sexta-feira, 12 de junho de 2009

Considerações sobre o dia do casamento



O lobo quer ainda mostrar os dentes sobre mais um assunto. À hora de almoço tive que partilhar o almoço com a televisão a transmitir o casamento civil das festas de Santo António. Não criar uma guerra cá em casa por causa disso.

Como não sou grande adepto das férias, de festas ainda sou menos. Se calhar sou demasiado reservado (e por isso estou sozinho). Se calhar sou um melancólico incorrigível, maníaco depressivo, mas não consigo sentir alegria numa festa. Faço os possíveis para não ir às da empresa no Natal (agora ando marcar férias para a semana em que normalmente são feitas). Às vezes até acabo por me soltar na festa e acabo por apreciar, rir e tudo, mas o sofrimento prévio não é compensado. A quebra da rotina é algo que me angustia.

Não sou um entusiasta de casamentos e festas do género. Até ao momento fui a três casamentos: dois em criança e um em adulto. A parte religiosa ainda entendo (apesar de todas as reticências que falarei à frente), mas a boda ou copo-d'água é que não entendo. Até compreendo que se fizesse uma refeição melhorada para os noivos e familiares próximos (pais, irmãos, avós), mas um banquete? Para quê? Já não vivemos em meios pequenos cuja sobrevivência dependia das famílias com filhos. Aí se justificaria que a comunidade celebrasse a criação de mais uma família. Mas com tantos ataques à família, justificam-se tantos festejos?

Não gosto dos vestidos de noiva. Porquê que na passagem de solteira para casada a mulher resolve fingir que é uma princesa, como se fosse uma criança? A maioria dos homens a roupa do noivo não assente bem, vê-se que não é habitual andar com tal trajos. Porquê? Para quê?

E todos aqueles rituais na boda, mais me parecem exercícios de tortura, querendo dizer aos noivos “isto agora é brincar, mas preparem-se que a vida a dois e depois com os filhos não vai melhorar”. Felizmente no casamento que fui em adulto não aconteceu nada daquilo que ouvi falar: sorteio de ligas, pregar partidas no quarto de núpcias.

Isto que sinto talvez seja dor de cotovelo por não ver hipóteses de me casar. Parece uma reacção típica de quem desdenha porque quer comprar. Talvez... mas mesmo assim, se um dia acontecer gostaria de não fazer nenhuma daquelas figuras. Neste momento se fosse casar perguntava a quem gostaria de convidar se gostaria de ser convidado. Depois faria os possíveis para casar numa missa normal. Há dois anos participei por acaso numa missa onde houve a renovação de votos por ocasião das bodas de prata. É assim que gostaria de casar, inserido numa missa normal, sem as leituras de casamento, por mais bonitas que sejam.

Quanto à festa prefira que fosse um almoço sossegado com os meus pais, padrinhos, sogros e irmãos se existissem. Nada de roupas fora do comum, nada de vestidos brancos, flores e marcha nupcial. Tudo isso que tinha um certo simbolismo está manchado. Fui educado vendo o vestido branco como sinal de virgindade e castidade, coisa que agora é rara. Se calhar as verdadeiras virgens deviam casa de outra forma. E depois, para o homem não havia nenhum simbolismo equivalente ao da mulher. Mais vale então acabar com isso. Quem vai casar na igreja devia ir com recta intenção de coração. Quando usamos um símbolo, estamos a dizer que esse símbolo nos representa. Num casamento se alguém usa esse símbolo está dizer que ele o representa, mas será que o representa? Não me parece e os casamentos de Santo António são o exemplo disso. Quantos casais já não vivem juntos antes do casamento? Não estarão a subir ao altar mentindo simbolicamente? O que parece é que os vestidos de noiva e os fraques do noivo são fardas que se usam naquela ocasião. Farda por farda prefiro as fardas das hospedeiras.

Das despedidas de solteiro só digo que a ideia causa-me asco.

Mais uma vez peço desculpa pela bilis despejada nesta página web. Passemos à frente, pode ser que eu escreva coisas mais agradáveis da próxima vez.

6 comentários:

Canela disse...

Noc! Noc!

Posso? Ou levarei... assim... com uma tarte na cara?

Vamos por partes, ok?

1- Gosto de ver os noivos vestidos a rigor. Mas não gosto de exageros!

2- A Celebração do matrimónio religioso é uma festa, e, como tal deve ser festejado!

3- Quanto ao simbolismo do branco, e, á virgindade dos noivos... quem não cai?

Quando alguém tomba, não terá por assim dizer direito de se reerguer?

Quando os noivos se preparam para o casamento, sabia que se confessam? Que promessas fazem eles de castidade até ao dia do casamento?

Já pensou nessa vertente? Não será essa uma forma de recomeçar?

Parece-me melhor meditar no assunto... quando a sua bilis estiver melhorzita.... :)

A Paz de Cristo.

A mim o que me causa impressão, é a perda de valores!

jota disse...

Canela, pode entrar quando quiser, mesmo se neste reino estive em estado de sítio. :)

Vendo as coisas mais friamente, concordo consigo. O Matrimónio é uma ocasião ideal de recomeço.

Eu não queria dar a imagem de um fariseu com pedras na mão. Só falei de um sentimento que obtenho com base no que vejo ao meu redor. Vejo pessoas a casarem na igreja e não voltarem lá mais. Ou a casarem na igreja para fazer um favor aos pais.

Mas é melhor deixar a bilis desaparecer :)

Obrigado pelo rápida reacção e pela paciência para a leitura.

jota

Canela disse...

A bem dizer...

Também ando com a minha bilis... ás voltas...

Dou-lhe o meu testemunho...

Fiz todo um periodo de catequese atá ao Crisma, sem ser obrigada, mas sem fé!

No pior momento da minha vida, afastei-me da igreja.

Sempre tive o sonho de casar pela Igreja, e, de branco!

Casei e voltei a afastar-me.
Baptizei a minha filha e voltei a afastar-me.
Matriculei a minha filha na catequese, e, N. Senhor Jesus Cristo agarou-me!!!

Consegue vêr mais além?!

Nunca se sabe, onde e como N. Senhor faz as suas maravilhas!

jota disse...

Obrigado, canela pelo testemunho. Dá-me esperança e leva-me a ver a realidade de outra forma.

É muito fácil cair no erro de pensar que tudo depende de nós. Realmente os caminhos do Senhor são misteriosos...

nómada disse...

Dizer o que se sente ou se pensa é ser autêntico e genuíno.
Tb penso do mesmo modo,mas são as tais máscaras sociais que acorrentam a alma humana.

Alma peregrina disse...

Caro J:

Completo a participação da Mar com Canela lembrando-te que Jesus Cristo fez o Seu primeiro milagre precisamente... no copo-de-água de um casamento. E, de facto, o banquete de casamento é uma das metáforas que Ele mais utiliza para ilustrar o Reino dos Céus.

Tal como o casamento entre a Humanidade e Deus no fim dos tempos... também o casamento entre o homem e a mulher deve ser um motivo de alegria e festejo.

Deves revoltar-te contra os abusos nesta instituição... mas não acabes com a festa!

Lembra-te: só podes abusar de algo que seja bom!

Pax Christi