.

Os problemas não desapareceram, mas os sentimentos estão mais apaziguados. Peço desculpa a quem algum dia leia este blog, sim ainda tenho esperanças que eu seja lido (pelo menos uma amiga minha que vai estar de férias nesta semana de Natal disse-me que iria ler), por ter estado a ler os meus desabafos. Mas no fundo a comunicação não é sempre um desabafo? Filosoficamente falando?

Frustração tecnológica III

Por fim, esta frustração é a que menos me apoquenta. O Office do meu portátil tem um prazo de 60 dias. Eu já devia calcular que era assim, mas talvez por causa do entusiasmo da compra não reparei nisso.
Na verdade pretendo continuar a usar o meu pc de 1998 para o que normalmente uso, ou seja, escrever. Na altura o vendedor arranjou-me este Office e nunca precisei de renovar licença nem nada, também não tinha net, por isso não havia a possibilidade de actualizar. Enfim o que está, está, mas agora não quero usar licenças piratas ou alheias e não quero gastar mais dinheiro. A solução vai passar por quando o prazo expirar desinstalar o programa e sacar o Open Office que é de graça. O que me aflige é se não consigo converter os meus ficheiros de Word e Excel para os congéneres do Open Office.

Frustração tecnológica II

Para além da net ando obcecado com outro problema tecnológico. O meu leitor e gravador de dvd, que comprei há mais de um ano, tem funcionado bem sempre, mas nunca tinha experimentado gravar um disco. Por mais voltas que dê não encontro solução. Leio e folheio o livro de instruções e nada. Até parece que o aparelho é de outro modelo diferente do que vem no livro.

Já experimentei, usando o portátil, usar o disco dvd +rw já com um pequeno vídeo e o aparelho lê o disco, emite o vídeo e depois quando tento gravar alguma coisa para lá, não o faz. Na parte da configuração, onde se formata os discos, algumas opções estão desligada e não consigo encontrar uma forma de as ligar.

Já pensei em comprar outro disco de dvd virgem, mas de uma das marcas que vem lá referenciadas nas instruções.

Ora como já disse anteriormente, comprei o portátil mais para poder ver as gravações que faço de programas de televisão, contando que o meu gravador cumprisse a sua parte. Começo a ver este investimento todo a ficar sem propósito. É frustrante e irritante.
Por outro lado não posso ficar muito tempo na sala a fazer experiências e a investigar porque o meu pai pode começar a implicar.

Frustração tecnológica I

Neste momento estou vivendo um momento particularmente complicado do ponto de vista emocional. Devia estar aqui a anunciar que já tinha net, do tipo banda larga móvel, mas as coisas estão a correr mal.

Comprei o modem na Staples e quando abri a caixa estranhei que o cartão SIM estivesse separado do cartão maior, também estranhei os sacos estarem abertos, mas pensei que fosse talvez devido a alguma verificação que façam antes de porém à venda o produto. Tentei e tentei ligar-me e não conseguia, dava-me o estado sempre de desligado. Tive que ligar à assistência da TMN e descobri que o cartão já tinha sido usado em Julho e Agosto e que em Novembro tinha sido desligado. Repuseram-me 200 MB dos 250 que teria direito se o cartão fosse novo e consegui navegar um bocadinho. Isto foi na sexta-feira à noite. Hoje sábado o cartão está outra vez desligado.

Ainda relacionado com a net, fui hoje a uma loja da TMN para entregar o contrato de adesão, como a assistência ontem tinha dito, mas não pude porque ao contrário do que vem a dizer no interior da caixa, nos livrinhos, é necessário um comprovativo de residência. Como me aborrece ir lá outra vez, este assunto fica para ser tratado segunda-feira. Até lá estou sem net.

Para complicar-me mais os nervos estou convencido que não vou poder navegar o que queira, pois apesar de ir requerer o serviço com um tráfego de 2MB pela amostra de ontem esse limite facilmente será atingido. E no entanto vou pagar quase 30 euros.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Estatuto da Mulher

A Igreja Católica está a celebrar neste ano o nascimento de São Paulo há 2000 anos. Do dia 29 de Junho de 2008 até à mesma data do próximo ano está a celebrar-se então o ano paulino. Os bispos portugueses pediram ao Bispo Auxiliar de Lisboa, D. Anacleto de Oliveira, que elaborasse um roteiro para este ano. O resultado foi um livro chamado “Um ano a caminhar com São Paulo”. Desde esse domingo, dia 29, tenho lido um capítulo por semana, como é proposto. Nesta semana o capítulo aborda um assunto que sempre me incomodou: a forma como a mulher é considerada (ou desconsiderada) na Bíblia, no presente caso no pensamento de São Paulo.

