sábado, 31 de julho de 2010

Aniversários


Já está quase a passar a data, mas aqui fica: o Harry Potter faz hoje, 31 de Julho, 30 anos. Parabéns!



A autora JK Rowling faz hoje 45. Parabéns para ela também.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Recordações da minha adolescência num final de dia de Verão

Ontem, quando cheguei a casa, vi no campo de jogo ao pé do prédio um grupo de brasileiros a fazer um churrasco. Há umas semanas o campo de futebol que existia ali foi substituído por um mais pequeno e o resto do espaço foi aproveitado para ter mesas com tabuleiros de xadrez pintados no tampo e dois aparelhos de ginástica para os braços e pernas.

Na mesa maior o grupo instalou-se. Havia febras num grelhador eléctrico, alimentado por uma extensão que descia de um terceiro andar dum prédio ali perto. Havia muita e muita cerveja. Havia um automóvel com as portas aberta a debitar música sertaneja. E foi esta música que me motivou esta publicação.

Antes de falar da música, quero louvar aquele tipo de confraternização. Pelo que sei da cultura brasileira é normal um grupo de amigos juntar-se para um “barbecui” onde jorra a cerveja e o convívio. Não se vê este espírito por cá, pelo menos na cidade. Acho eu, a não ser que eu viva ainda mais afastado da realidade do que julgava.

Ora, voltando à música que eles estavam a ouvir. Por causa dela, recordei uma telenovela que gostei muito no início dos anos noventa: Histórias de Ana Raio e Zé Trovão. Esta novela é muito diferente da maioria, só tendo como par a novela Pantanal dos mesmos autores e realizador. Basicamente gravada em exteriores, tem um ritmo mais lento e mostra um Brasil diferente das novelas da Globo.

A história gira à volta de uma companhia de rodeos itinerante. Zé Trovão é a estrela e Ana Raio é o seu novo par. Ela tem uma história no passado de sofrimento. Foi violada e engravidara. O violador roubou-lhe a filha, Maria Lua, e desde então a Ana anda à procura da filha. Há muita cena campestre, de rodeos. Há romance e intriga. Amizade e companheirismo. E há a música das duplas sertanejas.

Para minha alegria fui ao youtube procurar algum vídeo da novela e descobri muitos. Desconfio que a novela está toda ali. Foi uma alegria imensa e por isso resolvi partilhar com vocês.

Este é uma música cantada pelo actor que dá corpo ao Zé Trovão.



Outra música da novela, com fotografias da novela.



E aqui fica a primeira parte do primeiro capítulo (a acção passa-se na altura em que a Ana é violada)



Esta é o genérico da novela (na minha opinião, nada de especial, mas aqui fica)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Livro para as férias

Estou quase a ir de férias. No meu caso ir de férias costuma ser um drama. Ter que sair da minha casa, enfrentar a viagem de comboio com as bagagens, o gato, as fita que o meu pai poderá fazer. É um stress.

Por outro lado, a nossa casa de férias é minúscula, vou estar em maior contacto com o meu pai e sujeito às suas traquinices que costumas ficar marcadas na pele e músculo. Terá que haver uma redefinição dos espaços. Toda essa adaptação leva tempo e tem o preço de mais nervos. Não poderei andar livremente pelos campos porque a minha mãe tem medo que alguém ou anima me faça mal.

Assim sendo, férias, férias seria se eu fizesse férias da minha família. Do trabalho poucas férias preciso, é mais da família, e isso não poderei ter naturalmente. Até me custa pensar na eventualidade de um dia viver sem eles. O que vai ser de mim?

As mudemos de assunto, pois o que me levou a escrever não é nada triste. No sábado passado comprei um livro que espero levar para ler nas férias. Tive muito sorte ou foi Deus que me encaminhou até ele.

Nos últimos tempos tenho adquirido alguma curiosidade pelo padre José Tolentino Mendonça. Um eminente teólogo, que também é poeta, escritor. Queria conhecer a sua poesia e por isso tinha o nome dele arquivado na minha memória para uma ida à Fanc. Estava a sair da secção dos livros quando dei de caras com o livro A Noite Abre Meus Olhos.



Este livro é a compilação num só livro dos primeiros livros de poesia dele. Um bolo com uma cereja no topo. De uma assentada fico com uma parte considerável da sua obra e com muita poesia espiritualmente inspirada. Para além de ser em formato de bolso, o que ma dá a garantia de poder levá-lo junto com a Bíblia, cadernos para escrever e livrinhos de orações.

