Cheguei a esta frase depois de ouvir e rezar com um dos ficheiros que levei nas férias do Passo a Rezar. Fizeram-me alguma companhia. Escrevi esta frase com base, quase citando, no que foi dito lá.
A frase não é minha, mas faço-a minha.
“Só somos realmente donos de algo quando o damos”.
Os Arcade Fire têm uma forma de promoção ao seu novo disco com um filme interactivo. É preciso ter o browser Google Chrome, mas podem fazer o download e não o terem como browser predefinido, como eu.
O filme usa o tema "we use to wait" e nós podemos escolher uma rua, é pedida a rua da nossa infância. Durante o filme iremos ver imagens da rua escolhida. Passamos a ser uma personagem do filme e podemos escrever um postal que poderá ser guardado ou enviado para a base dados do filme. É possível que alguém o receba mais tarde.
A minha relação com a poesia é estranha. Gosto de escrever versos (raramente atrevo-me a chamar poesia ao que escrevo em verso), mas ler é já outra história. Desde os tempos de escola que sempre tive muita dificuldade com a poesia.
É estranho para quem gosta de escrever e ler, não gostar de ler poesia. Não gosto particularmente porque tenho dificuldade em entender o que leio. Na leitura sou muito pragmático, tenho que perceber o que estou a ler. Talvez tenha sido formatado pela corrente realista.
O meu poeta preferido é o Cesário Verde. A sua poesia é realista, fala dos locais onde andou, faz descrições dos cenários e a poesia entra nas entrelinhas, na mistura de temas. Está tudo claro e límpido.
O Fernando Pessoa e companheiros de corpo deprimem-me, embora o único poema que sei de cor seja “Natal na província neva”. Há demasiado absurdo, vazio nos poemas deles.
Camões é um clássico, trágico e por isso deprimente também. Está longe de mim no tempo e na vivência.
Agora no Verão li a poesia do José Tolentino Mendonça como já escrevi há tempos. Finalmente encontrei poesia que não me deprime. Isso é excelente. Mas as dificuldades continuaram. Muitas vezes não faço ideia do que ele está a escrever. Usa imagens e combinações de palavras que pouco sentido me fazem, apesar de ficarem bem juntas. Na primeira metade do livro a palavra fogo aparece muitas vezes, algumas delas a despropósito.
Este livro “A noite noite abre meus olhos” é uma recolha dos primeiros livros num só volume. Devo confessar que só gostei mais do livro “Estrada Branca”. Nele os poemas falam mais claramente de Deus e por isso gostei mais, até porque eu queria ler poesia de cariz espiritual.
Posso dizer que gostei do livro, mesmo não gostando por aí além de ler poesia. Gostei apesar de não haver uma rima sequer em todo o livro. E eu gosto de rima, apesar de isso ser coisa ultrapassada. Em alguns poemas cheguei a ver versos a terminar com o pronome “e”, algo impensável até ao início do século XX. Não entendo o tamanho dos versos, a configuração das estrofes.
Eu sou muito rígido no que diz respeito à estrutura dos poemas. Já escrevi versos livres, mas sinto-me mais à vontade com versos com métrica fixa e estrofes claras.
Em resumo a palavra glossolália aplica-se metaforicamente a mim. Tenho a capacidade de escrever versos, que talvez ninguém entenda, mas não tenho a capacidade entender línguas estranhas. Glossolália era um carisma que São Paulo fala nas suas cartas. Havia outro carisma que consistia em entender diversas línguas. Eu estou, no que diz respeito à poesia, na glossolália.
Jesus como bom Mestre não se limita a doutrinar do alto de uma cátedra, de um púlpito, de um palco, de um palanque. Ele mistura-se com a realidade e nela, após uma observação atenta, ensina a forma de sermos melhores em todas as situações. Dentro da realidade a Sua acção ajuda a transformar, a melhorar essa realidade. É o fermento que transforma a farinha.
Hoje Jesus foi convidado para uma refeição na casa de um fariseu proeminente na localidade onde estavam. Perante os comportamentos observados Jesus ensina que a conduta que agrade a Deus é a humildade. Porquê? Porque quem não é humilde acaba por mais tarde ou mais cedo substituir-se a Deus. Quando falta a humildade a noção das distâncias entre nós e Deus, entre nós e os outros, entre nós e as nossas acções, deturpa-se e facilmente nos convencemos que somos algo que na realidade não somos.