Fiquei surpreendido, agradavelmente, com os esclarecimentos sobre a passagem, Ef 5, 21-33. Resumindo: São Paulo apela às mulheres que se submetam aos seus maridos e aos maridos que amem as esposas como a sim mesmos, usando como modelo a relação de Jesus com a Sua Igreja. O que sempre me incomodou foi a palavra submeter em relação às mulheres. Por causa do peso desta palavra não reparava no que era dito depois em relação aos maridos. E a passagem trata dos maridos muito mais extensamente do que para as mulheres.

Ora o que se passava na altura em que São Paulo escreveu a carta aos Efésios era que o estatuto da esposa era pouco mais elevado que o do escravo. Desta forma é absolutamente revolucionário que era proposto aos maridos: amar as esposas como aos seus próprios corpos, não de uma forma egoísta, mas porque as esposas fazem corpo com eles. Assim o marido não podia sentir-se e agir como dono da esposa, mas tratá-la como parte de si, como igual a si. Através do baptismo todos são iguais, homens e mulheres, o que faltava fazer era superar as barreiras culturais.

São Paulo tenta convencer os maridos usando o exemplo de Cristo e da Igreja, Ele é o marido e ela a esposa. Cristo pela Igreja deu a sua vida e ressuscitou para salvá-la. O esposo deverá amar a sua esposa de igual forma. Este amor, que não se resume ao sentimento romântico, considera tudo e todos superiores a si próprio.

Desta forma compreensível o pedido de submissão às mulheres, elas deviam substituir a submissão cultural pela submissão por amor cristão em igualdade com os seus maridos.

Desta forma é espantosa a ousadia de São Paulo, que me parece ter uma “má fama” na actualidade. Acho que não estou errado em dizer que São Paulo tem uma boa quota-parte de responsabilidade na melhoria da situação da mulher na civilização judaico-cristã.

Provavelmente a Igreja não conseguiu influenciar a Cultura o suficiente para que agora, 2000 anos depois, a mulher tenha um estatuto igual ao do homem. Tem sido um processo lento, demasiado lento, mas espero que seja ao menos seguro e irreversível.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Agora sim o assunto

E ele é o que me levou a comprar um portátil, tendo ainda um pc a funcionar, como agora se pode comprovar, já que estou a escrever nele.

A motivação principal foi o meu pai. Ele padece de uma doença demencial, talvez Alzheimer, já com algum avanço. Comporta-se como uma criança. E sabe-se lá porquê eu sou um motivo para ele embirrar. Tudo o que digo é mentira. Se estou a ver televisão e chega à sala é muito provável que vá meter-se comigo e isso significa dar-me pequenos empurrões, fazer cócegas, que de cócegas só têm o nome, pois aleijam, se estou sentado, pode querer apoiar-se em mim e querer tapar-me o nariz, sei lá, uma infinidade de pequenas coisas que moem o juízo.

Quando ele vai se sentar os problemas não acabam, pois se estou a ver algum programa ou filme estrangeiro começa a implicar que não entende o que dizem, porquê que vieram para cá, que a televisão só dá coisas que não prestam, enfim se quero estar sossegado e atento, não posso.

Por fim, ultimamente tenho notado que ele não compreende que o que se passa na televisão não real, ou seja, para ele aquele vidro é uma janela, literalmente e se há tiros e distúrbios, eles podem vir para cá. Isto é motivo de tensão para o meu pai e depois não dorme de noite, não sabe porquê, mas os nervos estão lá.

Isto aconteceu recentemente quando numa noite estive a ver alguma cenas do Matrix Reloaded, as de acção, pois passou a noite toda agitado e no dia seguinte levantei e deparei-me com a cena de ele andar à procura da roupa para pôr dentro de um saco, para voltar para a casa dele, a casa da sua juventude.

