Kássia, o seu comentário à minha reflexão sobre as leituras do domingo passado deu-me bastante que pensar, originou um longo e confuso texto, que rejeitei. Vou tentar de novo sob um prisma mais leve, mas temo que seja longo (e talvez confuso).
Então não é que estou perante um paradoxo? Sim, continuo a pensar o que escrevi, mas vejo-me forçado a dar-lhe razão. Se o blog aceitasse smile, era aqui que punha um. A frase citada “achar que os outros têm sempre mais razão do que nós” é muito forte. É natural que não posso dar sempre razão ao outro. E se ele me quer matar? Tenho dificuldade em aceitar, mesmo se fosse para manter a minha fé. Ainda estou muito preso a esta vida. Tenho um longo caminho interior de fé pela frente.
É um paradoxo, mas por outro lado vem dar razão à frase do blog, não vem? Afinal estou errado nas poucas opiniões que emito.
Fora de brincadeiras e malabarismos com as palavras. Realmente escrevi um frase forte. Mas a citação não tem a frase completa. Eu escrevi: “É desagradável ter como princípio de vida achar que os outros têm sempre mais razão do que nós, mas é uma forma de exercitar a humildade”. Acho que fica menos forte. Achar que os outros têm sempre mais razão é um exercício para a humildade. E vejo a humildade como uma forma de pacificação, o humilde não se importa que o outro seja superior, que tenha mais razão, porque humildemente reconhece a sua limitação. O que extrema a minha frase é a palavra sempre, não é? Concordo.
Eu tenho uma forma de escrita instintiva, normalmente com pouca reflexão anterior. Escrevo com o coração e com o instinto. Sou preguiçoso para estudar os assuntos, teologia, política, economia. Desta forma arrisco-me a errar e muito.
Eu defendo, mesmo esquecendo-me disso muitas vezes, que devemos dar oportunidade ao outro para expor a sua verdade. “Dar-lhe sempre mais razão” simboliza isso, ser humilde o suficiente para por em causa a minha verdade perante a verdade do outro. Concordo que devemos ser nem mais nem menos que o outro, pois somos todos iguais perante Deus e perante nós próprios, mas será isso mesmo assim? No fundo, no fundo, o nosso íntimo, subconsciente, sei lá, vai fazendo hierarquias. Por mais que racionalmente encontremos razões para defender essa igualdade, o coração humano vai arranjar forma de dar a volta à questão. Daí a recomendação de Jesus: orar e vigiar. Daí ser pedagógico considerar a razão do outro talvez mais certa que a minha. Vamos tentando.
Acho que estou a ser chato, mas queria chamar a atenção para o conjunto do meu texto. No parágrafo seguinte à frase citada eu falo de que talvez o melhor seja um meio termo. Não estar sempre a rebaixar-me, nem seguir cegamente um plano. Nem dar sempre razão ao outro, nem considerar-me superior por ser sempre certinho e cumpridor das regras. Falo em navegar à vista, ou seja, cultivar a humildade (e não a humilhação, que é outra coisa), mas sabendo que tenho uma tendência natural para ver-me maior do que sou. Ter a inteligência para entender os outros e a sabedoria de não me levar demasiado a sério.
Quanto à frase do blog. É mais a forma como me sinto em sociedade, do que forma como penso que os outros me vêem. Quando comecei há quase dois anos este blog era ainda mais a primeira hipótese. Acho que tenho agora mais auto-estima e uma melhor imagem de mim que tinha na altura. Encontrei pessoas que gostam do que escrevo e isso dá satisfação. Tento não embandeirar em arco. Mais incrível é encontrar pessoas que são minhas amigas somente pelo que escrevo, eu que penso ter várias falhas no capítulo da socialização (para perceber melhor o meu espanto ver o texto de amanhã). Estou mais confiante, por isso mesmo arrisco publicar o Silveira.