O meu pároco disse na homilia de hoje uma definição de Santa Teresa de Ávila para humildade. Ser humilde é viver na verdade. É humilde quem vive na verdade de quem é, nas coisas boas e nas coisas más. Quem se conhece e reconhece as suas fragilidades. Quem sabe que as suas qualidades não são sua propriedade, mas dons de Deus, dádivas, cheques ao portador que um dia teremos que cobrir. Se somos bons em alguma área, se somos reconhecidos e estamos nos primeiros lugares, é porque Deus quis, permitiu e ajudou. Viver na verdade é muito difícil, não é?
Outra vertente do Evangelho de hoje aborda a gratuitidade. Jesus na primeira parte falou para os convidados do banquete, agora dirige-se ao anfitrião. O bem que devemos fazer não pode estar à espera de retribuição. Uma coisa que sempre me mete confusão são os benefícios fiscais que os Estado concede aos donativos. No início de cada ano começa-se a ouvir no final da missa o aviso para quem fez donativos se dirija à secretaria da igreja para levantarem a declaração para o IRS. Então faz-se um donativo e recebemos a retribuição no IRS? Compreendo que seja um incentivo para a solidariedade, mas de acordo com os ensinamentos de Jesus parece-me mal (apesar de já ter usado esse benefício no meu caso por causa do apadrinhamento na Helpo). Mas quem sou eu?
Na gratuitidade entra, a meu ver, a questão das promessas. Compreendo que a dor leve muita gente a fazer promessas a Deus, Nossa Senhora ou a um qualquer santo, mas quantas vezes isso não está carregado de comércio? Onde fica a gratuitidade do Amor de Deus? Do nosso amor a Deus? Quantos santos terão feito promessas? Muitos fizeram penitências bem mais duras que as promessas que se vêem por aí, mas foram gratuitas, em benefício de outros, desconhecidos, pelos pecadores (vejam o caso dos Pastorinhos). Usar de gratuitidade, e já agora de humildade, é ajudar alguém que nos queira mal sem que essa pessoa alguma vez saiba e depois esquecermos que a ajudámos.
Se houve algo que marcou as minhas férias, agora terminadas, foi a companhia do disco The Suburbs dos Arcade Fire. Ouvi-o intensamente durante estes dias. Usei-o para banda sonora da escrita que estive a fazer, de viagens de autocarro, para fuga da realidade, na medida do possível, para fazer companhia.
O primeiro disco deles, Funeral, é um marco da música deste século e certamente um dos melhores da primeira década. Tem músicas viscerais que saem da alma e elevam-nos.
O segundo disco, Neon Bible, é diferente. Não sei se é só da capa, mas é mais negro que o dedicado aos entes falecidos do disco anterior. Fala de uma sociedade religiosamente fanatizada e ainda traumatizada com o 11 de Setembro. Tem duas músicas que gosto muito (intervention e my boby is a cage) e que são as que normalmente ouço, as outras não me tocam.
Com The Suburbs os Arcade Fire regressam a uma certa jovialidade do primeiro disco sem a sua espectacularidade. É um disco mais calmo, mesmo em Month of May, quem é mais ritmado. Acho que é quase um disco conceptual, as músicas invocam imagens comuns: final da idade da inocência, tempo passado no bairro com os amigos nos tempos livres, rua de moradias muito americanas, que por cá não há. Os suburbios portugueses são compostos por blocos de prédios, geralmente com pouco ordenamento urbanístico. Os suburbios do disco, e talvez da adolescência dos Arcade Fire, são bairros de moradias, com relva em frente da casa, garagem e traseiras onde se joga basquetebol ou basebol. No entanto a idade retratada no disco é igual tanto lá como cá.
Ora vejam o vídeo da actuação que eles tiveram no dia 5 passado e que foi transmitida em directo pelo Youtube. Infelizmente não pude ver porque no dia seguinte parti para o Algarve e o concerto foi de madrugada. Neste tema, que dá o nome ao disco, podemos ver imagens daquilo que vos falei, na imagens que eles projectaram no palco.
Mas o tema que mais gosto é o Ready to Start, no cd vem logo depois do The Suburbs. Este Ready to Start foi o mais tocou no meu mp4.
