No sábado passado apercebi-me que sou um caminhante. Mas antes de explicar isso tenho que dar o contexto dessa descoberta.
Na quinta e sexta-feiras à noite e no sábado o dia todo estive num curso prático de SNC (Sistema de Normalização Contabilística). Não costumo andar de noite e por causa do curso tive que deitar-me muito mais tarde do que o habitual.
Apesar de trabalhar no controlo de gestão, e de ter deixado de fazer contabilidade, é importante actualizar-me. E para o mundo contabilístico-financeiro este ano e o próximo são marcos de grandes mudanças. Para quem não está dentro destas coisas, o que se passa é que a linguagem da contabilidade nacional foi alterada, entando em vigor me Janeiro. O plano de contas (POC) actual foi todo alterado e algumas regras e formas de pensar também. Esta mudança tem por objectivo harmonizar o nosso relato financeiro com o comunitário, foram transportas para o nosso normativo várias normas internacionais. As grandes empresas já tinham algum compatibilidade, agora é extendido para todas. Mas não se aflijam as pequenas empresas, pois para elas não vai ser exigido um detalhe tão grande com para uma empresa maior.
Bem... foi isto que andei a fazer nesses dias. O curso decorreu nas instalações do IPJ do parque das nações. No sábado de manhã, cheguei cedo ao parque das nações e resolvi sair na Estação do Oriente em vez de na paragem perto da Escola Superior de Enfermagem (eu conheço-a por esse nome, mas parece-me que tem outro) e caminhar até ao local do curso. Estava nevoeiro, havia pouca gente e trânsito. Gostei daquela caminhada e percebi que o habitual vendaval na minha mente estava silencioso. Foi como se estivesse em meditação. O meu corpo mexia-se sozinho, sentia o ar fresco a passar pela roupa refrescando-me, via beleza nas linhas arquitectónicas, sentia-me em paz apesar do sono dor últimos dias ter sido mais curto. Lembrei-me que costumo atingir um estado parecido quando vou a pé para o trabalho, apesar de muitas vezes ir a ouvir rádio.
Será esta a paz dos peregrinos quando vão a pé para Fátima ou outro qualquer santuário?
Por outro lado parte dessa clareza mental devia ser da responsabilidade da cafeína, já que bebi um capuccino da marca do Dia ao pequeno almoço. Tem menos café que um café normal, das vezes que bebi não tive as mesma sensações que no café normal e consegui sentir sono perto a hora de almoço no sábado. Se não fossem os conservantes e o açúcar passava a beber sempre deste capuccino.
E assim estraguei um texto que poderia ser sério, de reflexão religiosa, mas prefiro ser honesto. Talvez tenha sido da cafeína. No regresso caminhei para casa e voltei a sentir-me bem e a cafeína já há muito que devia ter deixado de fazer efeito.
Sim, devo ser um caminhante. Ultimamente são raras as vezes em que não tenho a mente numa vertigem. A caminhar é uma, a escrever e a trabalhar. O que deixa mal um dos momentos mais importantes do dia: o da oração. Será preciso dizer mais?
Sobra-me a tristeza...