quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Balanço do último dia do ano de 2009

O dia de hoje foi diferente porque esforcei-me para ser. Mas antes de falar disso, quero contar um pensamento que tive no autocarro a caminho do trabalho.

Vi um senhor idoso a entrar. Trazia uma canadiana. Sentou-se lá à frente. Vinha outro senhor com ele, que se sentou um pouco mais atrás. Passado um pouco o primeiro olhou para o segundo e sorriu-lhe. Foi um sorriso jovem, aquele senhor parecia ter um espírito jovem. No entanto o corpo não é jovem. Tem mazelas.

Perguntei-me se ele quando tinha a minha idade imaginaria que a sua vida o levaria por aquele caminho. Ele alguma vez julgaria que viria um dia a precisar de um canadiana? Como me imagino eu com setenta, oitenta anos? Percebi que imagino-me sentindo-me exactamente como agora. Não posso estar mais errado. Certamente o meu corpo não terá a força de agora, não andarei tão depressa, não terei as actuais capacidades mentais (isto por razões familiares preocupam-me muito). Deveria preparar-me para a inferioridade física e mental que inevitavelmente virão... se lá chegar, está claro.

O meu dia foi pautado pela passagem do tempo e, mais concretamente, pela passagem do ano. Comecei a festejar (coisa raríssima em mim) à dez da manhã. Ia controlando neste site a passagem da meia-noite pelos fusos horários e quando atingia a meia-noite nalgum sítio eu chamava atenção aos colegas e cumprimentava-os. Foi muito divertido. Ao passar pela Austrália foi de meia em meia hora. Todos acharam-me maluco, mas gostei.

Por isso a quem passar por aqui desejo Feliz Ano Novo de 2010, com tudo o que mais desejam. E que o Senhor Jesus vos (nos) proteja.

Balanço do ano - jogos

Neste ano descobri o jogo CantrII.

Já jogava o Hattrick há algum tempo. Há um outro do mesmo género chamado Xpert Eleven, onde jogo também. A dada altura estava farto destes jogos e procurei na net outra coisa. Vi vários e acabei por descobrir este. Escolhi-o porque não precisava de instalar nenhum programa e permitia exercitar a criatividade.

No Cantr temos a possibilidade de desenvolver até quinze personagens num mundo onde elas interagem com personagens controladas por outros jogadores. A máquina aqui só intervém para controlar o tempo e as acções dos animais. As nossas personagens podem ser tudo o que a nossa imaginação permitir naquele mundo onde não há nada, excepto o que as personagens constroem. Podemos ter nómadas caçadores e recolectores até líderes de cidades.

As personagens de um jogador não podem conhecer-se excepto se isso acontecer dentro do jogo, nem podem ter conhecimento de factos que nós, os jogadores, sabemos. Por exemplo se numa localidade há uma revolta, na localidade ao lado a minha personagem se estiver para se deslocar para lá e não souber da revolta terá que agir como se não soubesse e tomar as decisões em conformidade.

As regras são simples, mas dão muito por onde pegar e pensar. Uma vertente importante do jogo é o fórum. É aconselhado a todos os jogadores visitarem o fórum. Não podemos falar do que acontece no jogo, antes que passem 4 dias, mas há muito para debater e também conviver. Aprende-se bastante a jogar acompanhando o que se passa no fórum.

De vez em quando há fases no jogo em que pensei desistir. O jogo normalmente é lento, mas há picos de actividade que tornam o jogo mais interessante. E depois tudo depende do tempo e empenho do jogador.

Há um blog de um jogador brasileiro bastante empenhado e interessado no jogo. Visitem.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Balanço do ano

2009 também foi para mim um ano de auto-descoberta. Eu sabia que tinha a escrita como algo que definia-me como pessoa. Sou um homem da palavra escrita e não da falada. Explico-me muito melhor escrevendo do que falando. Engasgo-me. Acobardo-me. Também por isso ando normalmente em dessintonia com os meus colegas do trabalho. Também por isso escrevo tanto aqui.

Mas descobri que não sou só um servidor da palavra escrita. Sou um servidor da arte como expressão de criatividade. Nas minhas férias de Verão fiz as filmagens para um filme que terminei neste mês. O trabalho de edição e escolha da banda sonora foi difícil, angustiante, mas fascinante. Quando terminei descobri-me como artista. Eu vivo para concretizar sonhos. Se não tenho ferramentas, pesquiso na internet, dou a volta aos problemas. Crio. O resultado até pode nem ser nada de especial, mas estou satisfeito por ter levado aquele sonho em diante.

Estou certo que uma das causas deste crescimento foi a minha abertura ao mundo feita através deste blog. Escrever para quem não conheço, não sabendo se iria ser lido, nem as reacções que posso provocar mudaram a minha percepção. Está a ser terapêutico. O facto de estar a coberto do anonimato também ajudou.

Escrevi muito, tanto aqui no blog como nos meus projectos pessoais, embora ache que estou a prejudicar estes por causa daquele.

Balanço do ano - filmes

Este ano fica marcado pelo meu regresso ao cinema. Recentemente fui ver o Avatar. Para além disso, vi o dvd do último Harry Potter e foi o primeiro filme da série que gostei e não tenho quaisquer reservas ou reparos a fazer.

Vi em dvd o filme “Tudo o que perdemos” e gostei bastante dele, tal como aqui falei. Comprei o dvd “O Grande Silêncio” e também gosto bastante dele.

Que mais? Vi o Persepolis, que condiz bem com o livro Caderno Afegão.

E há esta época de festas natalícias em que pode-se ver alguns filmes de sucesso.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Balanço do ano – música III

Para terminar esta secção do balanço quero contar a minha história com a banda Muse. A nossa história tem algum tempo. Há mais de um ano gravei um espectáculo deles que passou na RTP2. Eu gostava de algumas músicas, mas havia ali algo no espectáculo que me fez apagar a gravação.

O tempo passou. Neste ano saiu mais um disco, por curiosidade fui ao site e ao myspace deles. Gostei do que vi e ouvi. Eles têm uma secção para quem se registe no site onde podemos assistir aos dvds por eles editados com actuações ao vivo. Reconciliei-me com a banda e aproveitando uma promoção da Fnac comprei os três primeiros cd's da sua discografia. Naturalmente passei-os para o mp3 (acto legal, já que podemos fazer uma cópia dos cd's que compramos). Aqui a nossa relação atingiu um novo nível. Ouvi muito, principalmente quando ia para o trabalho a pé. Ouvi tanto que percebi a dada altura que isso estava a ter um efeito indesejado. Ainda não sei bem porquê, mas quando chegava ao trabalho a ouvi-los sentia-me ainda em mais dessintonia com os meus colegas do que o habitual.