Mais uma vez tenho que realçar a entrega do grupo, bem grande por sinal, às músicas, à sua execução. Mais do que ouvi-los é muito bom vê-los. E o youtube nisso tem nos ajudado muito. Aqui fica mais uma música, desta vez com a esposa do Win a cantar. É uma música muito jovial. Por outro lado este grupo de multi-instrumentistas causam em mim a sensação de que posso um dia vir a integrar um grupo como o deles, que a minha fraca voz também pode fazer música. Devaneios...
Este espectáculo foi filmado por Terry Gilliam que fez parte dos Monty Python. Aqui fica um vídeo gravado nos bastidores.
Pois é, finalmente regressei das férias daqui, do mundo virtual (amanhã volto ao trabalho). E começo já por aí. Eu tinha a intenção de vir ver o blog e o mail pelo menos duas vezes, mas o cibercafé onde costumava ir mudou de política e agora pede consumo pelo acesso à net, que por usa vez é pago. Eu pensei cá com os meus botões que era um abuso e que não estava a ressacar tanto assim para consumir, nem que fosse um descafeinado. Já que estava de férias e então seriam mesmo férias da internet também.
E fiz bem. O blog só tinha dois comentários para publicar (obrigado por eles). No mail não havia nada de especial ou urgente. Nos jogos (cantr II e Hattrick) correu tudo bem. No cantr nenhuma personagem morreu e no Hattrick mesmo sem fazer equipas consegui vitórias totalmente inesperadas nos jogos de seniores. Ainda não vi a academia.
Ainda no que diz respeito à net não tive ainda tempo para ler os blogs que sigo e actualizar-me sobre o que se passa ou passou pela blogsfera. Se calhar vou precisar de férias para descansar do regresso de férias.
Nos últimos dias tenho pensado no que dizer nesta primeira publicação. E chegado o momento começo a ficar sem ideias sobre o que dizer. Estranho, não? Enfim, as férias correram mais ou menos como esperado. Tive tempo para me aborrecer com as questões familiares (o meu pai e o desgaste da minha mãe); tive tempo para caminhar um pouco; rezar ou simplesmente estar disponível para Deus; li poesia; escrevi um pouco à mão (não levei o portátil) num projecto que estava parado; escrevi poucos conjuntos de versos (embora um seja bem longo, estejam atentos à colónia blog aqui ao lado); vi muitos episódios da série Ossos que está a dar na rtp2 ao início da tarde; e ouvi muito o último disco dos ArcadeFire (escrevo neste momento ao som deles), que comprei na véspera de ir para baixo juntamente com os dois últimos cds dos Muse (também ouvi bastante), ouvi muito Metallica também.
E para texto de regresso já escrevi bastante, mas acreditem que não devo ter muito mais para dizer, pelo menos de interessante.
1*Faz-me justiça, ó Deus, e defende a minha causa contra a gente sem piedade! Livra-me do homem mentiroso e perverso.
Como tenho sede! Como tenho sede, estou mais debilitado. Senhor, mesmo que não possa desde já contemplar o Teu rosto, como gostaria, fortalece-me contra os meu inimigos. Meus inimigos que vivem dentro de mim, forças, tendências, que me levam a fazer o que não quero. Livra-me do eu mentiroso e perverso. Tenho sede, mas não quero usar isso para justificar-me, meu Deus.
2*Tu, ó Deus, és o meu refúgio. Porque me rejeitaste? Porque hei-de andar triste sob a opressão do inimigo?
Tu és o meu marco milenar, farol em costa deserta. Quando sinto saudades de Ti, concentro-me nesta sede e faço dela oração. Rejeito este sentimento de rejeição. Sei, acredito, sei que és a minha segurança. A minha fraqueza leva-me à tristeza e ao medo. O meu maior inimigo sou eu quando me esqueço desta sede.
3Envia a tua luz e a tua verdade, para que elas me guiem e conduzam à tua montanha santa, à tua morada.
Aqui estou de cabeça baixa, prostrado, esperando por Ti. Vivo num mar agitado de ondas de alegria e tristeza. De sede e esquecimento. Envia o Teu Santo Espírito para me fortalecer e encaminhar rumo a Ti. Minha fonte de água viva.
4Eu irei ao altar de Deus, ao Deus que é a alegria da minha vida. Ao som da harpa te louvarei, ó Deus, meu Deus.
Sei e acredito que a minha hora chegará. Minha sede será saciada. Isso dá-me forças e alegra. Haverá festa. Um vitelo gordo será preparado para todos, um anel ser-me-á posto no dedo e roupas limpas cairão sobre este corpo cansado de caminhar, penar e cair. Eu que não sei cantar, cantarei só para Ti. Porque a minha sede será saciada. Sei.
