Quando pensei em escrever este texto tinha como título para ele algo género: lista de medos e preocupações, mas ao escolher os elementos da lista lembrei-me da Anatomia de Grey. Vá-se lá saber porquê...
Ora então é assim: para este ano tenho algumas preocupações e medos, mais especificamente para os próximos meses, dois, dois e meio.
Amanhã começa a sério o período mais excitante e cansativo, assustador e complicado do ano a nível de trabalho. A minha empresa tem que ter o ano de 2010 encerrado financeiramente na sexta-feira. Para tal temos que ter todas as facturas de fornecedores contabilizadas na terça. Coisa impossível, já que muitas ainda não saíram para o correio. Aqui entramos nós do Controlo de Gestão, temos que fazer previsões, coisa que odeio. Porquê? As previsões podem ser de dois géneros: estimativas com base nos custos do ano até à data; com base em faxes, mails e notas de encomendas. O que me faz desgostar fazer previsões é ter que contabilizar aqueles custos. A Contabilidade e a Tesouraria costumam contabilizar nas outras alturas, mas para as previsões somos nós. Ora não temos a prática do dia-a-dia e levo muito tempo a descobrir quais as contas e como devemos dividir os custos pelos centros de custos e actividades. Enfim, é chato e trabalhoso, para além de estar sujeito a mais erros por falta de hábito. Por outro lado lá para Março terei que analizar as contas de acréscimos e regularizar as previsões. Uma chatice.
Para além destas previsões tenho que conferir as vendas e o valor de rappel (desconto financeiro que se dá aos melhores clientes como incentivo ao investimento) dados pelo departamento comercial. Esta conferência terá como consequência mais previsões. Terei que comparar os valores contabilizados das vendas com os dados do programa de facturação para ver se não houve nenhuma falha e se contabilizámos tudo nos períodos certos.
Há diversos moimentos a ser feitos nas contas de acréscimos e deferimentos na área dos salários. Não sei se serei eu a fazer isso este ano. Como já aqui disse houve a mudança da base de Oracle para Postgres e isso implica mais tempo gasto em procedimentos informáticos.
Terei que fazer conferências dos movimentos dentro do grupo de empresas, nós somos um grupo de dez com relações entre elas e tenho que verificar se o que uma registou a outra fez o correspondente do outro lado. Normalmente leva pouco tempo, mas nunca se sabe... o volume de movimentos neste mês de Dezembro duplica ou triplica e erros sempre acontecem.
Por causa disto e de outros pequenos pormenores estou desconfiado que o próximo fim-de-semana será passado no escritório, para na segunda-feira dia 10 os nosso patrões franceses não nos chatearem.
Nesta semana, começando já amanhã, temos que gerir ansiedades, tensões, pressões, todo um stress gigante que altera os nossos comportamentos. Há quem ande preocupado com a saúde no seio da sua família, vários familiares, várias patologias. Há quem seja demasiado obcecado com o que faz que não nos dá espaço para a descontracção. Todo o grupo de pessoas tem um líder natural, quando essa pessoa tem problemas pessoais costuma reflectir-se no grupo. Num período de grande tensão como vai ser esta semana vão surgir conflitos. A bem da verdade, já vêem da semana passada. É esta parte da lista que me fez lembrar a Anatomia de Grey ou outra qualquer série que aborda o lado pessoal das personagens num qualquer contexto profissional.
Outros medos e preocupações passam pela pressão e medo que sinto por causa do carro que comprei. Ainda não estou minimamente em condições para pegar nele, mas só depois do meio do mês é que vou voltar às aulas. Temo perder a pouca prática ou ritmo que tenho agora. O pior é que amanhã começam as obras nas instalações para onde iremos mudar (causa única para eu comprar a porcaria do carro).
Sempre que me ponho a pensar naquilo em que me vou meter só penso que não sou capaz. Certamente há pessoas assim: incapazes de conduzir um carro. Pergunto-me como é que consegui tirar a carta. Não me lembro de ter tido estes problemas em manter a direcção do carro. Terei algum problema físico? Será o medo? A contrariedade? Vê-me muitas vezes à mente a ideia de que estou a caminhar para o desastre. Se continuar a insistir em conduzir, irei ter um acidente pouco depois de pegar no meu carro. Ou pior, uns tempos depois, quando já me sentir mais confiante. Outro problema é que tenho mais medo que sair deste emprego e procurar outro. Sou um cobarde que foge de medo em medo.
Depois tenho a situação do meu pai. Tenho que ir pedir mais receitas ao neurologista. Sempre que o faço por telefone, sofro. Odeio telefonar, sobretudo para sítios e pessoas que não tenho confiança. Ir lá fazer o pedido é um desperdício de tempo, se pode ser feito por telefone e tempo é coisa que não vou ter estas duas semanas. O meu pai está cada vez mais difícil de aturar, mas vejo-me sem saídas fáceis. Pô-lo num lar, estou convencido que seria uma sentença de morte em poucos meses. Se ele se recusa a comer connosco, o mesmo aconteceria lá, mas lá não haveria ninguém que insistisse o que nós insistimos. Tenho o exemplo de uma vizinha que foi-se degradando muito depressa. Em casa não teve uma pessoa que a acompanhasse mais de perto. Falhava tomas de medicamentos, recusava-se comer. Foi para um lar e depois para outro e ao fim de poucos meses morreu. Foi a doença, mas também foi fraqueza em combatê-la. No entanto tenho que tomar uma decisão e arranjar apoio domiciliário.
Preocupa-me o dinheiro que irei gastar com o carro, principalmente se arranjarmos apoio domiciliário. O ano será mais caro e terei menos folga financeira graças aos impostos.
Preocupa-me o futuro. A solidão que um dia inexoravelmente virá e que seja o mais tarde possível. Se não estou preparado para conduzir, como poderei estar preparado para viver sozinho? E se eu herdar a doença do meu pai? Quem vai cuidar de mim? Quem vai escrever que anda preocupado com a forma como me vai cuidar?
Preocupa-me o que deixarei quando partir. Quase de certeza não deixarei descendência. Deixarei livros? Versos? Alguém os lerá? Para quê tantos sonhos, se depois cai-se no esquecimento? Cair não se cai, se nunca se deixou de ser anónimo?
Tal como na Anatomia de Grey, a personagem principal da Anatomia de Jota anda mergulhada em depressões e dúvidas existenciais, mas ao menos a Meredith tem um par...
P.S.: Ok, fiquei deprimido. Até que estava bem disposto, mas deu-me isto. Na quinta-feira publiquei um post que me animou, mas na sexta o dia correu mal. Talvez amanhã seja diferente.