Como tenho um gravador de dvd, vou gravando para o disco interno os programas que quero ver, mas como a maioria é estrangeiro e podem ter cenas de acção, nada sito posso ver na sala. Assim, como pensava em vir a ter internet em casa (e isso poderá ser um assunto para mais tarde) decidi comprar um portátil com leitor e gravador de dvd. Passo os programas para um dvd rw e visiono-os no portátil.

Oportunidade perdida ou uma reflexão sobre o acto de escrever num blog

Podia ter continuando no post anterior para dizer o que quero dizer aqui, mas no fundo o assunto é outro e assim diminuo o tamanho dos posts.

(tenho que encontrar uma palavra nacional para post. “Mensagem” é muito grande e não me parece reflectir bem o espírito da coisa. “Dito” tem um bom tamanho, será que funciona? Vou experimentar:

Podia ter continuado no dito anterior para dizer o que quero dizer aqui, mas no fundo o assunto é outro e assim diminuo o tamanho dos ditos.

Soa esquisito. Vou tentar com a “mensagem”:

Podia ter continuado na mensagem anterior para dizer o que quero dizer aqui, mas no fundo o assunto é outro e assim diminuo o tamanho das mensagens.

Soa melhor, mas é uma palavra grande. Que chatice!)

Com este entre parêntesis já tenho um texto grande de mais para ir ao assunto que queria abordar.

Já estou mais moderno

Sim, é verdade. Após um aturado processo de reflexão lá consegui decidir-me e comprei um portátil. Comprei um que está a meio caminho entre os normais e aqueles mais pequeninos da família do Magalhães. A nível informático acho que de 2008 fica marcado pela democratização dos portáteis, há para todos os gostos e carteiras. A moda agora são os pequeninos. O meu está a meio caminho tem um écran de 13”.

Agora falta decidir-me por um serviço de internet. Avizinha-se mais um longo processo de maturação. O pior é que o mercado está em constante mudança...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Paranóias de um pedestre

Na sequência do meu post sobre os roubos, lembrei-me de situações que tenho vivido. Felizmente nunca fui assaltado e espero continuar com essa felicidade até ao fim.

A minha, se calhar, paranóia leve-me a ter em atenção se quando vou na rua estou a caminhar muito perto de alguém ou não. Já me aconteceu de repente aparecer-me alguém a caminhar à minha frente que por acaso está tomar o mesmo rumo que eu estou a levar. Começo a pensar se a pessoa não vai começar a pensar que estou a segui-la e faço os possíveis para trocar de passeio, atrasar-me até atingir uma distância mínima de conforto.

É pior se essa pessoa é uma rapariga interessante. Para além da perturbação da situação, ainda por cima há perturbação boa causada por ela. Pior do que pensarem que sou um possível gatuno, é cair sobre mim a suspeita de faltar a o respeito para com uma rapariga. Por outro lado, causa-me incómodo que a rapariga pense que estou a segui-la porque sinto-me atraído por ela. Naquele momento dou por mim a preferir que ela nunca tivesse aparecido.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Ilha Paraíso

Há dias na SIC vi uma reportagem com um título parecido ao deste post. A reportagem era sobre uma família alemã de ecologistas radicais que vivem em Marvão. O seu modo de vida é bastante diferente do habitual, pode-se dizer que vivem como se fossem uma tribo primitiva. Não cozinham os alimentos e por isso não comem carne. Não vivem numa casa, mas em cabanas quando chove ou faz frio, o resto do tempo dormem ao relento. As crianças não são vacinadas, ajudam os adultos no trabalho das hortas. São os pais que ensinam a ler, a escrever e as fazer contas. Em suma a família vive do que a natureza dá.

Este tipo de estilo de vida atrai-me porque na sua essência está a harmonia com a natureza, a coragem de criar o Paraíso na Terra. Atrai-me, mas não me convence. Quando me ponho a imaginar como seria a minha vida daquela maneira, vejo logo um problema no que diz respeito às crianças. Neste cenário só me via nele se estivesse acompanhado e obviamente viriam filhos ao mundo. E eu pergunto: tenho o direito de privar os meus filhos das ferramentas básicas para sobreviver nesta sociedade de onde estou a sair? Porque seria muito difícil que eles durante a sua vida não precisassem de interagir com a sociedade geral. Onde é que eles irão encontrar companheiros para fazer família que partilhem o mesmo estilo de vida? Temos o direito de privar os nossos filhos de vacinas? Aquelas crianças da reportagem, enquanto forem crianças estão protegidas em parte porque não podem sair do espaço da propriedade, mas e depois?