No entanto, apesar desta maior confiança, ainda sinto que não consigo manter uma conversa com a maioria das pessoas. Continuo a não conseguir manter algumas conversas sem ser interrompido com mudanças de assunto.
Vou contar um episódio que me marcou (talvez até tenha traumatizado). Uns dois anos antes da Expo 98 tive a oportunidade de concorrer a um recrutamento que a PT estava a fazer para a sua participação no certame. Fui chamado para testes numa empresa de recrutamento. O primeiro teste foi logo um debate entre vários candidatos perante um psicólogo. O objectivo era falar sobre a importância da Expo para o país. Devíamos falar e falar e falar. É claro que falei pouco. É claro que fui excluido. Perguntei ao psicólogo porquê e ele respondeu-me mais ou menos o seguinte: o que importava era mostrar iniciativa, capacidade de aguentar uma discussão, por mais inteligentes que fossem as minhas intervenções o que interessava era falar, era dominar o debate. Eu estava desempregado, foi muito duro. Nem cheguei aos testes psicotécnicos. Olhando para trás, ainda bem que foi assim. Provavelmente não estaria já na PT e talvez estivesse pior empregado do que estou agora. O que queria mostrar é que desde então percebi a minha limitação no discurso falado (maior do que a limitação no escrito, que existe), tantas vezes que tento entrar numa conversa e falho, ou atrapalho-me no que estou a dizer e alguém muda de assunto. É frustrante.
“Não tenho opinião muitas vezes e quando tenho estou errado” reflecte esta atitude, que é muito mais uma incapacidade, de dar razão aos outros e que por isso elimina muitas opiniões próprias. E quando as tenho por falta de hábito ou por ignorância ou por insegurança estou errado. E volto à palavra sempre, espero que não seja sempre.
Então não é que estou perante um paradoxo? Sim, continuo a pensar o que escrevi, mas vejo-me forçado a dar-lhe razão. Se o blog aceitasse smile, era aqui que punha um. A frase citada “achar que os outros têm sempre mais razão do que nós” é muito forte. É natural que não posso dar sempre razão ao outro. E se ele me quer matar? Tenho dificuldade em aceitar, mesmo se fosse para manter a minha fé. Ainda estou muito preso a esta vida. Tenho um longo caminho interior de fé pela frente.
É um paradoxo, mas por outro lado vem dar razão à frase do blog, não vem? Afinal estou errado nas poucas opiniões que emito.
Fora de brincadeiras e malabarismos com as palavras. Realmente escrevi um frase forte. Mas a citação não tem a frase completa. Eu escrevi: “É desagradável ter como princípio de vida achar que os outros têm sempre mais razão do que nós, mas é uma forma de exercitar a humildade”. Acho que fica menos forte. Achar que os outros têm sempre mais razão é um exercício para a humildade. E vejo a humildade como uma forma de pacificação, o humilde não se importa que o outro seja superior, que tenha mais razão, porque humildemente reconhece a sua limitação. O que extrema a minha frase é a palavra sempre, não é? Concordo.
Eu tenho uma forma de escrita instintiva, normalmente com pouca reflexão anterior. Escrevo com o coração e com o instinto. Sou preguiçoso para estudar os assuntos, teologia, política, economia. Desta forma arrisco-me a errar e muito.
Eu defendo, mesmo esquecendo-me disso muitas vezes, que devemos dar oportunidade ao outro para expor a sua verdade. “Dar-lhe sempre mais razão” simboliza isso, ser humilde o suficiente para por em causa a minha verdade perante a verdade do outro. Concordo que devemos ser nem mais nem menos que o outro, pois somos todos iguais perante Deus e perante nós próprios, mas será isso mesmo assim? No fundo, no fundo, o nosso íntimo, subconsciente, sei lá, vai fazendo hierarquias. Por mais que racionalmente encontremos razões para defender essa igualdade, o coração humano vai arranjar forma de dar a volta à questão. Daí a recomendação de Jesus: orar e vigiar. Daí ser pedagógico considerar a razão do outro talvez mais certa que a minha. Vamos tentando.