Eu gosto das músicas, talvez seja porque só eu gosto e não posso partilhar este meu gosto com ninguém. Mas o mesmo acontece com os sigur rós e outros. Não sei. O que constatei é que sentia-ma afastado dos colegas. Por isso tenho ouvido menos e escolho só alguns temas.

Aqui ficam alguns vídeos.







~

Balanço do ano – música II

Falando agora de temas que me marcaram. A maioria deles está expressa ao longo do ano no blog. Vejam a publicação “Pop no feminino”, “The Gossip” ou “Metric”. Andei muito acompanhado por vozes femininas. Repito aqui alguns vídeos.







Não cheguei a escrever aqui, mas comprei a caixa com a discografia dos Beatles. É sem dúvida um marco na minha história pessoal.

A nível mundial o ano fica marcado pela morte do Micheal Jackson. Não comprei a discografia dele. Duvido que desapareça. Primeiro quero comprar a dos Pink Floyd, que ando a namorar há anos.

Por fim aqui fica, na minha opinião, a canção do ano e da qual não cheguei a falar aqui. Ouvi tantas vezes na rádio no trabalho que acabei por gostar dela.



Aqui fica outra do mesmo David Guetta.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Balanço do ano – música I

No que diz respeito a música o ano de 2009 marca uma viragem na minha forma de a consumir e adquirir. Comecei logo no início do ano ao descobrir o New Max. Foi o primeiro disco que saquei e não possuo cópia física. O mais interessante é que saquei-o legalmente. Até agora não me lembro de ter sacado nada ilegalmente.

Depois dele fiquei atento a notícias sobre música grátis na net. Também pesquisei. Assim consegui alguns singles dos Placebo, Metric, Air e projectos a solo dos membros dos Sigur Rós. Descobri site dos espectáculos dos Metallica.

A nível nacional descobri o projecto do Henrique Amaro na Optimus e tenho descoberto muita música lá, livre e grátis.

No momento que estou a escrever isto estou a ouvir música disponível na plataforma Jamendo onde há horas e horas de música que os autores disponibilizam. A dificuldade é encontrar algo que nos marque verdadeiramente. É que para mim adquirir música não é algo de usar de deitar fora. Só quero adquirir algo que valha a pena. Este site permite ouvir a música sem proceder logo ao download. Ainda não saquei nada daqui.

A forma como ouço música alterou-se com esta nova forma de adquiri-la e também por causa do mp3. Tenho ouvido muito nele, tanto no trabalho como no caminho. Por outro lado ouço também no computador. Até este ano ouvia na rádio ou através dos cd's. Tudo mudou. Agora o leitor de cd's passa muito menos música.

Balanço do ano - livros

Vou tentar deixar as minhas questões de lado e fazer o balanço do ano (vejo uma certa contradição nesta frase, pois o balanço é meu e será influenciado pelas minhas questões).

Hoje começo pelas leituras. 2009 fica marcado pela literatura fantástica, tal como outros anos, mas neste li mais intensamente livros desse género e tomei consciência que gosto bastante desse universo.

Li vários livros das Crónicas de Allaryia do Filipe Faria, li os quatro livros do Crepúsculo (que estou a reler, nestas alturas de depressão uma pessoa volta a onde foi feliz), reli o Eragon e o Eldest e li o recente Brisingr. Isto perfaz uns bons milhares de páginas, já que nenhum destes livros é “menino” para menos de duzentas.

Por outro lado cheguei à conclusão que o que ando a escrever actualmente também se insere numa certa forma de literatura de fantasia.

Só mais duas notas interessantes: recomendo o livro Caderno Afegão, recomendo. A outra nota foi para um encontro incrível que tive com o autor do livro A Especiaria, António Oliveira e Castro numa tarde de chuva em Maio na Feira do Livro. Gostei do livro e gostei da conversa que tivemos. Graças a ela tenho me aberto um pouco mais ao mundo aqui no blog. Em termos de livros e afins, acho que este encontro marcou o meu ano.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Entrevista ao padre e poeta José Tolentino Mendonça

Chamo a atenção para esta entrevista:

http://www.ionline.pt/conteudo/39215-tolentino-mendonca-o-cristianismo-gracas-deus-venceu-tentacao-declarar-inimigos

Gostei e deu-me força.

Famílias...

Aproveitando o tema das leituras de hoje quero escrever sobre o projecto de lei sobre o casamento gay. Eu não sou contra a homossexualidade porque considero que as pessoas são os que são, uns são homossexuais e outros não. Mas já sou contra a promoção e a tentativa de tornar a homossexualidade como uma alternativa. Para mim tudo é vida e cada um terá que viver consigo mesmo da melhor forma.

No que diz respeito ao casamento sou contra o uso desse nome. Que um par queira ter direito de sucessão, pagar impostos por viver em comum, que queiram assumir um compromisso legal em conjunto, não me oponho, mas desvirtuar um conceito estruturante da sociedade humana para adquirir uma aceitação social acho mal. Nós não devemos discriminar os homossexuais, tal como não devemos discriminar ninguém qualquer que seja a sua particularidade. Mas dar um nome a uma realidade que não é a tradicional parece-me mal.

Eu poderia querer ser chamado de mãe e fazer uma campanha fortíssima para adquirir esse direito, mas nunca poderei ser chamado de mãe. Porquê que vamos alterar o significado secular da palavra casamento para que uma nova realidade seja incluida nele? Parece um capricho. É como se eu quisesse que o dia passasse a ser chamado de noite para poder dizer que tinha um trabalho nocturno.

Poderá um par formar uma família? Talvez se for no sentido de que um conjunto de pessoas podem ser. Por exemplo, nas empresas costuma dizer-se que é uma família, sobretudo se for um empresa pequena. Não nego que haja uma forma de amor, um sentimento que une duas pessoas do mesmo sexo, num par, mas parece-me que será sempre uma forma diminuída de família, falta-lhe a união dos opostos e a fecundidade que daí nasce.

E isto leva-me à adopção, passo seguinte da luta. Se uma pessoa sozinha pode legalmente adoptar, não vejo porquê que duas não possam. Isto do ponto de vista legal. Do ponto de vista prático acho que o interesse da criança leva a que seja um casal e não um par a adoptar. Tenho a ressalva de que um par em casos concretos pode até ser mais indicado. Por exemplo se um deles for o progenitor ou se houver já alguma relação de parentesco ou mesmo convivência. Em resumo, sou mais contra o casamento do que a adopção.

