terça-feira, 10 de março de 2009

Leituras fora do país

Já falei aqui de uma passageira habitual no autocarro, que eu acho que é imigrante de leste. Acho que é imigrante porque já a vi com um livro que me pareceu estar escrito no alfabeto cirílico. E é sobre as leituras dela que quero escrever.

Da última vez que a vi trazia um livro chamado “Diário da Princesa”. Fui à net para confirmar o título e descobri que é uma colecção de livros infantis. Da primeira vez que reparei nos livros que trazia o livro era uma colecção de histórias populares portuguesas. Parece-me ela anda a ler os livros da filha. É uma boa forma de aprender o português.

Agora eu pergunto, estão a ver algum emigrante português das primeiras gerações preocupar-se em aprender a língua do país de acolhimento lendo os seus livros? Não me parece. Na minha família tive dois tios emigrados, um deles é analfabeto e o outro, talvez tenha tido a preocupação de aprender a ler, talvez através de jornais, infelizmente não tive muito contacto com ele para saber.

Mas de acordo com o estereótipo do português médio das décadas de sessenta, setenta e oitenta, não parece que os portugueses em França ou Alemanha andassem a ler livros nas línguas locais. No máximo leriam A Bola.

Isto faz-me pensar noutra coisa. A nossa cultura é muito frágil à influência estrangeira. Quantos e quantos filhos de portugueses pouco sabem da nossa língua? Cheguei a ouvir dizer, nos casamentos mistos, que os filhos normalmente falam em casa a língua do país onde estão. Não estou a ver isso acontecer com os imigrantes de leste e também não se vê com a comunidade africana, a maioria é bilingue, se não mesmo trilingue.

É por isso que a colega do autocarro não tem problemas em aprender o português, nem tem vergonha nenhuma de falar com a filha em público na sua língua mãe. Tenho aqui uma colega no trabalho que é de origem francesa e que enquanto a filha era bebé sempre lhe falou em francês. Uma vez veio cá visitar-nos e achei bastante carinhosa esta ligação mãe-filha.

Porquê que este fenómeno acontece? Será porque estes imigrantes são em média bastante qualificados academicamente? Nas novas gerações de emigrantes portugueses, que parecem-me bem mais qualificadas, a cultura e língua portuguesas estarão mais seguras? Estarei a ver mal a situação?

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