Assim se vê no Evangelho. Jesus, modelo de profeta, o Messias, não é bem recebido pelos seus. Aqui há duas realidades a considerar. Por um lado, Jesus veio para todos e não só para os judeus. Os exemplos que Ele dá (a viúva e o leproso sírio) indicam que a Sua Palavra é dirigida a toda humanidade. Daí o choque com as autoridades religiosas e civis do tempo. Por outro lado, Ele estava a dirigir-se a uma população que o conhecia humanamente desde o Seu nascimento. Não conseguiram separar o homem da mensagem que Ele transmitiu. Terão perdido a noção de como Deus actuava nos profetas? Terão achado que um humilde como Jesus nunca poderia ter sido escolhido para ser profeta? O que faltou àquela gente?
Certamente terá faltado a caridade de que São Paulo fala na segunda leitura. Este é um dos textos mais belos e incríveis da Bíblia, na minha opinião. Prefiro a tradução de 'caridade' em vez da de 'amor'. A palavra 'amor' está muito contaminada pelas nossas definições. Neste texto são sinónimos no sentido em que o amor seja gratuito, totalmente desprendido de si.
O profeta terá que viver na caridade. Nada do que faça, se não for por ela e através dela, lhe vale. A caridade é uma atitude interior, antes de tudo. Não há gesto grandioso que se equipare a um coração caridoso. O profeta olha a realidade com o coração cheio de amor, caridade, e fala o que Deus quer dizer.
Como desafio deixo a ideia de olharmos para a nossa consciência, para a palete dos nossos valores e regras, e vermos que estamos abertos à palavra de Deus que nos vem através dos profetas mais improváveis.