E no diz respeito à adopção até digo que já pensei em candidatar-me para adoptar, já que não vejo hipóteses de ser pai de outra forma, mas no processo de ponderação cheguei à conclusão que apesar de dar à criança todo o amor que sou capaz de dar, não iria ter um crescimento com as condições ideais. Falta a figura feminina. A minha mãe o mais que seria era avó. Penso que só adoptaria alguma criança se fosse por razões familiares ou a pedido de pais moribundos. Tudo o mais acabaria por ser por egoísmo.

Por isso em princípio um par não deveria adoptar, muito menos casar. Procure-se outra palavra. Um casal casa, um par... partilha?

Festa da Sagrada Família – Ano C

O tema das leituras de hoje é a família. Nem de propósito, diria eu. Brevemente o nosso parlamento irá discutir e provavelmente aprovar mais uma machadada na instituição da família.

O que é uma família? Pode-se definir como uma relação de amor entre os seus membros, cujos laços são os mais fortes que a humanidade consegue criar e manter. Ao longo da História a família tem assumido diversas configurações. Já foi tribo, clã, casal e outros familiares, casal e filhos. Ao longo dos séculos tem havido um processo de individualização da família, passou de um grupo grande para a célula fundamental da sociedade e agora partes dessa célula.

Na primeira leitura vê-se a responsabilidade individual para com a família na perspectiva do filho. Este texto diz-me muito e a ele vou buscar muita da força para viver em família. Hoje, mais uma vez, senti que o texto falava para mim. É meu dever amparar os meus pais, fazer o possível para que tenham uma velhice tranquila e em paz.

A segunda leitura tem uma característica interessante. É provável que um leitor ou ouvinte desabituado e pouco esclarecido vá ficar com pele de galinha na parte em que São Paulo diz à mulheres para serem submissas aos seus maridos. Parece politicamente incorrecto. Como é possível? Bem, deviam estar atentos ao que é dito antes, na leitura. Se o que São Paulo diz for posto em prática, não será nenhuma violência a mulher ser submissa, nem o homem amar a esposa, nem os filhos respeitarem os pais, nem estes exasperem aqueles. Porque “como eleitos de Deus, santos e predilectos” vivemos do, com e pelo Amor. Trataremos os outros com respeito e amor e a família será efectivamente uma igreja doméstica.

No Evangelho aparece-nos o episódio de Jesus com os Doutores. É um episódio curioso. Jesus, com doze anos, fica em Jerusalém sem os pais saberem durante três dias. Este pormenor dos três dias não parece ser “inocente” faz lembrar os três dias entre a Paixão e a Ressurreição. Para vermos a Jesus tal como Ele, é preciso passar por um tempo de ausência, silêncio.

Jesus parece querer revelar aos pais a Sua origem divina, mas também parece querer nos dizer que a família tem origem divina, que não há nada que não seja tocado por Ele, que Ele não tenha vivido e purificado.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Lar

Como se pode ve pelo texto anterior, não tenho motivos para andar alegre. Hoje de tarde (estou a escrever na noite do dia 25, embora só publique no sábado), eram quatro da tarde, olhei para fora e vi o céu tapado de nuvens. Esteve assim o dia todo. O dia andou escuro por causa disso.

Sabem, há uma parte de mim que gosta deste tempo. Faz-me imaginar que estou no norte da Europa. Escandinávia. Alemanha. Islândia. E porquê que desejo estar nesses sítios? Porque ingenuamente associo essas regiões a lugares onde se vive bem. Este viver bem está relacionado com o conceito de lar. Na minha vida poucas vezes tenho tido essa sensação. Mesmo nesta casa sinto-me em casa. Há tanto neste sítio do qual eu gostaria de fugir...

Na minha vida vivi em quatro casas. Só aos dezanove anos é que tive o meu primeiro quarto. Vivi até aos oito numa pequena casa só com o quarto dos meus pais, uma sala onde dormi algumas vezes, cozinha e casa de banho. Essa casa era muito húmida e ia dando cabo dos meus pulmões. Andei depois anos a tomar a vacina para a gripe por causa da bronquite que desenvolvi lá.

Por causa da bronquite mudámos de casa. Um tio meu, irmão da minha mãe, vivia numa casa no centro de Lisboa com muito espaço. Saímos de Caneças para a rua de São Lázaro, perto do Hospital de São José. O andar era enorme. Ficámos com duas divisões e um pequeno corredor. Tínhamos também uma porta para a escada. Era uma doce ilusão de independência do restante andar. A cozinha ficou a ocupar uma divisão e na outra fizemos os nossos quartos. Cortinados e o guarda-fatos foram as nossas paredes. Vivi ali dos oito aos dezanove. Não tínhamos casa de banho. Para ir à sanita, passávamos pela cozinha dos meus tios. Não tínhamos esgotos. Tomava banho num alguidar. Despejávamos todas as águas na sanita. Ganhei alguns belos traumas e manias naquelas condições. Não me lembro de termos passado alguma consoada juntos com os meus tios, com a minha prima (também madrinha de baptismo), marido e filhos. Talvez no início. Não sei de quem foi a culpa. O meu nono aniversário teve festa. Não me lembro de ter havido outro. Algum tempo depois morreu o meu tio. Isso também não ajudou a que criássemos laços. Sempre me senti um intruso. Com a adolescência acabei por afastar-me. Mas não vou falar hoje da minha não-relação com a minha madrinha.

Depois de muito sofrimento lá conseguimos arranjar uma casa. Foi na mesma rua, um pouco mais a baixo. Era antiga. Mas tive pela primeira vez um quarto só para mim. Infelizmente grande parte do tempo que passei naquela casa andei turbulentamente vivendo a depressão do final da adolescência. Vivi-a até mais tarde que a maioria das pessoas. Tenho a teoria que durante muito tempo fiquei congelado nos oito anos. Até essa idade tive uma vida normal. Depois vivi numa casa que me congelou no tempo. Deixei de ter amigos, daqueles de rua que tinha em Caneças. Em Lisboa não podia brincar na rua. É claro isso livrou-me de vários problemas. Nunca fumei. Nunca andei em drogas. Mas não há garantia que em Caneças isso acontecesse. Também não há garantias que escapasse. O que sei é que a minha vida social ficou congelada até à altura em que comecei a trabalhar. Estou convencido disso e de que perdi a oportunidade de ter uma vida normal, de ter vida amorosa, talvez sexual, como qualquer jovem da minha idade. É claro que a minha maneira de ser tem bastante responsabilidade, mas o meio envolvente também influenciou.

