Nesta semana houve mais uma nova polémica nos nossos media. Em Braga, numa feira do livro a polícia confiscou uns quantos livros, cuja na capa estava exposta zona púbica de uma mulher. Também houve o caso do Carnaval de Torres Vedras.
O que me motivou escrever aqui foi a sensação estranha que a nossa sociedade está em transformação. Reflexos da crise? Há sintomas contraditórios. Por um lado as nossas autoridades parecem andar desnorteadas. Eles confiscam e mandam confiscar sem avaliarem primeiro se devem ou não fazê-lo. Eles vão aos sindicatos perguntar como a greve vai ser organizada. Eles estão enredados em processos que nunca mais acabam e que o segredo de justiça é constantemente violado. Eles são criticados quando actuam. Eles são criticados quando não actuam. Eles são os agentes da justiça: advogados, juízes, funcionários judiciais e polícias. Este é um sintoma.
O outro sintoma é que as pessoas começam a protestar mais. E há protestos para todos os gostos. Protestam os professores. Protestam os alunos. Protestam os trabalhadores. Protestam os utentes da saúde. Protestam os funcionários da saúde. Protesta a Oposição. Protesta o Governo por a Oposição não apresentar alternativas e só dizer mal.
Sob este sintoma de protesto, grupos de pessoas fazem ouvir a sua voz. São os homossexuais que querem casar, civil e alguns até religiosamente, e adoptar. Foram os defensores da liberalização do aborto. Em breve serão os defensores da liberalização, despenalização, comércio livre das drogas leves. Já começam a ouvir-se falar da eutanásia.
Até agora apresentei os protestos e vozes de assuntos politicamente correctos, que nos media são bem vistos. Ainda podia acrescentar mais alguns assuntos. E se alguém vem pôr em causa ou discordar com algum destes assuntos, as reacções são fortes. Vêem logo invocar a liberdade, nas suas mais variadas formas.
O problema é que uma sociedade organizada e minimamente coesa não se restringe a estes grupos que mencionei. Reflectido este sintoma de protesto, outras vozes se levantam. Há pessoas que não gostaram de ver aquele livro exposto, não pelo livro mas pela capa. Elas tinham ou não o direito de se sentirem agredidas? Quando alguém se sente agredido o que deve fazer? Neste caso a polícia devia ter sido mais cuidadosa, deviam ter dito que recolher os livros é uma agressão equivalente à agressão que sofreram. Que não se deve ter medo do corpo. A polícia devia ter fomentado o diálogo. Mas por outro lado o que podiam fazer se a ordem pública estivesse mesmo ameaçada? Levar os livros? Levar os queixosos? Qual a liberdade que prevalece? A do livreiro? A dos queixosos que são é maior número? Em que casos a polícia deve intervir? E como?
Tenho pena que os media não tenham fomentado a reflexão sobre este assunto. Só exploraram a censura policial e a tacanhez dos queixosos. Quando falo dos media incluo os blogs e programas de rádio. Todos vão na linha de desvalorizar a opinião dos queixos, conotá-los com a Igreja, com o antigo regime, com o conservadorismo. Eu até gosto de ler e ouvir os que dizem, mas estou ou não no meu direito de me sentir agredido com aquela obra de arte? (chamo-lhe obra de arte, porque o pintor para pintar com tal realismo tinha que ser mesmo artista)
Eu, dado o meu carácter reservado, não iria apresentar queixa, mas isso não me impede protestar. Protesto porque tenho essa liberdade. Porque nem todos temos que aceitar as coisas da mesma forma. Porque o uso daquele tipo de imagens tem que ser muito bem contextualizado. Porque duvido que o livreiro expusesse um livro com um homem daquele forma. Protesto porque se continua a explorar a mulher para o prazer do homem. Porque o homem julgando-se livre e senhor de tudo é mais escravo que a mulher. Protesto porque vive-se numa civilização obcecada pelo sexo, pela sensualidade e pelo prazer, que se diz livre e defensora dos direitos humanos, mas desdenha de quem pensa de outra forma, de quem procura outro coisa para além de alguns segundos, e se tiver saúde e energia minutos ou horas, de prazer.
A sociedade portuguesa está em transformação. É positivo que a liberdade das pessoas seja respeitada. Que as pessoas mesmo correndo o risco de serem ridicularizadas defendam as suas ideias. É negativo que não tenhamos autoridades capazes de dar uma resposta sensata ao turbilhão que se está a gerar na nossa sociedade.