A minha relação com a poesia é complicada. Tenho dificuldade em lê-la, porque por norma entendo pouco o que ela diz. Desde a escola que tenho essa dificuldade. Quando me pediam para analisar um poema era um custo. Convenci-me que sou muito linear nas interpretações que faço. Actualmente acho que o mal foi o sistema de ensino, o azar que tive em ter professores que não nos ensinaram a sermos criativos e imaginativos. A disciplina de Português devia ser dividida em duas partes: uma seria a técnica da língua e a outra a descoberta do prazer de ler. Ler poemas devia ser ocasião para os alunos aprenderem a usar a língua como veículo para a liberdade.

Foi preciso eu sair da escola para aprender a gostar de ler poemas e começar a escrever, tanto em verso como em prosa. Escrevi muita rima, não me atrevo a chamar poesia àquilo, como pode ser verificado na colónia deste reino. Escrevi por muito tempo para exorcizar as minhas tristezas, para passar da adolescência para o estado adulto. Agora raramente escrevo versos.

Voltando ao livro que pretendo ler nas férias, se tiver silêncio interior para tal. Quando regressava a casa depois de comprar o livro, li o primeiro poema e achei que o devia deixar aqui para vosso proveito.

A infância de Herberto Helder

No princípio era a ilha
embora se diga
o Espírito de Deus
abraçava as águas

Nesse tempo
estendia-me na terra
para olhar as estrelas
e não pensava
que esses corpos de fogo
pudessem ser perigosos

Nesse tempo
marcava a latitude das estrelas
ordenando berlindes
sobre a erva

Não sabia que todo o poema
é um túmulo
que pode abalar
a ordem do universo agora
acredito

Eu era quase um anjo
e escrevia relatórios
precisos
acerca do silêncio

Nesse tempo
ainda era possível
encontrar Deus
pelos baldios

Isso foi antes
de aprender a álgebra

domingo, 25 de julho de 2010

Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum – Ano C

O tema central das leituras de hoje é a oração. O que é que Abraão faz na primeira leitura se não orar? Tomemos atenção à atitude dele. Fala com Deus com a maior das delicadezas, não usa de sobranceria nem tenta fazer uma troca. Humildade, é essa a atitude correcta.

No Evangelho vemos Jesus a orar e depois de ter terminado um discípulo pede-Lhe que os ensine a rezar. Até este ponto do texto podemos perceber que Jesus rezava em silêncio, totalmente recolhido em Si, em contemplação. Os discípulos estavam habituados a rezarem os salmos, murmurando ou mesmo cantando-os. Rezar em silêncio era-lhes totalmente estranho.

(Uma curiosidade que pouco tem a ver com o assunto do texto de hoje, mas que reforça o que acabei de dizer. Durante muito tempo o acto de ler um texto, um livro era algo feito sempre em voz alta. Há relatos da antiguidade em que as pessoas que liam em silêncio eram censuras. E percebe-se porquê, numa sociedade em que o literatos eram muito poucos, se alguém lia em silêncio podia estar a esconder alguma coisa, estava a ser egoísta, podia estar a fingir, etc.)

Então Jesus ensina-lhes o Pai Nosso. Esta versão é bem mais reduzida que a de São Mateus. Provavelmente cada comunidade tinha a sua versão e estas duas foram as que se fixaram ao longo do tempo. A oração é bastante simples: louva Deus, pede o mínimo para sobreviver, pede a Paz com Deus, com os outros e consigo próprio.

Depois Jesus dedica muito mais tempo ao que Lhe interessa verdadeiramente. O que dizemos não é tão importante como com que coração o fazemos. Afirma que Deus ouve sempre os nosso pedidos e que serão sempre atendidos. Apresenta a parábola do amigo inoportuno e insistente. Compara o bem que fazemos com o bem que Deus faz.

À medida que Jesus vai falando a nossa cabeça aparecem logo duas questões. O oportunista esfrega as mãos de contente porque se Deus nos dá tudo o que pedimos, então vamos lá pedir saúde, paz para o mundo (fica mal concentrarmos-nos somente em pedidos egoístas, sobretudo dirigidos a Quem é), um bom emprego, um bom casamento, este ou aquele pedido específico. Seremos felizes, porque tudo nos será dado. O cínico olha desconfiado. Se Deus dá-nos tudo o que pedimos, porquê que há tanta gente infeliz, porquê que não tenho tudo o que quero?