Saí daquela casa sete anos depois. A casa começou a rachar toda. A Câmara, que era a dona da casa, determinou o nosso realojamento e vim parar aqui onde estou. A mudança foi dolorosa. Fomos muito estúpidos. Viemos para uma zona muito melhor. Os Olivais são uma zona da cidade com uma qualidade de vida muito superior. Só o verde que por aqui há supera a variedade de comércio da Baixa. Actualmente pouco vou lá. Temos tudo o que precisamos por aqui. O apartamento é mais pequeno, mas está em muito melhores condições. Tenho um bom quarto.

Mas falta-me algo. Sei que é psicológico. Muitas vezes chego a casa e não me sinto no meu lar. Falta aquele aconchego, aquele calor, que imagino que exista nos lares. Como a minha mãe não gosta de aquecedores, vivemos com o calor que não escapa pelas janelas, paredes e tudo mais. Andamos cheios de roupa.

O meu lar imaginário tem calor em casa, ando à vontade com um pijama normal e não tenho frio. Também imagino uma esposa e filhos. Imagino que tenho um pequeno escritório onde escrevo os meus romances. Imagino espera pelo jantar e ter os meus filhos sentados no meu colo, conversamos, rezamos juntos.

Acho que não sonho muito alto. Aí sim, seria bom ter lá fora a chuva a cair. Agora quando chove lá fora, sinto saudades do futuro... desse futuro que provavelmente só vive na minha imaginação.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Lágrimas em forma de palavras numa noite 25 de Dezembro

Peço desculpa pela linguagem que vou usar

Este Natal está a ficar marcado por ser o contrário do que devia ser. A nossa pequena família está a ficar desvirtuada num dos vários aspectos que caracterizam um família. Nestes dias não tem havido uma refeição passada em paz, tranquila, sem raiva, nervos ou gritos. A família está a desfazer-se.

Passo a explicar. Não posso dizer nada que o meu pai chama-me cabrão (a minha mãe fica irritadíssima e ofendida por mim), chama-me cão, já me chamou paneleiro. Ameaça-me bater, atirar-me com o que apanha à mão. No jantar de hoje foi àgua. Não chegou a atirar. Por acaso estava a concordar com ele, mas isso não deixou de irritá-lo. Ontem foi assim ao almoço e ao jantar. Hoje o mesmo.

Não há refeição que não tenha que interromper para ir fazer xixi. Leva um tempão para chegar à casa de banho. Muitas vezes tem feito para o chão ou no bidé, ou nos dois lugares e mais nas calças. Não vale a pena chamá-lo à atenção, só iria originar mais um momento de gritos e insultos.

Já começou a insultar a minha mãe. Aperta-lhe os braços, anda com o braço esquerdo todo dorido. Parte-me o coração vê-la a chorar.

Fizemos um bolo ontem de tarde. Ajudei e saiu a pior coisa que alguma vez fizemos. Usei um adoçante que não era indicado para bolos. Programei o forno para aquecer por cima e por baixo. Erro. Devia ser só por baixo. Não cresceu o que devia.

Mesmo a comida que ficou boa, não pôde ser saboreada por causa das complicações do meu pai. Não consegue, ou quer, comer achegado à mesa e invariavelmente cai comida para o chão. O sítio dele parece uma estrumeira. Como tem que sair para ir à casa de banho pisa aquilo.

Nós fazemos o que podemos, mas cuidar de uma pessoa assim tão conflituosa, teimosa e desconfiada, dá cabo do juízo de qualquer um.

Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo


“Que formosos são sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que apregoa a boa-nova, e que proclama a salvação!” Assim começa a primeira leitura de hoje. É Natal do Senhor Jesus, nosso Deus e Salvador! Que mais há para dizer?






Vivamos este dia com a convicção e alegria, fundadas na fé, que aquele dia em que o Senhor nasceu é o dia do nosso nascimento como gente salva. É aí que começou.






Olhemos para este dia com o olhar da Páscoa, da Ressurreição! Este dia tem toda esta carga simbólica por causa desse acontecimento. Por isso todos nós hoje fazemos anos, como baptizados, como membros do Corpo onde o Menino é a Cabeça.



quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal

Oh, como gostaria de ter uma avó e passar esta noite da consoada numa aldeia onde o frio vê-se na alvorada com geada. Gostaria de ter uma família grande, de me sentir constrangido na presença de alguns que só nestas ocasiões veria. Ter crianças à volta exitadíssimas com com a reunião e com a perspectiva de receberem as prendas. Gostaria de me sentir sem vontade nenhuma de ir à Missa do Galo, mas ir na mesma e talvez levar um priminho a dormir no colo no regresso.

Gostaria de não ter o meu pai cada vez mais incapacitado, de ter a minha mãe cada vez mais esgotada e cansada, de não me sentir tão triste e sozinho.

O que fiz pelo outros neste Natal? Só umas mensagens de sms para os meus colegas e amigos. Uns mails e uns postais electrónicos ontem.

Bem que gostaria de me sentir em comunhão com os meus colegas e amigos, mas não me sinto. A única coisa positiva que sinto é que a minha fé num futuro melhor cresceu. Olho para estes dias e vejo, desejo, que um dia eu seja feliz. Talvez isso tenha sido sentido por algum daqueles pastores que seguiram o conselho dos anjos.

Um futuro melhor.

A todos os que por acaso aqui passem, desejo um Santo Natal.

Trans-Siberian Orchestra

Nos últimos anos, nesta altura, tenho ouvido na internet músicas desta banda. Que tal juntar o espírito natalício ao hard rock?

Comecemos por uma versão mais “soft”




Esta é versão original



Aqui fica outro exemplo de hard rock natalício



Parece-me que nunca passaram por cá (mas posso estar errado), aqui fica um vídeo de apresentação para a actual tour. O espectáculo parece ser grandioso.



Mais uma curiosidade (pergunto-me se alguém vai dar-se ao trabalho de ver isto tudo), esta banda fe´z este tema pegando numa parte muito conhecida da ópera de Mozart "A Flauta Mágica". Está gira e acho que o autor iria gostar.



Termino com outro vídeo oficial deles que se pode encontrar no seu site

domingo, 20 de dezembro de 2009

Quarto Domindo do Advento - Ano C

Estamos a chegar ao Natal. Neste domingo a figura que tem estado na sombra, no silêncio, aparece: Maria, mãe de Jesus. Mantém-se em silêncio, ele é a sua vestimenta, pois a única palavra que interessa está alojada no seu ventre.

Na primeira leitura aparece uma das várias profecias do nascimento do Justo, mas nesta Ela é referida, ou seja, profetizada. Já repararam que o Advento hoje assume um carácter novo? E se encarássemos este tempo como uma gravidez? O que é uma gravidez se não um tempo de espera e de preparação. Estaremos grávidos de Deus?