Acho que estou a ser chato, mas queria chamar a atenção para o conjunto do meu texto. No parágrafo seguinte à frase citada eu falo de que talvez o melhor seja um meio termo. Não estar sempre a rebaixar-me, nem seguir cegamente um plano. Nem dar sempre razão ao outro, nem considerar-me superior por ser sempre certinho e cumpridor das regras. Falo em navegar à vista, ou seja, cultivar a humildade (e não a humilhação, que é outra coisa), mas sabendo que tenho uma tendência natural para ver-me maior do que sou. Ter a inteligência para entender os outros e a sabedoria de não me levar demasiado a sério.
Quanto à frase do blog. É mais a forma como me sinto em sociedade, do que forma como penso que os outros me vêem. Quando comecei há quase dois anos este blog era ainda mais a primeira hipótese. Acho que tenho agora mais auto-estima e uma melhor imagem de mim que tinha na altura. Encontrei pessoas que gostam do que escrevo e isso dá satisfação. Tento não embandeirar em arco. Mais incrível é encontrar pessoas que são minhas amigas somente pelo que escrevo, eu que penso ter várias falhas no capítulo da socialização (para perceber melhor o meu espanto ver o texto de amanhã). Estou mais confiante, por isso mesmo arrisco publicar o Silveira.
No entanto, apesar desta maior confiança, ainda sinto que não consigo manter uma conversa com a maioria das pessoas. Continuo a não conseguir manter algumas conversas sem ser interrompido com mudanças de assunto.
Vou contar um episódio que me marcou (talvez até tenha traumatizado). Uns dois anos antes da Expo 98 tive a oportunidade de concorrer a um recrutamento que a PT estava a fazer para a sua participação no certame. Fui chamado para testes numa empresa de recrutamento. O primeiro teste foi logo um debate entre vários candidatos perante um psicólogo. O objectivo era falar sobre a importância da Expo para o país. Devíamos falar e falar e falar. É claro que falei pouco. É claro que fui excluido. Perguntei ao psicólogo porquê e ele respondeu-me mais ou menos o seguinte: o que importava era mostrar iniciativa, capacidade de aguentar uma discussão, por mais inteligentes que fossem as minhas intervenções o que interessava era falar, era dominar o debate. Eu estava desempregado, foi muito duro. Nem cheguei aos testes psicotécnicos. Olhando para trás, ainda bem que foi assim. Provavelmente não estaria já na PT e talvez estivesse pior empregado do que estou agora. O que queria mostrar é que desde então percebi a minha limitação no discurso falado (maior do que a limitação no escrito, que existe), tantas vezes que tento entrar numa conversa e falho, ou atrapalho-me no que estou a dizer e alguém muda de assunto. É frustrante.
“Não tenho opinião muitas vezes e quando tenho estou errado” reflecte esta atitude, que é muito mais uma incapacidade, de dar razão aos outros e que por isso elimina muitas opiniões próprias. E quando as tenho por falta de hábito ou por ignorância ou por insegurança estou errado. E volto à palavra sempre, espero que não seja sempre.
5 comentários:
Caro Jota, este seu texto é muito interessante e, como tenho agora pouco tempo, prometo voltar.
Mas já agora, uma coisa:
A humildade é uma coisa bonita, muito cultivada por São Francisco de Assis e que nos ajuda a não nos julgarmos melhor do que o que realmente somos. Mas a auto-estima também é muito importante, acho mesmo que é impossível sermos felizes se a tivermos baixa. A questão é: como conciliar uma com a outra?
Também acho que na sua reflexão sobre as leituras de domingo, o Jota misturou um pouco a humildade perante Deus e a humildade perante os outros.
Essa sua experiência com o psicólogo também é interessante. Mas, como digo, estou sem tempo. prometo voltar ao tema!