Jesus tem um sentido de humor refinado. Leva todos a fazerem contas à vida, já esfregando as mãos de contentes, para de repente dar a volta ao texto. Há uma reviravolta interessante na narrativa que ilumina tudo o que foi dito antes. Vejamos o último versículo: “Pois se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que Lho pedem!”

Deus não nos vai dar dinheiro, saúde, paz, só porque o pedimos. Ele dar-nos-á algo muito mais importante. O Seu Santo Espírito. O que nós precisamos em primeiro lugar? De Deus. A nossa sede de Deus é infinita. Somos um poço sem fundo. Tendo Deus na nossa vida, tudo o resto virá, pois já somos felizes e Nele vivemos. Isto é muito sério, nós pedimos coisas, porque no fundo não sabemos falar com Deus, não sabemos abrir o nosso coração a Deus.

domingo, 18 de julho de 2010

Décimo Sexto Domingo do Tempo Comum – Ano C

Neste domingo as leituras levam-nos a reflectir sobre o acolhimento e as prioridades.

O Evangelho e a primeira leitura mostram o que é o bom acolhimento a Deus. Pois é disso que se trata, não aprestam um norma de etiqueta a nível social, mas sim para acolhermos Deus que nos bate à porta.

Olhemos para Abraão. Era um dia de calor, provavelmente estava num local deserto, com poucas sombras. Às horas de maior calor aparecem-me três desconhecidos e ele faz tudo que que está ao seu alcance para os acolher o melhor possível. Deu o seu melhor. E isto não é só cortesia cultural, pois há uma frase que diz que mostra desconfiar que ali havia acção de Deus. Ele disse: “Vou buscar um bocado de pão e, quando as vossas forças estiverem restauradas, prosseguireis o vosso caminho, pois não deve ser em vão que passastes junto do vosso servo”.

Marta e Maria abriram a sua porta a Jesus. Agora com na altura este gesto requer bastante coragem e disponibilidade. A agitação atarefada de Marta faz lembrar a atitude de Abraão. Elas sabiam que Jesus era, no mínimo, um homem de Deus, o que significava que Deus estava ali, de alguma forma. Acolher um homem de Deus em casa era o mesmo que acolher o próprio Senhor.

Então o que estas leituras nos dizem hoje? Abrimos as portas do nosso coração a Deus? As portas da nossa casa a Jesus? Umas vezes sim, outras não. Sabemos acolher Deus? Sabemos ao menos quando é que Ele nos bate à porta? Sabemos reconhecer nos sinais dos tempos esse bater?

Outro aspecto destas leituras, sobretudo do Evangelho, é estabelecer prioridades. Maria foi louvada porque soube escolher a melhor parte. A prioridade é Deus, mas é tão difícil aplicarmos isso, não é? Há pouco tempo para tanta coisa. É o trabalho. É o tempos gasto para lá chegar. É o descanso necessário para o corpo e espírito. É a lida da casa. Sobra tão pouco tempo para nós, para os nossos interesses, quanto mais para Deus?

Isto faz pensar que a sociedade também não facilita a nossa vida. Quanto tempo gastamos com coisas que havendo uma distribuição mais equitativa dos recursos poderíamos dispor para Deus? É fácil dizer isto, mas rapidamente surge-me a ideia que mesmo com muito tempo a maioria não mudaria as suas prioridades. Basta ver o tempo das férias que se aproxima: vai-se gastar mais tempo para a oração? Para estar com Deus na Sua casa? Para dar mais atenção ao próximo, que pode até estar em nossa casa, prédio ou família, que por causa da vida do dia-a-dia durante o ano não dêmos?

Tudo passa pela abertura da porta. Devemos abrir a porta e deixar Deus entrar. Fazer dessa visita a razão da nossa vida e organizá-la de acordo com essa prioridade. É possível rezar nos transportes na ida e na vinda do trabalho. É possível abdicar de meia hora do telejornal, da novela, para rezar em família. É possível rezar em família estando um ou dois membros a preparar o jantar. É possível gravar programas de televisão que dão mais tarde e acordar cedo para rezar logo de manhãzinha. É possível ler a Bíblia, um capítulo por dia, em três anos e meio. É possível tanta coisa, basta querer.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Que imagem temos de Deus?