O que significou e significa a figura da Virgem Maria? Jesus não seria Deus connosco se não tivesse nascido como nós. Se Jesus tivesse tido um pai biológico, não seria o Filho de Deus, segunda pessoa da Trindade. Como já disse noutros textos, a virgindade de Maria é bem mais virgindade de pecado do que física. Jesus, Homem e Deus, só podia nascer de alguém puro, como Ele.

Tudo isto para que Ele oferecesse um sacrifício definitivo e completo, que nos redime.

Por outro lado o Evangelho de hoje lembra-nos que o Natal é também ter abertura aos outros. Maria assim que soube da gravidez da prima, um caso insólito, correu ter com ela e ajudou-a até ao nascimento do filho. E nós vamos correr para onde?

Também podemos ver Isabel como exemplo de alguém que estava a aberta aos outros. Alegrou-se e agradeceu a visita da prima. Somos capazes de agradecer o bem que os outros nos fazem? Ou não fazem eles mais do que a sua obrigação?

sábado, 19 de dezembro de 2009

http://www.imdb.com/title/tt0499549/
Como disse há dias, andava a pensar em ir ver o filme Avatar. Pois fui e dei por bem empregues o tempo e o dinheiro. Foi o primeiro filme em vários anos que fui ver e o primeiro de sempre em 3D. Esperava outra coisa. Esperava ver os objectos de outra forma, mas agora pensando nisso o écran tinha que ser maior, ocupando todo o nosso campo de visão. Tirando isso é realmente um espectáculo ver as imagens em perspectiva, com profundidade.

É claro que o que mais gostei do filme não foi só o efeito 3D. Acho extraordinária a criatividade dos autores daquelas imagens. Os cenários. As criaturas. A flora. As cores e formas. Vale a pena ver. É festival de cor, formas e movimento. O 3D permite-nos reparar em pequenos pormenores, como por exemplos pequenos “insectos”, a chuva, pequenos objectos voadores. Dei alguns saltos pensando que vinham coisas na minha direcção.

Quando vinha para casa, pensava que gostaria de ver outra vez em 3D. Será que há edições dvd com essa possibilidade? Talvez não tenha televisão para isso, mas seria giro.

Nos créditos finais percebi de onde vinha aquela qualidade de imagem e de design. Vem a Weta Digital, mesma empresa que fez os efeitos do Senhor dos Anéis. Weta é sinal de qualidade. Bem que gostaria de trabalhar nessa empresa.

É possível que a crítica de cinema considere o filme como cinema fraco (já vi isso insinuado pelo João Lopes no blog Sound + Vision), porque dá mais importância ao aparato tecnológico e menos à história e à construção das personagens. Sim, este filme não tem um argumento do outro mundo, mas está bom. É politicamente correcto ao abordar o tema da preservação do ambiente, da luta contra a ganancia cega pelo lucro. Este argumento podia ser adaptado ao cenário da floresta tropical, é certo, mas é potenciado pelo exotismo que a tecnologia permite. Qual o mal?

É um filme indicado para ser visto numa sala de cinema, já o mesmo não se pode dizer da maioria dos filmes, que não perdem nada ao passarem para o formato pequeno das televisões. Por isso para mim isto é cinema.

Podia dizer muito mais, mas fico por aqui. Recomendo.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Terceiro Domingo do Advento – Ano C

Enquanto esperamos, temos tempo para preparar-nos. E neste domingo essa preparação passa pela reflexão: o que devemos fazer para vivermos realmente o Natal que aí vem? Mas também o que devemos fazer para mantermos o Menino vivo a nossa vida?

Este é chamado o domingo da alegria. A meio do Advento e da Quaresma aparece-nos um domingo que se veste de cores diferentes. O que devemos fazer com este domingo da alegria? O que devemos fazer para ter esta alegria? E o que fazer com ela?

São João, a voz no deserto, responde-nos. Devemos partilhar. Devemos ser justos. Devemos ser mansos. Estas são as passwords para entrar no Reino de Deus. Estas são as senhas para a nossa felicidade. Delas vem a paz. Delas vem a alegria. É de nós, do nosso coração que podem vir estas coisas. Memorizemos estas palavras pouco secretas. Façamos delas os apoios do caldeirão da nossa vida.

Parece simples, mas quantas dificuldades temos para as viver. O medo parece-me ser o principal obstáculo. Temos medo de partilhar, de dar de nós, de nos abrirmos aos outros. Temos medo de não nos agradecerem. Temos medo que ser justos, porque temos medo de contrariar quem tem mais personalidade, quem não tem medo. Temos medo das consequências. Temos medo de perdermos aquele afecto, aquela relação prazenteira. Temos medo de sofrer, de sermos agredidos. Temos medo de não dar resposta. Temos medos sobretudo de humilhar-mo-nos. Temos medo de chegar perto de Deus e reconhecermos as nossas limitações, os nossos erros, os nossos pecados. Temos medo de ser alegres, livres do medo da morte, porque não seremos, não podemos alguma vez ser, populares, admirados por todos, invejados, vencedores dos afectos interesseiros e egoístas dos outros.

O que devemos fazer neste Natal? Dar prendas por tradição? Por descargo de consciência? Para pagar as prendas que nos dão? O que podemos fazer para sermos vozes no deserto? Seremos capazes de não decorar as nossas casas e meditarmos naquilo que devemos verdadeiramente fazer (sei que é difícil para quem tem crianças em casa não decorar a casa)? Seremos capazes de abrir a nossa casa no dia da consoada a sem-abrigos? A estranhos que estejam sozinhos?

Por não ser capaz de fazer isso, eu pecador me confesso.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Avatar

Estou tentado a ir ver este fime (recordo que não vou ao cinema desde o Eragon)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Perplexidades causadas pelos escândalos recentes e não só

Uma das razões porque tenha andado mais “silencioso” deve-se à desinspiração. Para este estado contribuiu um certo grau de perplexidade originado no fim-de-semana passado. Descobri um blog que falava do Climagate. Nunca tinha ouvido falar deste assunto, mas, por um lado, ando um pouco alheio aos noticiários, por outro, parece que isto é escândalo recente.

A minha perplexidade assume contornos de choque. Pergunto-me: mas afinal existem alterações climatéricas causadas pelo Homem, ou não? Se não podemos confiar no que os cientistas afirmam, então não podemos acreditar em ninguém. Ao perceber isto, constato outra coisa: vivo num mudo do lálálá. Por natureza sou crédulo e sempre, sempre, acreditei que haviam certas informações que me eram transmitidas e que podia confiar que eram correctas. Eu sempre achei que o que os professores me ensinavam era verdade, sobretudo no que diz respeito à ciência. Se me disseram que a poluição estava a destruir o planeta, eu acreditei. Quando saí da escola, continuei a acreditar no que os cientista diziam. E agora vejo que eles têm coragem de adulterar dados para condicionar a opinião pública e política mundial. É como se o meu mundo ruísse.

