Tenho saudades do meu pai.
Tenho um sentimento de culpa por ter dificuldade em lembrar-me de como ele era antes da doença. O Alzheimer tanto afecta a memória do doente como da família mais próxima. Estou tão submerso com a personalidade distorcida actual, que a anterior, a verdadeira parece um mito, um sonho vago quase esquecido.
Tenho saudades de ser o filho, de ter o apoio e a protecção do pai. Tenho saudades de receber carinho e ele era bem carinhoso e brincalhão. Era alguém com quem podia conversar, com quem podia aprender qualquer coisa. Agora só recebo agressões. Ele está em constante conflito e competição, demasiado infantil.
Queria refugiar-me nas boas recordações, mas... não me lembro e do que me lembro são reflexos, cintilações do presente. Sinto culpa por não me lembrar. Sinto culpa por no futuro só conseguir guardar recordações de sofrimento... pode ser que então já esteja fora deste mar que me sufoca.
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