As leituras de hoje são influenciadas pelas bem-aventuranças na perspectiva de São Lucas. Este evangelista é mais sintético do que São Mateus e contrapõe a quatro frases começadas por “felizes” quatro começadas por “ai de vós”. Os “ai de vós” reforçam as frases começadas por “felizes”.
A leitura destas bem-aventuranças é um pouco desconcertante. Parece que devemos sofrer para sermos depois recompensados. Este tipo de leitura é fácil de ter e muito perigosa, pois está-se a olhar só para o lado material da existência humana.
Peguemos na primeira leitura. Jeremias também usa o esquema de Lucas. Apresenta um maldito para contrapor com um bendito. Maldito o que põe a sua confiança, esperança, apoio, segurança no que é material, no Homem em vez de Deus. Bendito o que põe a sua confiança, esperança, apoio, segurança em Deus. Quem tem fé é como uma árvore perto dum rio, pode vir a seca, sofrimento, crise, porque as suas raízes estão junto à corrente.
Quem tem as suas raízes em Deus, água viva, verdeja e dá fruto, mesmo em tempo de seca, sofrimento ou crise.
Por isso quem tem as suas raízes em Cristo, pode passar fome de comida e sede de bebida, que no entanto será feliz.
Quem tem as suas raízes em Cristo, pode sofrer, chorar, estar doente, que no entanto será feliz.
Quem tem as suas raízes em Cristo, pode ser perseguido, ridicularizado, despresado, ignorado, que no entanto será feliz.
Porquê? Porque têm as suas raízes em Cristo, têm a sua esperança em Cristo, têm a sua segurança em Cristo, têm Cristo como seu tesouro.
Quem tem a sua segurança, esperança, apoio, meta, objectivo, medida, utopia em si, em ideais, regras, sonhos, dinheiro, carreira, trabalho, solidariedade, altruismo, estoicismo são como árvores ressequidas no deserto ou ervas que não têm raízes fundas que cheguem à humidade. Podem ter dinheiro, saúde, respeito e veneração, mas são infelizes porque tudo o que conseguiram não foi através de Deus. Deus não lhes poderá dar nada porque não têm espaço para Ele.
E nós, que espaço temos?