quinta-feira, 26 de março de 2009

Futuro

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Obtido em "http://pt.wikisource.org/wiki/Mudam-se_os_tempos,_mudam-se_as_vontades"

A Carris teve uma iniciativa para comemorar o dia mundial da poesia, no dia 21. Quando ela promove este tipo de iniciativas costuma ter pendentes uns avisos em cartão nos autocarros. Num deles está este soneto do Camões.

Faz todo o sentido este poema circular por Lisboa, em autocarros, no século XXI. O tempo é composto de mudança. Na minha caminhada matinal vinha pensar na volta que o mundo dá. O Poeta não tinha nenhuma hipótese de imaginar que o seu poema sobreviveria até ao nosso século. Não era possível imaginar que andaria pelas ruas da capital, dentro de uma coisa que nunca sonhou vir a existir.

Passaram-se quase quatrocentos e trinta anos da sua morte e se ele regressasse certamente não reconheceria nada. O que é que ele pensaria sobre como seria o futuro? Pensaria que a sua obra chegaria tão longe?

E nós? O que acontecerá daqui a quatrocentos anos? Sobrará alguma coisa do que agora fazemos? Ainda se falará do Camões? Eu tenho uma enorme curiosidade sobre o futuro. Ainda existirão seres humanos? Como viverão?

Não podemos criar uma projecção de acordo com a evolução dos últimos quatrocentos anos, porque nos últimos cem tem havido uma aceleração muito superior aos trezentos anteriores. Uma coisa perece-me certa, se ainda existir humanidade, os problemas existenciais do século XVI, que se mantém no século XXI, continuarão a existir.

Tenho curiosidade sobre o futuro.

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