É muito bonito quando o casal inicia uma vida a dois desta forma, mas quando os filhos forem adultos estarão totalmente condicionados. Ou viverão desta forma, ou serão totalmente desajustados da sociedade que os envolve. Eu acho que este tipo de vida só deverá ser adoptada por adultos já com filhos criados ou por celibatários.

Outro obstáculo que encontro é que sendo eu católico não posso prescindir da comunidade. Ou seja, mantendo-me católico eu teria que continuar a frequentar a igreja, participar dos sacramentos, ser membro. Este tipo de mudança de vida pressupõe um corte com o passado, viver só para este ideal. Na reportagem afloraram por alto a vivência religiosa da família. Acho que o chefe da família personificava o líder religioso. Mas não é a mesma coisa. Pelo menos para mim.

Como sou um poço de contradições, apesar de não desejar para os meus possíveis descendentes este tipo de vida, terei pena se devido a esta reportagem as autoridades portuguesas resolvam interferir no estilo de vida daquela família. Eles só aceitam a lei da natureza e da Deus. Não me espantaria que surgisse uma ordem de tribunal para tirar as crianças daqueles pais, que as obriguem a vacinar-se, que sejam obrigadas a ir à escola ou que lhes estraguem a inocência que têm.

Espero que a Ilha Paraíso não se transforme em Continente Inferno.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Reflexão

Desta experiência de ter um blog estou a perceber duas coisas: que escrevo mensagens muito grandes e que ninguém excepto eu vem cá.

É bastante estranho eu escrever posts longos quando normalmente nos blogs que visito aprecio a concisão e o poder de síntese. Antes de me preocupar com o tamanho, eu procuro expor claramente o que quero dizer. Se o consigo, isso é outro assunto.

Talvez por causa do tamanho dos meus textos ninguém parece por cá. Talvez seja porque ainda não coloquei links para outros blogs. Talvez seja porque não fui a esse blogs convidar para pertencer aos links deles. Talvez porque só disse a uma amiga, cujo tempo para vir cá é curto, que tinha iniciado um blog. Talvez porque não configurei o blog da melhor forma para ser descoberto.

A bem da verdade tenho muito pouco tempo para pesquisar ferramentas para melhorar este sítio. Até agora tenho escrito em casa e no dia seguinte dou um pequeno salto aqui, publico e agendo as mensagens. Esta por exemplo está ser escrita no dia 10 e só será publicada lá para 13 ou mais tarde.

Eh, pá, este post já está maior que o primeiro. Não há maneira de escrever menos.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Sempre alerta

Estou a escrever isto na quinta-feira, dia 11. Há pouco mais de uma hora uma vizinha minha foi roubada aqui ao pé do prédio. Ouvimos os gritos dela. Depois o choro. Sentiu alguém por trás, virou-se e sentiu o esticão que a derrubou. Não conseguiu ver o aspecto do ladrão. Estamos abalados com o sucedido.

Se já antes era difícil sossegar a minha mãe quando vinha mais tarde do trabalho, ou quando na noite de Sábado Santo pretendo ir à vigília Pascal, agora vai ser ainda mais difícil. Eu por norma não ando de noite, nunca andei. Nunca fui a uma discoteca ou bar. Nunca tive amigos que me levassem. Não aprendi a descobrir o encanto da vida nocturna. Para mim a noite é para estar em casa, escrever e dormir. Gosto de me levantar cedo, o dia para mim só é bem aproveitado se começar cedo.

O preocupante é que às oito da noite não é assim tão tarde. Todos os finais e inícios do mês têm para mim a marca das horas extraordinárias. Como trabalho na área financeira, temos que cumprir prazos apertadíssimos e não há outra hipótese se não trabalhar mais um pouco. É habitual sair às sete ou às oito, mais do que isso não quero, não tenho autocarro directo para cá. Com o final do ano a aproximar-se lá vou ter mais uma fonte de tensão (há que habituar-nos a usar tensão em vez de stress). Certamente a minha mãe vai pressionar-me para evitar as horas extra (para mais que a empresa quer cortar nestes custos, mas isto será história para outro post mais tarde).