Como se pode ver por mais esta publicação ando numa onde de Metallica. Há dias vi na Wikipedia, na página do James, um pouco da sua história. Lá vinha a falar de algumas motivações para a escrita desta música que hoje mostro. A música pouco me diz, mas já o assunto, obviamente que é outra história.

No vídeo que ponho em baixo aparece uma entrevista do James a explicar a canção. Vale a pena ouvi-la.

Esta música motivou-me para escrever algo sobre a nossa imagem de Deus. Na Wikipedia vem a dizer que o James afastou-se da religião por algum tempo. Ele foi criado numa família que professava uma das muitas variantes do protestantismo. Nessa variante é suposto Deus curar tudo e por isso os médicos não são necessários. A mãe do James morreu de cancro muito nova e recusou-se sempre a ser tratada por médicos.

Está aqui uma certa imagem de Deus, que choca com a católica, embora na Igreja Católica exista gente com imagens parecidas, basta ver os exageros em Fátima. Como é que vemos Deus. É alguém todo poderoso? O que significa o poder de Deus? Aprendi nas Oficinas de Oração e Vida que Deus é Todo Poderoso, porque pode com todo o mal. É um poder de Amor e não o poder de acção. Quem espera que Deus lhe resolva todos os problemas, está à espera de um Deus super-herói, tipo Batman.

O episódio de ontem em Faro com a IURD passa por aqui. O homem que fez aqueles estragos esperava que Deus lhe resolvesse os seus problemas depois de ter dado tudo à IURD. Isto é ou não é tentar fazer de Deus um bem comerciável? Maior pecado é da IURD que pretende vender o amor de Deus.

O Amor de Deus fez-nos livres e como livres que somos, é nossa responsabilidade resolver os problemas que nos aparecem. Podemos, devemos até, pedir a Deus orientação, fé e força, mas somos nós que temos que fazer o caminho.

Aqui fica o vídeo e depois a letra da música The God that failed dos Metallica.




Pride you took
Pride you feel
Pride that you felt when you'd kneel
Not the word
Not the love
Not what you thought from above

It feeds (it feeds)
It grows (it grows)
It clouds all that you will know
Deceit
Deceive
Decide just what you believe

I see faith in your eyes
Never you hear the discouraging lies
I hear faith in your cries
Broken is the promise, betrayal
The healing hand held back by the deepened nail
Follow the god that failed

Find your peace
Find your say
Find the smooth road on your way
Trust you gave
A child to save
Left you cold and him in grave

It feeds (it feeds)
It grows (it grows)
It clouds all that you will know
Deceit
Deceive
Decide just what you believe

I see faith in your eyes
Never you hear the discouraging lies
I hear faith in your cries
Broken is the promise, betrayal
The healing hand held back by the deepened nail
Follow the god that failed

(solo)

I see faith in your eyes
Broken is the promise, betrayal
The healing hand held back by the deepened nail
Follow the god that failed

Pride you took
Pride you feel
Pride that you felt when you'd kneel
Trust you gave
A child to save
Left you cold and him in grave

I see faith in your eyes
Never your hear the discouraging lies
I hear faith in your cries
Broken is the promise, betrayal
The healing hand held back by the deepened nail
Follow the god that failed
Follow the god that failed

Broken is the promise
Betrayal, betrayal

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Bleeding me - Metallica

Nos últimos dias ando obcecado com esta música. Toca-me tão profundamente que nem sei como o explicar. Nem é tanto por causa da letra, pois na realidade pouco sei sobre o que ela quer dizer. Imagino que seja sobre o acto de seguir em frente perante um problema, mas a melodia é linda e a energia avassaladora.


É ao mesmo tempo uma balada e uma canção pesada. É destas que gosto, aquece o coração e é visceral. Bela e brutal!


Dá-me vontade de me apaixonar.... de caminhar de mão dada... de pousar a cabeça no ombro dela e adormecer... de sentir o vento na cara e sorrir... sorrir perante uma manhã de primavera... de me sentir em casa...

Uma obra-prima da música!

Aqui numa versão com a Orquestra de São Francisco.