5Porque estás triste, minha alma, e te perturbas? Confia em Deus: ainda o hei-de louvar. Ele é o meu Deus e o meu salvador.
Porque te entristeces alma minha? Se sabes que Ele nos espera, se sabes e acreditas, porque te perturbas?
Força. Fortalece-te com esta sede. Fortalece-te com este desejo. Sê luz e esperança. Caminha. Caminha.
7A minha alma está abatida: por isso, penso muito em ti, desde as terras do Jordão e dos montes Hermon e Miçar.
Longo caminho tenho que andar até chegar ao Teu oasis. Longo, longo, minha alma entristece-se. Tenho sede e raramente chego a Ti, raramente Tua sombra dá-me descanso neste sol de meio-dia. Penso em Ti e sinto saudades dos breves momentos que partilhámos juntos. Tão lá para trás!
8*De abismo em abismo ressoa o fragor das águas revoltas; as tuas vagas e torrentes passaram sobre mim.
Oh, como és grande! Tanto que mal te vejo. Sei que estou dentro de Ti, mas tudo me parece um sonho, uma miragem causada pela sede e por este sol de meio-dia. Esta sede avassala-me ou serás Tu? De abismo em abismo o som das águas chega a mim, mas elas, mas elas não. Aqui estou e Tu escondes-Te por trás da luz que me encadeia.
9Durante o dia, o SENHOR há-de enviar-me os seus favores, para que eu reze e cante, à noite, ao Deus que me dá vida.
Mesmo que os meus sentidos ainda corrompidos não Te vejam, sei, acredito, sei que Tu olhas por mim. Sei, acredito, sei que envias o Teu Espírito para fortalecer o meu caminhar, para guiar-me e não entrar em sendas errantes. O teu Espírito fortalece-me, mesmo que a minha mente e coração não o sintam, mas quando ao deitar estou feliz, alegre, jubiloso, é para Ti que endereço tudo, mesmo que o coração não saiba e a mente não diga.
10Quero dizer a Deus: "Tu és o meu protector, porque te esqueces de mim? Porque hei-de andar triste sob a opressão do inimigo?"
É nesses momentos de alegria que Te agradeço tudo, tudo o que recebo de bom e de mau. A alegria e a tristeza. E canto com o grilo na sua toca. E canto o descanso da noite. Por vezes a noite é mais forte, o sono arrasta-me para terrenos de pedras aguçadas. Rasgam-me a pele e a sede é maior. De estás do meu lado, porquê estes sonhos maus? O sonho é o nocturno reflexo real da irrealidade do dia. Por vezes a sede diz-me que Tu me esqueceste, meu Deus.
11Quebram-se os meus ossos, quando os inimigos me insultam e repetem a toda a hora: "Onde está o teu Deus?"
E voltam os pesadelos, as dores. Eu sofro com esta sede e há quem não Te queira. Como é possível? Minhas entranhas revoltam-se. Uns tudo têm, não sentem esta sede e eu aqui, mendigando, arrastando-me por esta estrada de aguçadas pedras e vidros em vez de areia. O seu desprezo por Ti magoa-me. É como se dissessem: tens essa sede toda porque queres, só há vazio, sacia-te nos mesmo que nós.
12Porque estás triste, minha alma, e te perturbas? Confia em Deus: ainda o hei-de louvar. Ele é o meu Deus e o meu salvador.
Mas eu sei, acredito, sei de saber aprendido e vivido que Tu és o meu Senhor. Que Tu és a minha água. Por isso, alegra-te minha alma que a tua água chegará. Hei-de beber tuda quanta quiser e depois nadar, nadar no oceano do Teu Amor. Não mais terei sede. Meu Amor!
Nota prévia: Nestes dias de férias longe da net, deixo-vos a minha visão sobre um dos salmos que mais gosto. Os salmos 42 e 43 formam na realidade um só, pois a temática é comum e, caso único no saltério, há um refrão, um versículo que se repete duas vezes.
42 (41) NOSTALGIA DE DEUS
1Ao director do coro. Poema dos filhos de Coré.
2*Como suspira a corça pelas águas correntes, assim a minha alma suspira por ti, ó Deus.
Na Palestina a geografia é agreste, há zonas de deserto. Imagina-se a sede da corça, talvez esteja a amamentar, é assim que o salmista se sente. Quanto mais me dou, mais sede tenho.