Amanhã vou alertar a minhas colegas para só levarem nas malas coisas que não sejam vitais. Nunca deviam andar com dinheiro e documentos nas malas. A roupa das mulheres é tão criativa. Façam como eu, deixo aqui também o apelo, usem pequenos porta-moedas que possam caber num bolso das calças (de preferência nos bolso da frente). Para os documentos usem carteiras de homem nos bolsos interiores de casacos ou kispos. Nas malas levem tudo o resto. Se forem assaltadas, ao menos não perdem os documentos e o dinheiro. E se puderem prescindir de toda a “tralha” que enche as malas melhor, os ladrões preferem atacar que tenha malas, lembrem-se disso!!!

Por fim, e isto aplica-se a mulheres e homens, estejam sempre alerta. Não andem na rua como se fossem de passeio, principalmente em ocasiões de rotina do dia-a-dia. Façam um reconhecimento da rua onde estão a entrar. Prestem atenção aos sons que vêm da retaguarda (não usem auscultadores, protegem a vossa audição e ficam mais atentos ao que se passa).
Atenção sempre!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A pomba

Este post não tem nada a ver com a novela de Patrick Süskind, apesar do texto. Aqui ninguém anda assombrado por nenhuma pomba ou pombo, nem pensa radicalmente mudar de casa por causa dela ou dele.

A pomba de que vou falar é o mais recente animal de estimação da minha mãe. O nosso prédio tem uma escada de segurança por cada grupo de fracções. Essa escada dá para uma janelinha em cada apartamento e forma um patamar em casa piso.

Entre Outubro e Novembro a minha mãe começou a reparar numa pomba (usamos o feminino, mas não sabemos ao certo se é fêmea ou macho) que vinha passar o tempo no nosso patamar. A minha mãe teve pena dela, ou seja, não recebeu nenhuma pena da própria ave, mas sentiu aquele sentimento ao qual chamamos “pena”. O animal parecia debilitado e tinha uma espécie de tumor entre o bico e o olho direito. A minha mãe começou por dar-lhe água. E que sede a pobre ave tinha. Depois da água começou a dar pão molhado e arroz ocasionalmente.

Quase dois meses depois o suposto tumor já não existe, as penas estão a mudar de cor, ou seja, as velhas estão a cair e outras a nascer. Por causa destas novas penas estou convencido que a pomba era ainda um borracho (gostaria de manter a concordância do género na frase, mas dizer que a pomba era ainda uma borracha é bem mais esquisito). Actualmente possui já um indicativo colar de penas escuras, aflorando já algumas com aquela cor que anda pelo verde, roxo ou azul na zona do papo. O resto do corpo ainda está com pena brancas e algumas cinzentas.

Neste fim-de-semana prolongado pude perceber que a nossa amiga alada passa grande parte do dia no nosso patamar (outro sinal da sua juventude, por um lado procura a segurança de um lar, por outro os impulsos da natureza ainda estão adormecidos). Vem bastante cedo e fica sempre à espera que a minha mãe lhe dê de comida ou água. Entretanto vai adubando o nosso metálico patamar, que a minha se vê obrigada a lavar diariamente se não chover.

Elas, a minha mãe e a pomba, têm um acordo, enquanto a segunda outorgante continuar a vir sozinha, a primeira continuará a alimentá-la.

Outro picante desta relação (e o adjectivo tem a sua piada no contexto) é a existência do nosso gato, que obviamente não é parvo e já reparou que há um animal mais pequeno que ele, e por isso passível de ser caçado, a frequentar aquela janela. Por isso durante o dia não é raro vê-lo patrulhando e vigiando aquela janela, que está perto da mesa, onde monta posto. Se ele já deu marradas noutra janela por causa de um pardal, o que faria por uma pomba?

Enfim, desconfio que esta história não vai ficar por aqui...


Nota: qualquer semelhança com o estilo de escrita do escritor José Saramago neste post não é coincidência, pois estou a reler A Jangada de Pedra.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Não quero ser Cristiano Ronaldo

Depois deste título carregado de marketing, passo a explicar que o que pretendo dizer é que se pudesse voltar a ter vinte e poucos anos não teria. Curiosamente apercebi-me disso durante um jogo da selecção ainda antes do Europeu deste ano.