Como é que cheguei a este ponto? Como é que a civilização ocidental chegou a este ponto? Será este mais um tijolo do edifício do relativismo teorizado no início do século XX? Tudo é relativo. Não há faróis neste noite escura e as luzes que vêmos desorientam. Não podemos confiar na política, na justiça e agora na ciência. Quem não é político é enganado por eles. Quem não é doutorado em Direito e nas leis, é enganado, preso ou destruido. Que não estuda ciência é enganado e manipulado.

Atenção. Eu não endeusava estas áreas, pelo menos conscientemente, mas tinha a justiça e a ciência como referencias de estabilidade e credibilidade. Bem diz o Alma Peregrina num texto recente que o Homem é por natureza tendente para o Mal. De onde vem, então, esta ideia que estas áreas eram credíveis? A minha resposta é: dos séculos anteriores onde o Positivismo e outras correntes deste género formaram o pensamento da sociedade. Antes sabia-se que o Homem tendia para o Mal, agora o Homem é a medida de todas as coisas, é o centro e o motor da História. E assim acabamos por viver numa confusão total.

Tenho duas amigas, que não se conhecem, mas que acabam por afirmar o mesmo. Uma diz muitas vezes que queria ir viver para uma pequena casa de xisto numa larga rua. A outra disse-me hoje que queira ir para um bunker. Eu vejo-me forçado a desejar ir viver para um ermo (ermitério ou num local afastado), pois não me sinto bem a viver num mundo onde a mentira é a norma.

Por favor, quero ter uma vida tranquila sem estar sempre a estudar e a preocupar-me sobre se o que me é dito é verdade, se está correcto ou se estão a querer manipular-me! Não suporto uma constante desconfiança. Não tenho paciência para alimentar teorias da conspiração. Até porque acho que tudo isto é desperdício de energias. Quando me falam de uma entidade chamada “eles” que governam o mundo, que conspiram e procuram criar uma ditadura universal, penso que caso existam (e tenho dúvidas) não escaparão ao julgamento divino, que no fim o Calvário, a Cruz e a consequente Ressurreição prevalecerão. Os seus esforços serão infrutíferos. A minha fé diz-me que no fim será a vontade de Deus a prevalecer. Se esta gente toda anda com maquinações, conspirações e tramóias, o seu pecado não ficará impune.

Aqui ficam os blogues que originaram em mim esta reflexão:
http://citadino.blogspot.com/

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Solenidade da Imaculada Conceição

Hoje não me sinto particularmente motivado para escrever, nem hoje nem nos últimos dias. Por isso deixo aqui o link para o meu texto do ano passado.

http://reinoimperfeito.blogspot.com/2008/12/um-modelo-de-ser-humano.html

domingo, 6 de dezembro de 2009

lei do menor esforço é um motor da evolução...

"A lei d mnor sforç e 1 mtor essncial d evlção d lngua”
por Jorge Fiel


?A lngua n e 1 qstao fexad. Ms tms d tr norms?, ?A língua não é uma questão fechada, mas temos de ter normas?
“A sferografik Bic foi trokd pl tekld”, “A esferográfica Bic foi trocada pelo teclado”
“N tard mt a ser prcis dar auls d kligrfia aos adolscnts”, “Não tarda muito a ser preciso dar aulas de caligrafia aos adolescentes”




Dinis Manuel Alves, responsável pela licenciatura em Comunicação Social do Instituto Miguel Torga, de Coimbra


Chamaram-lhe Tecla 3? Tem toda a razão para ficar chateado. Ninguém gosta de ser tratado de atrasado mental. Se está com a sensação de que lhe está a escapar qualquer coisa, dê uma espreitadela ao seu telemóvel, que não serve apenas para receber e fazer chamadas. DEF, as iniciais de deficiente, são as letras da tecla 3.

A nossa língua está a mudar a uma velocidade vertiginosa e o novo acordo ortográfico está inocente. O culpado é o telemóvel, mais concretamente as SMS, palavra hermafrodita – a maior parte das pessoas atribui-lhe o sexo feminino (que vai buscar a mensagem), mas o masculino seria o mais correcto, pois é a abreviatura de Serviço de Mensagens Escritas.

“A lei do menor esforço é um motor essencial da evolução da língua”, reconhece Dinis Manuel Alves, filho de um guindasteiro do porto do Lobito, onde nasceu há 51 anos, e que agora é o responsável pela licenciatura em Comunicação Social do Instituto Miguel Torga, de Coimbra.

A bem dizer, não é o responsável pela licenciatura, porque as SMS e o MSN não são os únicos agentes de mudança da língua. O “correctês” dá uma ajuda: o 1º ciclo é a antiga licenciatura minguada por Bolonha, o 2º ciclo respondia por mestrado e as cadeiras dão agora pelo nome de “unidades disciplinares”.

A ideia de traduzir Torga para linguagem SMS tem origem num inocente desabafo numa aula, produzido por Dinis, que é senhor de um curriculum tão trepidante e ziguezagueante como se antevê tenham de ser todos neste frenético e perigoso séc. XXI: fez Direito, foi deputado eleito pelo PS, licenciou-se em Jornalismo e vagabundeou pela rádio (TSF), televisão (TVI) e jornais (Grande Reportagem, Jornal de Coimbra, Expresso e Tal & Qual), até deitar âncora na Universidade, doutorando-se em Comunicação Social e fixando-se como professor e investigador.

“A língua nunca é uma questão fechada. Mas temos de ter normas para nos entendermos”, diz Dinis, em jeito de preâmbulo ao desabafo de quem, como ele, não acha graça ao desleixo em curso na escrita que não é propriedade privada dos alunos - a confusão entre o s e o ç levou Vara a escrever “suspenção” e um jovem professor a dirigir-se, por escrito, ao “Concelho Científico”.

O baralhanço entre o verbo estar e ter – “eu tive em Londres” - foi a mãe do desabafo: “Quem dá assim erros devia, de castigo, traduzir para linguagem SMS um diário inteiro do Torga!”.

Duas alunas engraçaram com a ideia, puseram o dedo no ar e iniciaram a empreitada de tradução de 27.882 palavras (114.796 caracteres) do Diário XII de Torga (diarioxii.blogspot.com), que viria a ser completada por duas miúdas do 10º ano, uma das quais é a Mariana, a querida que quer ser bailarina e adaptou isto a msg de tlm (ver tradução na página ...)