Amigo Jota, aqui estou eu como prometido, pois tenho ainda uma palavra a dizer (apenas a minha "humilde" opinião, pois ninguém é dono da verdade, só Deus, talvez...)
É bom saber que o Jota admite que não pode dar sempre razão aos outros e que está muito preso a esta vida (é assim que deve ser). E a humildade é uma coisa bonita, nomeadamente, como já referimos, para que ninguém se julgue melhor do que aquilo que é (poucas coisas são mais ridículas do que ver alguém a gabar-se por aquilo que não fez e/ou não sabe).
Por outro lado, é preciso conservar a auto-estima. Se, por um lado, não devemos empolar as nossas capacidades, por outro, no meu entender, não ganhamos nada com o facto de as diminuir. Devemos lutar pelos nossos objectivos e fazermos aquilo de que gostamos, desde que não prejudiquemos terceiros. Neste contexto, gostei da sua frase: "ter a inteligência para entender os outros e a sabedoria de não me levar demasiado a sério".
São Francisco praticou a humildade até à exaustão, mas ele era dono de uma personalidade muito especial e eu acho que, em vez de tentarmos imitá-lo, devemos aprender a sua lição: sejamos humildes, não nos julguemos acima dos outros e, uma outra lição muito importante, respeitemos os outros seres (animais) que connosco partilham este mundo. Eu acho que o convívio com os animais também nos ensina a sermos humildes, porque os animais gostam de nós tal e qual como somos, não precisamos de nos gabar à sua frente. E isso faz bem, muito bem!
Todos nós já tivemos ocasiões em que não conseguimos manter uma conversa, em que os outros mudam de assunto quando nos atrapalhamos. Infelizmente, a maioria das pessoas tem muito pouca paciência. E é claro que nem todos temos "espírito de líder", esmagando os outros com os nossos argumentos. No exemplo que o Jota deu, o psicólogo deixou bem claro que o importante não era tanto a qualidade dos argumentos, mas a capacidade de convencermos os outros. Embora seja necessário ser assim em muitas situações e/ou profissões (a começar pelos políticos) eu também não dou muito valor a esse tipo de "qualidade", aprecio mais a inteligência e, acima de tudo, a honestidade.
Mas mesmo que o amigo Jota tenha consciência das suas "limitações no discurso falado", não deixe de conviver e de conversar com os outros por causa disso. Tente, tente sempre, não se deixe abater pela indiferença dos outros, o Jota sabe o que vale!
E, afinal, encontrou um emprego onde se sente melhor do que se sentiria num em que estivesse constantemente sob pressão, a fim de mostrar as tais "qualidades de líder".
Já agora, que também já li o próximo post, é bom saber que acaba
"por gostar de almoçar com os meus colegas de trabalho. Estou entre pessoas que gosto e com quem sinto-me à vontade, tenho o meu lugar na dinâmica do grupo".
Mas que longo comentário este, espero que não tenha sido chata ;)
Amigo Jota, eu acabei de escrever um comentário enorme e, quando o tentei submeter, recebi a informação de que era longo demais. Chegou aí alguma coisa? Espero que sim!
Como se pode ver, chegou todo. Agradeço a disponbilidade e as palavras simpáticas.
Tenho que reconhecer que em relação aos animais ainda estou mais distante do que em relação às pessoas. Constato com tristeza, mas deve ser alguma insensibilidade que tenho, apesar de conviver com um gato. Acho que sou muito acrítico em relação aos direitos dos animais. É triste, mas não consigo ficar sensibilizado, a ponto de ser mobilizado, por aqueles mails sobre animais abandonados ou maltratados. Tenho evoluido no que respeita à tourada, mas continuo a achar graça quando o touro desbarata os forcados na pega.
Se não tivesse embrenhado em contradições, é que seria de estranhar. Humildemente sou um mero humano :)
A pega é o único aspecto da tourada que eu tolero, em que o homem enfrenta o animal sem armas :)
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