O futebol cada vez interessa-me menos. Ou é dos jogos que vejo e que não têm qualquer interesse, ou mesmo de mim que não tenho o bicho do jogo da bola. Por isso nesse jogo em vez de estar a vibrar, comecei a imaginar-me na pele daqueles miúdos. Sim, miúdos, pois a maioria, se não todos, são mais novos do que eu.

Recordei o que era a minha vida com a idade deles. Com a idade do Ronaldo andava eu desesperado à procura de um emprego, escrevia poemas deprimentes, sonhava muito e com muito, mas era inseguro, ligeiramente menos do que agora. Não podia imaginar as feridas que iria sofrer, nem as reviravoltas que o meu mundo sofreu. Espiritualmente era quase uma pessoa diferente, um feto quase.

Não, não queria ser eu com a idade do Ronaldo, muito mais com o sucesso e brilho que ele tem. Terei alguma vez esse brilho, mesmo que seja na minha área? Não, sei. Isso é daquelas coisas, como as feridas e reviravoltas, que não se pode saber se e quando virão.

Pela primeira vez em muito tempo, depois daquele jogo quando comecei a pensar sobre aquela sensação que tive, senti-me bem comigo próprio... e estava a passar um momento difícil a nível familiar.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Um modelo de ser humano

Ontem, dia 8 de Dezembro, foi o dia da festa da Imaculada Conceição da Virgem Maria. Penso que seja feriado em Portugal porque é a principal padroeira do país. Não sei bem se foi o primeiro rei após a Restauração, ou de outro depois, que decidiu não usar mais a coroa de rei para entregá-la a Nossa Senhora. Desde então passou a ser nossa Rainha e padroeira.

O culto mariano é bastante antigo e profundamente enraizado na nossa cultura. Até um certo ponto não sei se esta devoção não vem de tempos muito anteriores à existência terrena de Nossa Senhora. O cristianismo veio ocupar o lugar de muitas práticas pagãs. Não parece estranho pensar que os povos transferiram a devoção a divindades femininas para a Virgem Maria. Do ponto de vista simbólico a Virgem e as deusas partilham temas parecidos: a fertilidade nelas, ser mãe do Salvador em Maria.

Nossa Senhora é mais do que isso, mas no dia de hoje o facto de ser mãe do Messias é o mais importante. Há muita gente que duvida da virgindade de Maria. É um tema problemático. Mas o mais engraçado é que a Igreja (o conjunto dos baptizados e não só o clero) desde muito cedo considerou Maria, mãe de Jesus, Virgem e sem pecado desde a concepção, ou conceição.

Todo o olhar que dedicarmos a Maria deveria ter em vista, não ela própria, mas o seu filho. Jesus o centro da fé dos cristãos é que determina tudo o resto. Jesus que ressuscitou revelando-Se desta forma como inteiramente Deus, revelou a Sua completa humanidade ao morrer. O que morre teve que viver, teve que nascer. Jesus Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus (e não tenho qualquer dificuldade em aceitar este facto, ao contrário de muitos neo-gnósticos que procuram códigos e cálices escondidos, porque concedo a Deus a possibilidade de a Ele tudo ser possível), nasceu de uma mulher, não seria homem se isso não acontecesse, mas também não seria Deus se nascesse de uma gravidez como as outras. Não seria Filho de Deus se tivesse nascido da união de um homem com uma mulher. Por isso não seria de espantar que Ele nascesse de uma Virgem, pois não? Se Deus é a origem de tudo, também pode ser a origem da gravidez virginal de Maria. E porquê Maria? Porque ela não estava tocada pelo pecado original. Eu olho para o pecado original e não vejo aquela cena da maçã, mas vejo esta capacidade de fazermos ou escolhermos o pior caminho.

A mãe do Messias, do Salvador, próprio Deus, logicamente teria que ser isenta de pecado original. Deus para enviar o Seu Filho interferiu silenciosamente na História dando origem a uma mulher em tudo igual às outras, excepto na herança ancestral do pecado. Será assim tão difícil de entender?