Intragável, a palavra que Dinis arranjou para caracterizar o resultado final deste trabalho, não se adequa, de maneira nenhuma ao magnífico entrecosto que deitamos abaixo num restaurante que estava cheio como um ovo - sábado é dia das famílias irem almoçar fora.

O Diário XII ficou intragável em linguagem SMS por que foi escrito num tempo em que os ponteiros do relógio andavam mais devagar e as professoras não eram tratadas por stôras. Também seria intragável a visão de um Cavaco de brinco na orelha, calções à guna abaixo dos joelhos, All Stars roxas e com o nome Maria, em caracteres chineses (arranjados pelo Fernando Lima), tatuados no antebraço.

Mas, como nos avisou o Dylan, os tempos estão a mudar. 1 500 SMS por semana sabem a pouco a uma maioria de adolescentes que preferem mandar mensagens aos amigos do que estar a falar com eles de viva voz. Impregnada de oralidade, simplificada, enriquecida com smileys que sinalizam o estado de espírito, a linguagem usada no Twitter e SMS veio para ficar. O operador inglês dot.mobile traduziu para linguagem SMS as principais obras da literatura britânica.

“A esferográfica Bic foi trocada pelo teclado. Não tarda muito a serem precisas aulas para ensinar caligrafia aos adolescentes”, concluiu Dinis, que ficou triste :( quando soube que, no final de um lauto almoço, tinha de empurrar o meu carro que ficara sem bateria. Só ficou feliz quando me viu pelas costas ;-).


Dinis Manuel Alves, rsponsvel pl licnciatr em Kmunikçao Scial d Institt Miguel Torga, d Cbr

xmaram-lh Tecla 3? Tem td a rzao p fkar xtead. Ninguem gst d ser trtado d atrsdo mntal. S ta c a snsçao d q lh ta a xkpar qlqr coisa, de, pf, 1 xpreitdl ao seu tel, q n serv apns p recbr e fzr xmads. DEF, as iniciais d deficnt, sao as letrs d tecla 3.
A nx lngua ta a mdar a 1 vlcidd vrtiginosa e o nv akrdo ortgrafk ta incnte. O klpdo dst rvolçao e o tel, + knkrtmnt as SMS, plavr hrmfrodt – a maior part ds pssoas atribui lh o sex fem (q vai bxcar a msg), ms o masc sria o + krect pq e a abrvtur d Srviç d Msgs Xcrits.
“A lei d - sforç e 1 mtor essncial d evlçao d lngua”, reknhec Dinis Manuel Alves, flh d 1 guindsteir d port d Lobito, ond nsceu ha 51 ans, e q agr e rspnsvel pl licnciatr em Kmunikçao Scial d Institt Miguel Torga, d Cbr.
A bem dzr, n e o rspnsvel pl licnciatr, pq as SMS e o Msn n são os unks agnts d mdanç d lngua. O “correctês” tb dá 1 ajda ao intrdzir nvs xpressoes: o 1º ciclo e a antig licnciatr mnguad pr Bolonha, o 2º ciclo rspondia pr mstrad e as kdeiras dao agr pl nom d “unidds krriklars” – dsignçao bem + xtensa e pmposa, a dmnstrar q os pdrinhs d plitikmnt krrect n acrtram a hora pl tmp d simplifikçao .

A ideia d trdzir Torga p lnguagm SMS tem n origem um incnte desbaf, prdzid numa aula pr Dinis, q e sr d 1 curriculum tao trepidnt e zigzagnte km se antevê tnham d ser tds nst frnétik e prigos séc XXI: fz Direit, foi dputad eleit pl PS, licnciou-s em Jrnalism e vagbndeou pl rádio (TSF), tv (TVI) e jrnais (Grande Reportagem, Tal & Qual, Jornal de Coimbra e Expresso), até deitr âncora n Univrsidd, doutrndo-s em Kmunikçao Social e fixnd-s km prof e invstigdor.
“A lngua nunk e 1 qstão fexad. Ms tems d ter norms p nos entendrms”, diz Dinis, em jeit d preâmbulo ao desbfo d quem, km el, n ax graç ao dsleixo em curs n xcrit q n é propriedd privd ds alns - a cnfusão entr o s e o ç lvou Vara a xcrever “suspenção” e um jvem prof a dirigir-s, por xcrito, ao “Cncelh Científico”.

O baralhanço entr o verbo estar e ter – “eu tiv em Lndrs” - foi a mãe do desabafo: “Quem dá assim errs evia, d cstigo, tradzir p lnguagem SMS um diário inteiro d Torga!”.

2 alunas engrçaram k a ideia, puseram o dd n ar e iniciaram a empritda d tradção d 27.882 palavras (114.796 caracteres) d Diário XII de Torga, q viria a sr completd por 2 miúdas d 10º ano, 1 ds quais e a Mariana, a querida q qr sr bailarina e adaptou ist a msg de tlm.

Intrgvel, a plvra q Dinis arrnjou p carctrizar o resltdo final dest trablh, n s adequa, d mneira nnhuma ao mgnífico ntrecost, akmpnhdo por 1 arrzinho de fjão mlandro, q deitámos abaixo num rstaurante q estava cheio como um ovo - sáb e dia ds famílias irem almoçar fora.

O Diário XII fikou intragável em lnguagem SMS por q foi escrit num tmp em k’os pnteiros d relógio andavam + devagar e as professoras n eram tratadas por stôras. Tb seria intragável a visão d um Cavaco d brinco na orelha, calções à guna abaixo ds joelhos, All Stars roxas e k o nome Maria, em caracteres chineses (arranjados pelo Fernando Lima), tatuados n antbraç.

Mas, km ns avisou o Dylan, os tmps tao a mudar. 1 500 SMS pr semana sabem a pouco a 1 maioria d adlscntes qpreferem mandar mgs aos amigos d q tar a falar c eles d viva voz. Impregnada d oralidade, simplificada, enriquecida com smileys que snalizm o estd d spírit, a lnguagm usd n Twitter e SMS veio p ficar. O oprdor ing dot.mobile tradziu p lnguagm SMS as principais obras d litratur britnica.

“A sferografik Bic foi trokd pl tekld.N tard mt a ser prcis dar auls d kligrfia aos adolscnts” knkluiu Dinis, q fiko trist :( rsignd qnd soub q, n finl d 1 laut almç, tnh d emprrar o meu carro q fikra s btria. So fiko fliz :) qnd m viu pls kstas ;)

Segundo Domingo do Advento – Ano C

Enquanto esperamos, temos tempo para preparar-nos. É isso que as leituras deste domingo dizem. No domingo passado iniciámos este tempo de preparação para vinda do Senhor, relembrada no Natal. É tempo de espera. Mas não é tempo vazio. É tempo para aplanarmos os montes, taparmos os vales e endireitarmos os caminhos no nosso íntimo. É um tempo de trabalho interior para limparmos o nosso coração de empecilhos que dificultem a vinda do Menino na nossa vida.

