quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A pomba

Este post não tem nada a ver com a novela de Patrick Süskind, apesar do texto. Aqui ninguém anda assombrado por nenhuma pomba ou pombo, nem pensa radicalmente mudar de casa por causa dela ou dele.

A pomba de que vou falar é o mais recente animal de estimação da minha mãe. O nosso prédio tem uma escada de segurança por cada grupo de fracções. Essa escada dá para uma janelinha em cada apartamento e forma um patamar em casa piso.

Entre Outubro e Novembro a minha mãe começou a reparar numa pomba (usamos o feminino, mas não sabemos ao certo se é fêmea ou macho) que vinha passar o tempo no nosso patamar. A minha mãe teve pena dela, ou seja, não recebeu nenhuma pena da própria ave, mas sentiu aquele sentimento ao qual chamamos “pena”. O animal parecia debilitado e tinha uma espécie de tumor entre o bico e o olho direito. A minha mãe começou por dar-lhe água. E que sede a pobre ave tinha. Depois da água começou a dar pão molhado e arroz ocasionalmente.

Quase dois meses depois o suposto tumor já não existe, as penas estão a mudar de cor, ou seja, as velhas estão a cair e outras a nascer. Por causa destas novas penas estou convencido que a pomba era ainda um borracho (gostaria de manter a concordância do género na frase, mas dizer que a pomba era ainda uma borracha é bem mais esquisito). Actualmente possui já um indicativo colar de penas escuras, aflorando já algumas com aquela cor que anda pelo verde, roxo ou azul na zona do papo. O resto do corpo ainda está com pena brancas e algumas cinzentas.

Neste fim-de-semana prolongado pude perceber que a nossa amiga alada passa grande parte do dia no nosso patamar (outro sinal da sua juventude, por um lado procura a segurança de um lar, por outro os impulsos da natureza ainda estão adormecidos). Vem bastante cedo e fica sempre à espera que a minha mãe lhe dê de comida ou água. Entretanto vai adubando o nosso metálico patamar, que a minha se vê obrigada a lavar diariamente se não chover.

Elas, a minha mãe e a pomba, têm um acordo, enquanto a segunda outorgante continuar a vir sozinha, a primeira continuará a alimentá-la.

Outro picante desta relação (e o adjectivo tem a sua piada no contexto) é a existência do nosso gato, que obviamente não é parvo e já reparou que há um animal mais pequeno que ele, e por isso passível de ser caçado, a frequentar aquela janela. Por isso durante o dia não é raro vê-lo patrulhando e vigiando aquela janela, que está perto da mesa, onde monta posto. Se ele já deu marradas noutra janela por causa de um pardal, o que faria por uma pomba?

Enfim, desconfio que esta história não vai ficar por aqui...


Nota: qualquer semelhança com o estilo de escrita do escritor José Saramago neste post não é coincidência, pois estou a reler A Jangada de Pedra.

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