3*A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo! Quando poderei contemplar a face de Deus?
Sou um deserto, busco-Te, e por mais orações, missas e livros que entrem na minha vida, sinto um vazio, uma sede infinitos. Onde estás, Senhor? Preciso de Ti. Acendeste esta sede e agora onde estás? Quero-Te a Ti. Não tardes!
4*Dia e noite as lágrimas são o meu alimento, porque a toda a hora me perguntam: "Onde está o teu Deus?"
Onde está Ele, perguntam-me. Esta sede é uma sombra que me acompanha. Nada posso, pois sou todo Dele. Anseio por Ele. E não me compreendem. Porquê? Porque a imagem que têm de Deus é limitada. O vêem, o que tocam, o que compreendem é o seu deus. Sofro porque afastam-se Dele. Sofro porque sentem esta sede e querem saciá-la com terra, lama e pus.
5A minha alma estremece ao recordar quando passava em cortejo para a Casa do Senhor, entre vozes de alegria e de louvor da multidão em festa.
Mas Ele já me tocou, já deu a cheirar o seu perfume inigualável. É por isso que tenho sede. Saudade daqueles momentos. Tão poucos. Agora sei que pouco de mim esteve ali. Dei-me tão pouco e a sede fica maior ao compreender isso. Meu Deus, que festa faria se Te voltasse a encontrar! É por isso que à vezes vou em festa à Tua casa. Quando a sede é maior e sinto uma gota, uma pequena gota, a tocar-me nos lábios.
6Porque estás triste, minha alma, e te perturbas? Confia em Deus: ainda o hei-de louvar. Ele é o meu Deus e o meu salvador.
E canto com as aves. E canto com a brisa da manhã nestes dias estivais. Canto com as árvores que se fortificam e escurecem suas folhas, cheias de vida. Canto com a seiva que corre, com o calor que tudo madura e faz chegar ao zénite da sua existência. Tu és o meu Deus e Salvador. Tenho sede, mas sei que serei saciado. É esta a minha esperança e força.
As leituras deste domingo abordam a nossa relação com os bens e a sua posse. Na primeira leitura o autor, depois de reflectir e estudar a condição humana, concluiu que nada neste mundo é sagrado. Diz que tudo é vaidade. Não tenho a certeza se têm a mesma origem etimológica, mas a palavra vaidade aqui está com o sentido de vacuidade. Todo o esforço humano para adquirir a felicidade pelas suas mãos e meios é vazio.
No Evangelho Jesus interpelado por alguém que Lhe pediu ajuda numa questão de herança, aponta para a nossa atenção para algo mais profundo. Qual a nossa relação com os bens materiais? Porquê que pedimos a Deus para resolver os nossos problemas materiais? Na semana passada Jesus dizia-nos que Deus só nos dará os Seu Espírito. Então qual é o problema de Deus com os bens materiais? Não foi Ele que os criou?
Ao longo de toda a História da Salvação relatada na Bíblia o que encontramos são casos em que o Homem esquece Deus em favor do que é material: riquezas, poder, política. Sempre que Deus saiu do coração do Homem para dar lugar a uma de essas coisas, só houve infelicidade. A grande luta dos profetas contra a idolatria radica aí. O Povo substituía a confiança na ajuda de Deus pela confiança de uma aliança política, da riqueza do comércio, do poder militar conquistado. Quando o Homem se convence que é ele a fazer as coisas, afasta-se de Deus. E quando afasta-se de Deus nascem a injustiças. O profetas falaram muito do abandono ao qual eram votados os órfãos, as viúvas e todos os necessitados.
O homem rico da parábola do Evangelho de hoje em vez de partilhar a riqueza adquirida, endeusou-a, pensou que viveria muito tempo graças a ela. A riqueza era o seu Deus. Se tivesse partilhado, teria ganho uma fortuna aos olhos de Deus, mais seria sinal que Deus estava no seu coração.
Quais são as nossas riquezas? O que nos afasta de Deus? Segurança económica? Interesses intelectuais? Paixões, obrigações, passatempos? Hábitos, medos, opiniões? Falta de tempo? Falta de talento? Talento para as artes? Desporto? Culinária? Obrigações profissionais, religiosas, sociais, familiares?
Se eu morresse agora, que riqueza encontraria junto de Deus? Serei rico para Ele?