A primeira leitura fala-nos desse trabalho que Deus faz em nós, se deixarmos fazer. Pois Deus quer que regressemos a Ele, sempre, independentemente do que tenhamos feito. Ele está de braços abertos. E nós?

Na segunda leitura São Paulo diz-nos que não podemos ficar acomodados com o que conseguimos, com o que acalçámos. Na relação com Deus é preciso e possível crescer sempre mais. Na caridade.

E o Evangelho, na figura de São João Baptista, retoma esta ideia da primeira leitura. Preparação para a vinda. Como Deus está sempre a vir, está sempre disponível, a nossa preparação tem que ser contínua, temos que aplanar montes e endireitar veredas todos os dias, a todo o instante. Como Deus está sempre a vir, nós estamos sempre à espera e a recebê-Lo.

O Advento serve para isso, para treinarmos mais intensamente esse exercício de receber um Deus que está sempre a vir.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Um ano

Faz hoje um ano que publiquei o primeiro texto deste blog. A influência mais directa foi um programa de rádio da Antena1, que já acabou. Era ao domingo, às onze. O jornalista Pedro Rolo Duarte convidava um autor de blog para falar da experiência. Ouvi vários programas e fiquei com vontade de ter um blog.

Por outro lado resolvi abrir-me ao mundo. Fui cauteloso, mas abri-me. Tenho escrito um pouco de tudo, sobre mim e sobre a minha visão do mundo. Aprendi algumas coisas. Compreendi outras.

Olhando para o percurso do blog vejo que é um reflexo aproximado de mim. Surpreendeu-me perceber que os comportamentos que tenho fora da net, continuam nela. Tenho dificuldade em fazer-me ouvir, pouco intervenho nos assuntos dos outros. Muitas vezes tenho pouco para dizer sobre os assuntos que interessam aos outros. Na net passa-se o mesmo. Durante os primeiros meses não sei se tive alguma visita. Só comecei a ter comentários quando entrei na iniciativa do alma peregrina da Via Sacra nos blogs.

Cheguei à conclusão que sem publicidade e comentários nos outros blogs, pouca visibilidade temos. Parece-me que passa-se o mesmo na vida. Se não formos à procura dos outros, não somos vistos nem encontrados.

É claro que é necessário ter conteúdos interessantes no blog. Provavelmente na maior parte das vezes, se fosse eu a visitar este blog, não ficaria fã. Mas isso não posso mudar. Esta é a liberdade da internet, podemos publicar o que quisermos, mesmo que não interesse a mais ninguém. É triste e solitário, mas é verdade. No entanto acho que tenho alguns leitores.

Desde meados de Setembro tenho activado neste blog uma funcionalidade camada Google Analytics. Desde o dia 16 de Setembro até ao dia 30 de Novembro tive 897 visitas, com a visualização de 1397 páginas. O dia em que tive menos visitas (3) foi o dia 27 de Novembro e o dia com mais, curiosamente foi o dia 29 de Novembro, onde estiveram aqui 30 visitantes. Tive uma média de 18 visitas nestes 76 dias. A taxa de abandono é de 76%, ou seja, interpretação minha, que essa percentagem corresponde aos número de pessoas que vieram aqui parar, mas não ficaram para ler. Mesmo assim não é mau.

O Google Analytics tem muitos parâmetros estatísticos. Um interessante é o local de onde vieram as visitas. Das 897 visitas, 447 vieram de Portugal e 414 do Brasil. Muito curioso. Outro dado interessante é o que motiva as visitas. As palavras chave mais usadas foram o apadrinhamento à distância e SuperFM.

No entanto o conteúdo mais visitado tem sido o religioso. Isto mostra dois sinais. Muita gente anda à procura de assuntos religiosos, o que é bom. A procura católica e/ou cristã é um bom sinal. Muita gente procura as reflexões das leituras de domingo. Outro aspecto interessante é que as outras páginas são menos visitadas ou procuradas. Este blog não é mono-temático, tal como eu não tenho um só interesse.

Aquele aspecto da publicidade é interessante. Desde o dia 19 de Outubro que tenho um outro blog (cujo link se encontra perto do cabeçalho) e desde o dia 26 desse mês só tive 23 visitas. Resolvi experimentar a ver quantas pessoas iriam deste blog para a minha colónia. Curiosamente só teve 4 visitas através do blog principal. A maioria (12) veio através do blogger, provavelmente pessoas a passear de blog em blog (como eu tenho feito algumas vezes a fim de encontrar alguma coisa de interesse). Isto quer dizer que os leitores habituais no Reino não procuram ver se há novidades. E porque procurariam? Normalmente os donos dos blogs avisam quando há alguma novidade.

Enfim, já pensei muitas vezes acabar com o blog. Quando pensei mais seriamente acabei por criar mais um. Irónico, não é? Neste próximo ano o que vou fazer? Não sei. Provavelmente vou continuar a publicar como tenho feito nas últimas semanas. Talvez não publique tanto, tenho saudades dos tempos iniciais em que tinha tanto para dizer. Agora... agora não tenho e temo que cada vez tenha menos. Estarei aqui a escrever no próximo 2 de Dezembro? Não faço ideia.

Bom aniversário para vocês, meus leitores.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

No fim-de-semana descobri esta banda portuguesa na terceira série dos Discos Optimus (que por sinal está muito boa). Estou fascinado com a sonoridade e energia que eles põem nas suas músicas. No que diz respeito a dança eu sou como uma estátua, mas aos ouvir estas músicas o meu corpo quer mexer, movimentar-se. É uma música muito rítmica, que apela ao meu lado tribal, ancestral. Os músicos afirmam que esta música tem uma componente de trance muito forte e é verdade.

Juntemo-nos à volta da fogueira para levantar pó do chão.
Aqui fica o link para o myspace

http://www.myspace.com/olivetreedance

E vídeos







E aqui fica uma entrevista

Sobre o feriado de hoje

Não é irónico que no dia em que se comemora a restauração da independência seja assinada a entrada em vigor oficial do Tratado de Lisboa? Comemora-se a independência com a entrada em vigor de um tratado que diminui a nossa soberania. É giro.

Por outro lado, este dia tem mais uma ameaça à sua memória. Como se celebra o dia Mundial de Luta Contra a Sida, este dia nas gerações mais novas será lembrado mais pela doença do que pela História.