Se quisermos, podemos até ver sob um ponte de vista mecânico. Deus ao longo dos tempo foi criando uma relação cada vez mais estreita: aliança com Abraão, a Lei através de Moisés, a acção educadora dos profetas, as quedas e reconciliações; todos estes elos vieram desaguar na Encarnação do Seu Filho. A Imaculada Conceição de Maria foi só mais um elo dessa imensa cadeia.

Por isso mesmo a virgindade de Maria está muito, muito mais relacionada com a ausência de pecado do que com o pormenor físico. Maria é Virgem porque não foi tocada pelo pecado, porque não foi infiel a Deus, porque não fugiu, porque deixou Deus actuar na sua vida. É por isto que ela é um modelo a seguir por cada ser humano: tentar ser como ela e deixar Deus actuar na História através da nossa existência.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A amiga do autocarro

Continuando a falar das minhas viagens de autocarro, durante muito tempo de manhã havia uma senhora que entrava duas paragens antes de eu sair, que desenvolveu uma técnica interessante para ir sentada. Talvez seja tão observadora como eu, mas ao fim de algum tempo deve ter reparado que eu, que vinha normalmente sentado, saía pouco depois de ela entrar e colocava-se estrategicamente perto para que assim que me levantasse ela ocupasse o lugar.

É natural que ao fim de algum tempo eu acabasse por reparar na estratégia. Intimamente comecei a jogar um jogo que consistia em deixar-me ficar mais tempo sentado do que o habitual. Levantava-me mesmo perto de chegar à paragem. Outras vezes ia para a porta mais cedo. Ela conseguia na maioria das vezes sentar-se no lugar onde eu vinha.

Naquela época havia uma colega de trabalho que morava perto da minha casa. Nós acabámos por nos rimos bastante da situação. A minha amiga era uma mulher de peso, não obesa, mas de ombros largos, robusta, transmitia a imagem de alguém de peso. Ao deslocar-se no autocarro raramente conseguia não tocar em alguém. Se por acaso não conseguia ficar perto de mim e ficava em pé a meio do veículo, reparei que ela tinha dificuldade em manter-se equilibrada. Mais um sinal de peso.

Ultimamente não a tenho visto. Das últimas vezes reparei que, em vez de ir para o autocarro, dirigia-se para a estação de metro que há ali perto. Durante o tempo em que ela era a minha amiga consegui ficar a conhecer as filhas, ambas também mulheres de peso e altas.

Ai, o amor!

Eu sou daqueles privilegiados que trabalha relativamente perto de casa e passo pouco tempo na viagem de autocarro. Do meu emprego até à paragem é uma caminhada de cinco minutos e já de longe vou controlando a avenida onde ele passa a fim de saber se já passou ou não.

Há dias trabalhei até mais tarde e tinha acabado de sair da empresa quando vi o autocarro, lá longe, a passar. Pronto, só daqui a quinze ou vinte minutos passa outro, pensei eu. Como sempre mantive o meu ritmo habitual, não vá aparecer um desgarrado.

Quando cheguei à paragem estavam poucas pessoas. Nesta paragem passa outro autocarro para além do meu. Habitualmente são poucas as pessoas que esperam pelo meu.

Nesse dia reparei num casalinho de namorados. Era óbvio que esperavam por um autocarro, mas estava fora da paragem. Veio o outro autocarro e toda a gente encaminhou-se para ele. Eu fui colocar-me na posição de esperar pelo outro no início imaginário da fila. Reparei no beijo de despedida do casal. Ele partia e ela ficava. Reparei que o motorista estava a dizer a um passageiro que não ia até ao fim. O rapaz pelos visto ia até lá, por isso desistiu de entrar e chamou pela rapariga que já ia embora rua a baixo. Achei curioso o chamamento – com um assobio.

Eles voltaram para a paragem. Ficámos só nós. Eles andaram por ali. Como não tinha mais nada para fazer foi mirando-os discretamente. A única forma de não reparar neles seria sair dali. Fui ficando. Também não incomodaram e sempre era uma companhia.

O meu autocarro demorava e veio mais um dos outros. Na paragem só estávamos nós. O casal começou a despedir-se. Começou e continuou num longo beijo. O autocarro aproximou-se e pensei: se não fazem sinal o autocarro ainda passa e não para. O autocarro abrandou. Pensei: estão com sorte, vai sair alguém. Não seria estranho. O beijo continuou e o autocarro passou devagar, mas não parou. O rapaz deu pelo autocarro já tarde. E eu ri-me.