I'm digging my way
I'm digging my way to something
I'm digging my way to something better
I'm pushing to stay
I'm pushing to stay with something
I'm pushing to stay with something better, oooh, oooh

I'm sowing the seeds
I'm sowing the seeds I've taken
I'm sowing the seeds I take for granted
This thorn in my side
This thorn in my side is from the tree
This thorn in my side is from the tree I've planted
It tears me and I bleed, yeah... and I bleed, yeah yeah

Caught under wheels' roll
I take the leech, I'm bleeding me
Can't stop to save my soul
I take the leash that's leading me
I'm bleeding me... oh, uh I can't take it!
Caught under wheels' roll
Oh, the bleeding of me, yeah
...of me, yeah... the bleeding of me

Caught under wheels' roll
I take the leech, I'm bleeding me
Can't stop to save my soul
I take the leash that's leading me
I'm bleeding me... oh oh, I can't take it!
Caught under wheels' roll
Oh, the bleeding of me...
Oh, the bleeding of me

I am the beast that feeds the feast
I am the blood, I am release
Come make me pure, bleed me a cure
I'm caught, I'm caught, I'm caught under

Caught under wheels' roll
I take that leech, I'm bleeding me
Can't stop to save my soul
I take the leash that's leading me
I'm bleeding me... oh, I can't take it!
I can't take it, I can't take it!
Oh,oh the bleeding of me...

I'm digging my way
I'm digging my way to something
I'm digging my way to something better
I'm pushing to stay
I'm pushing to stay with something
I'm pushing to stay with something better
With something better...

terça-feira, 13 de julho de 2010

Em casa de ferreiro espeto de pau

Nos últimos tempos estive a reler os três livros do Senhor dos Anéis. Na parte final do Regresso do Rei reparei num pormenor que me escapara antes. Várias vezes é referido que o povo do Shire não reconheceu o heroísmo do Frodo e do Sam. Eles iriam ter uma pequena participação no anais da história dos hobbits ao contrário do Merry e do Pippin, cuja acção no regresso da Guerra do Anel foi decisiva para repor a normalidade no Shire.

Para quem só viu os filmes, tenho que esclarecer que estes cortaram duas partes substanciais dos livros. Uma delas foi a que diz respeito ao que estou a escrever aqui. Nos livros Saruman não morre em Isengard, atirado da torre abaixo pelo Língua de Verme. Nos livros ele fica lá preso à guarda dos Ents, mas acaba por ir embora. Vai embora e dirige-se para o Shire. Subverte tudo lá e quando os quatro hobbits regressam encontram o Shire muito mudado e quase destruído. Os sequazes do Saruman impuseram uma ditadura e aquele lugar belo e pacato transformou-se numa zona industrial à semelhança do que ele fizera em Isengard. Árvores cortadas. Rios poluídos. Degradação e decadência.

Quando os quatro hobbits chegam e deparam-se com este cenário organizam uma sublevação. Quem comanda a rebelião são o Merry e o Pippin, um deles virá a ser o Barão do Shire mais tarde. O Frodo tanta resolver a situação sem violência, mas só consegue até certo ponto. A sua participação é discreta.

O peso do efeito maléfico do Anel deixou-o marcado para sempre. Regressar a casa não o curou. A sua missão já tinha sido cumprida. Dera tudo pela destruição do Anel, salvara milhares ou milhões de vidas, contribuíra para haver futuro, para que o Shire se mantivesse um sítio pacato, mesmo tendo sofrido aquela malfeitoria do Saruman. Todo o mundo tinha-lhe uma grande dívida de gratidão. Os reinos dos Homens, dos Anões e dos Elfos reconheciam os seus feitos e os dos outros três hobbits, mas na sua própria terra não. Pareceu-me injusto, mas vendo bem, o Shire já era assim antes. O Frodo deu a sua vida para que nada mudasse. Também foi por isso para decidiu partir e seguir os Elfos.
É aqui que se vê um dos aspectos cristãos desta saga. Dar a vida pela esperança de um futuro melhor. Não agir segundo os seus próprios interesses, mas por amor. Só por amor é que é possível dar a vida por todos. A passagem de Frodo e Sam pelas terras Mordor até ao cimo do Monte da Condenação parecem-se com os passos do Calvário. Jesus saiu de lá ressuscitando, Frodo saiu de diferente, mudado. O sofrimento, a crise, são o fogo de tempera o aço.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Blog para visitar constantemente

Como alguns podem ter reparado, tenho participado pouco no blog. Tenho tido muito trabalho e ainda mais preguiça para escrever aqui. Por isso deixo-vos uma sugestão. É um blog que começou não há muito tempo e que a meu ver é o melhor que conheço (bem melhor que este pobre Reino). Chama-se Horas Extraordinárias e é escrito por Maria do Rosário Pedreira, que actualmente é editora do grupo Leya. Ela é escritora, tendo participado na colecção O Clube da Chaves.