O que me motivou escrever aqui foi a sensação estranha que a nossa sociedade está em transformação. Reflexos da crise? Há sintomas contraditórios. Por um lado as nossas autoridades parecem andar desnorteadas. Eles confiscam e mandam confiscar sem avaliarem primeiro se devem ou não fazê-lo. Eles vão aos sindicatos perguntar como a greve vai ser organizada. Eles estão enredados em processos que nunca mais acabam e que o segredo de justiça é constantemente violado. Eles são criticados quando actuam. Eles são criticados quando não actuam. Eles são os agentes da justiça: advogados, juízes, funcionários judiciais e polícias. Este é um sintoma.
O outro sintoma é que as pessoas começam a protestar mais. E há protestos para todos os gostos. Protestam os professores. Protestam os alunos. Protestam os trabalhadores. Protestam os utentes da saúde. Protestam os funcionários da saúde. Protesta a Oposição. Protesta o Governo por a Oposição não apresentar alternativas e só dizer mal.
Sob este sintoma de protesto, grupos de pessoas fazem ouvir a sua voz. São os homossexuais que querem casar, civil e alguns até religiosamente, e adoptar. Foram os defensores da liberalização do aborto. Em breve serão os defensores da liberalização, despenalização, comércio livre das drogas leves. Já começam a ouvir-se falar da eutanásia.
Até agora apresentei os protestos e vozes de assuntos politicamente correctos, que nos media são bem vistos. Ainda podia acrescentar mais alguns assuntos. E se alguém vem pôr em causa ou discordar com algum destes assuntos, as reacções são fortes. Vêem logo invocar a liberdade, nas suas mais variadas formas.
O problema é que uma sociedade organizada e minimamente coesa não se restringe a estes grupos que mencionei. Reflectido este sintoma de protesto, outras vozes se levantam. Há pessoas que não gostaram de ver aquele livro exposto, não pelo livro mas pela capa. Elas tinham ou não o direito de se sentirem agredidas? Quando alguém se sente agredido o que deve fazer? Neste caso a polícia devia ter sido mais cuidadosa, deviam ter dito que recolher os livros é uma agressão equivalente à agressão que sofreram. Que não se deve ter medo do corpo. A polícia devia ter fomentado o diálogo. Mas por outro lado o que podiam fazer se a ordem pública estivesse mesmo ameaçada? Levar os livros? Levar os queixosos? Qual a liberdade que prevalece? A do livreiro? A dos queixosos que são é maior número? Em que casos a polícia deve intervir? E como?
Tenho pena que os media não tenham fomentado a reflexão sobre este assunto. Só exploraram a censura policial e a tacanhez dos queixosos. Quando falo dos media incluo os blogs e programas de rádio. Todos vão na linha de desvalorizar a opinião dos queixos, conotá-los com a Igreja, com o antigo regime, com o conservadorismo. Eu até gosto de ler e ouvir os que dizem, mas estou ou não no meu direito de me sentir agredido com aquela obra de arte? (chamo-lhe obra de arte, porque o pintor para pintar com tal realismo tinha que ser mesmo artista)
Eu, dado o meu carácter reservado, não iria apresentar queixa, mas isso não me impede protestar. Protesto porque tenho essa liberdade. Porque nem todos temos que aceitar as coisas da mesma forma. Porque o uso daquele tipo de imagens tem que ser muito bem contextualizado. Porque duvido que o livreiro expusesse um livro com um homem daquele forma. Protesto porque se continua a explorar a mulher para o prazer do homem. Porque o homem julgando-se livre e senhor de tudo é mais escravo que a mulher. Protesto porque vive-se numa civilização obcecada pelo sexo, pela sensualidade e pelo prazer, que se diz livre e defensora dos direitos humanos, mas desdenha de quem pensa de outra forma, de quem procura outro coisa para além de alguns segundos, e se tiver saúde e energia minutos ou horas, de prazer.
A sociedade portuguesa está em transformação. É positivo que a liberdade das pessoas seja respeitada. Que as pessoas mesmo correndo o risco de serem ridicularizadas defendam as suas ideias. É negativo que não tenhamos autoridades capazes de dar uma resposta sensata ao turbilhão que se está a gerar na nossa sociedade.
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