Com estas celebrações tão intensas sou obrigado a pensar no assunto. Não queria, mas parece ser imperativo nacional dizer alguma coisa. Quanto mais celebram o centenário mais gosto da monarquia. Estarei a ser do contra? É possível.
Pelo que tenho visto a crise que o país vive hoje é parecida com a existente há cem anos. Estaremos perto de uma nova mudança de regime? Tipo muda o disco e toca o mesmo? Haverá no activo algum regime inovador para testarmos? Se houver, estamos lá batidos. Já fomos monárquicos nas várias modalidades, já fomos, e somos, republicanos, igualmente nas diversas modalidades, fomos invadidos, já corremos com os invasores, já criámos novos países, já fomos anexados e deixámos de ser país, já restaurámos a independência. O que nos falta? Sermos desenvolvidos, talvez.
O meu lado romântico deseja ter um Estado com uma família real, com aristocracia, títulos e coisas dessas. Mas isso é acessório, no fundo. Sinto falta de uma figura de estabilidade, alguém lá em cima no topo da nação que faça a ligação entre as gerações, entre o Estado e nós. Um pai da nação. Não no sentido cubano ou norte-coreano. O presidente Mário Soares representou perto do fim essa imagem. Como chefe de Estado não precisamos de um político, precisamos de uma figura de referência, alguém como disse que faça ligações e nos congregue à sua volta.
A monarquia tem os seus defeitos. A ideia de uma família por tradição familiar estar à frente da nação desagrada-me ligeiramente. Isso talvez ficasse melhor se o novo rei pudesse ser eleito por referendo. Seria rei durante a sua vida, excepto se renunciasse ou o povo o depusesse. Teríamos que ter um parlamento mais poderoso para contrabalançar com um primeiro-ministro igualmente forte. O povo devia ser mais interventivo. Talvez uma segunda câmara com representantes directos da população e o parlamento mais reduzido com os partidos. Segundo o professor José Hermano Saraiva Portugal teve uma monarquia municipalista. O poder estava mais perto das populações através dos municípios. Talvez isso devesse regressar. O monarca seria o ponto de estabilidade, ligaria o governo central ao parlamento e aos representantes dos municípios. Teríamos que participar mais na vida municipal, mas com a net e a videoconferência seria possível não?
A república vende a ilusão de que qualquer um pode ascender ao ponto mais alto do Estado. Em teoria, porque na prática quem é que lá chegou sem ter alguma posição social anterior? O actual presidente está perto desse ideal, mas os pais conseguiram que estudasse e chegasse a professor universitário. Quem não teve dinheiro para pôr a estudar o filho nunca o terá na presidência. A não ser no Brasil, mas o Lula é a excepção que confirma a regra. O partido comunista tem alguns deputados que vieram das classes mais baixas, mas se não forem autarcas à presidência nunca chegarão. A regra tem sido: quem tem família com dinheiro pode chegar lá, se escolher com cuidado o seu trajecto.
Como sou romântico pendo para a monarquia, mas se houvesse um referendo, não sei o que votaria. Acho que devia haver. Aí está uma fraqueza da república. Devia haver a liberdade se questionar a sua viabilidade. Foi mais fácil cem anos depois dois homens casarem do que o povo dizer se queria viver em monarquia ou república.
Para entrar nos festejos aqui fica música (foi muito mais fácil encontrar música com referências à monarquia do que à república, mais um ponto a favor daquela).
Começando pela aniversariante (só encontrei estes)
The Presidents of the USA - Lump
Aqui fica como a monarquia inspirou e inspira a cultura popular muito mais que a república
Green Windows - No Dia Em Que O Rei Fez Anos
Quarteto 1111 - A Lenda d'el Rei Dom Sebastião
Queen - 'Killer Queen'
Kings Of Leon - Mollys Chamber (é cómico vê-los cabeludos, barbudos e de bigode)
Queens Of The Stone Age - Little Sister (o solo de guitarra final é incrível)
Metallica - King nothing
Como estão a caminho do Pavilhão Atlântico: Guns N' Roses - Rocket Queen
Fico-me por aqui com uma Viva _____ (e cada um completa como quiser)!!!!!
1 comentário:
Amigo Jota, gostei da ideia de uma "segunda câmara com representantes directos da população e o parlamento mais reduzido com os partidos". A nível organizativo, é melhor haver partidos, ou grupos. Mas estes partidos tinham que ser reinventados (pelo menos, os portugueses), pois, ou se limitam a navegar ao sabor da maré, ou servem apenas de plataforma a personalidades ambiciosas.
"A monarquia inspirou e inspira a cultura popular muito mais que a república" - basta pensar que, no caso português, temos 100 anos de república e 700 de monarquia!
Enviar um comentário