Neste blog ela faz algo que eu gostaria de fazer e não consigo: escrever pequenas histórias com interesse, geralmente à volta de livros, literatura e língua. Para além do interesse do assunto, escreve muito bem. E por isso para mim é o melhor blog que encontrei.
Como é um blog do Sapo, recomendo que subscrevam os feeds. É fácil e funciona de uma forma semelhante ao seguir aqui no blogger.

domingo, 11 de julho de 2010

Décimo Quinto Domingo do Tempo Comum – Ano C

Hoje o Evangelho narra a parábola do Bom Samaritano. Todos conhecemos a história e o conceito. Alguém que por compaixão ajuda quem precisa de ajuda. Esta história é um bom exemplo a seguir, a ambicionar, uma tarefa para a vida.

Num segundo plano, ou talvez não, as leituras na sua globalidade apontam para outro aspecto. O que há de comum em todas? Os mandamentos e a necessidade vital de vivermos de acordo com eles.

Na primeira leitura Deus diz a Moisés que chegará a altura em que a Lei, os mandamentos, estarão tão próximos do povo como a sua própria respiração e ninguém viverá sem os conhecer e pôr em prática.

No Evangelho a conversa que deu origem ao relato da parábola é sobre os mandamentos. Jesus como sempre faz, perante alguém com responsabilidades, leva a compreensão sobre as escrituras mais longe. A pergunta do doutor da Lei tem como objectivo saber se Jesus respeitava os mandamentos. Jesus leva-o a ver que, tal como os mandamentos indicam, a fé vive-se em duas direcções: na vertical com Deus e na horizontal com os outros.

Naquele tempo, e quem sabe ainda agora, vivia-se muito facilmente a relação vertical, mas a horizontal era desprezada. Por isso percebe-se facilmente porquê que o sacerdote e o levita passaram ao largo no homem na estrada. Não havia compaixão, mas havia para compensar um respeito rigoroso pela lei. A pureza e a impureza determinavam muito a actuação de todos. O sacerdote e o escriba tinham por objectivo a pureza inerente às suas funções, por isso não podiam contaminar-se com um moribundo. A cegueira legalista era tão grande que não viam na lei o lado de compaixão de Deus e da Sua Lei. Se eles se contaminassem, havia rito para a purificação. Quem é legalista acaba por se achar dono da lei e superior.

Nesta parábola quem tinha a lei nos lábios e no coração era o Samaritano que se compadeceu. O doutor da Lei analiticamente entendeu isso, não sabemos o que terá pensado mais tarde sobre o assunto. Agora o que interessa é saber o que nós, agora neste tempo, pensamos.

Eu vejo para lá da letra da Lei de Deus o espírito de compaixão de Deus que tem para comigo? Ponho isso em prática?

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Uma verdade, para muitos, inconveniente

Este trailer já apareceu em vários blogs, mas acho que devo divulgá-lo também aqui.




Descobri este vídeo aqui

domingo, 4 de julho de 2010

Décimo Quarto Domingo do Tempo Comum – Ano C

O Evangelho de hoje termina com Jesus a dizer que a nossa alegria não deve estar naquilo que fazemos, mas na certeza de que o nosso nome está inscrito no Reino dos Céus.

Este forma de ver sempre esteve contra o senso comum de todos os tempos. Do ponto de vista humano é importante sermos produtivos, alcançarmos metas, superar-nos, vencer, vencer, crescer, crescer. Mas a nossa felicidade está noutra forma de pensar.

Ser produtivo no Reino é espalhar Amor.
Alcançar metas no Reino é viver de, para e com Amor.
Superar-nos é conseguir viver com Amor.
Vencer é ser amor para os outros.
Crescer é procurar sempre e sempre mais Amor.

Os trabalhadores da seara têm estar animados por esse Amor, se não estarão a trabalhar da si e não para o Reino.

Quem for feliz estará, como São Paulo, marcado com os estigmas da cruz de Cristo. E no fim o povo ao qual fará parte regressará à Jerusalém Nova onde Deus será uma mãe para nós e seremos felizes.

Por isso, trabalhemos, trabalhemos, como cordeiros no meio de lobos, como viajantes sem bagagem, confiantes que tudo o que as nossas mãos produzirem será pela força de Deus, pela Sua inteligência e vontade.

Nós somos o bisturi.
Nós somos a bola chutada para o golo.
Nós somos o papagaio de papel vogando ao sabor do vento.