Ai, o amor! Tanto queriam prolongar a despedida. Tanto queriam aproveitar os últimos segundos, que os segundos se transformaram em minutos.

Talvez devesse os ter avisado de que o autocarro vinha ali. Ou fazer sinal para parar. Mas também não tinha a certeza que queriam apanhá-lo. O rapaz poderia ter entrado no outro só para saber para onde ia.

Uns minutos depois veio o meu finalmente e o casalinho lá ficou.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Conversa com a torneira

Uma amiga minha desencantou, não quero saber de onde, um de curso de japonês em mp3. Tem sido engraçado ir ouvindo os ensinamentos e ir repetindo. Já tentámos dialogar e acabamos na risota.

Anteontem, depois do jantar, estava a lavar a louça (sim, eu lavo a louça – de vez em quando) e resolvi aproveitar aquele tempo para ir treinando com os fones nos ouvidos. A dada altura dou conta que a minha mãe, que não sabia deste meu interesse pelo japonês, estava parada à entrada da cozinha a tentar perceber o que eu estava a dizer. Eu ri-me e expliquei-lhe. E mais me ri, quando ela disse que realmente estava a estranhar ver-me a falar para a torneira coisas que não percebia.

Não sei se aprenderei grande coisa de japonês, mas que até agora tem valido umas boas risadas, isso tem.

Ai senhor doutor

No meu trabalho, quando tenho que tratar algum assunto com um colega, que possua uma cadeira em frente à sua secretária, costumo fazer a cena de uma consulta médica e digo: “Ai, senhor doutor, estou tão mal!”.
Também posso imaginar estar perante um advogado: “Ai, senhor doutor, estou tão tramado!”.

Imagino então agora que me abeiro de uma secretária com uma cadeira à frente e alguém do outro lado e digo: “Ai, senhor doutor, passa-se algo de errado comigo!”.

Sim, passa-se algo comigo. Provavelmente também com muitas outras pessoas. O meu problema é o frio. Suporto muito mais o calor extremo do que este frio que Lisboa está a passar. Arrefecem-me as mãos e os pés. Mal saio da cama corro risco de saudar o novo dia com uma salva (violenta) de vinte um espirros. Se não é no quarto, será na casa de banho. Se por ventura nem num nem noutro local, quando regresso ao quarto para me aprontar para sair volto a estar em perigo.

E pergunto-me, biologicamente não estarei adaptado a este clima? Vivi toda a minha vida aqui. Sou descendente de descendentes de portugueses, excepto um bisavô ou trisavô galego. Como é que ando bem com trinta, trinta e cinco graus e com dez ou seis (bem agasalhado) é este drama? Não terei a roupa indicada para este clima? Os edifícios é voz corrente que não estão. Porquê que temos esta ideia tão enraizada na nossa cultura que somos um país mediterrâneo, quase, quase africano? E isto não é só de agora (as mudanças climatéricas têm muitas responsabilidades), pois uma grande parte das construções da cidade têm mais de quarenta anos, pelo menos a minha tem.

Ai, senhor doutor, deverei mudar-me para os trópicos?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Há dez anos

Há dez anos iniciei um diário, agora inicio um blog.
Há dez anos comprei este computador onde escrevo, este ano comprei um telemóvel que não uso, que tem passado mais tempo desligado do que em uso.
Há dez anos comprei este computador sem modem pois não perspectivava fazer uso dele, agora queria ter acesso à net e tenho um computador mais que ultrapassado, mas que funciona e tenho pena de desfazer-me dele.
Há dez anos trocava de emprego, agora troquei de funções no mesmo emprego.
Há dez anos estava sozinho, agora sozinho estou.
Há dez anos iniciei o diário para criar a rotina de escrever todos os dias, mas também para manter um registo do que me ia acontecendo e o estado do tempo. Agora escrevo para comunicar com alguém. Quem sabe se daqui a dez anos não estou publicando um livro...

Não tenho a certeza se vou conseguir escrever regularmente aqui. Até porque tenho que escrever em casa primeiro e no dia ou dias seguintes publicar, entre um momento e outro posso mudar de ideias ou de vontade. E sempre existe a possibilidade de não encontrar nada para dizer.