sexta-feira, 12 de junho de 2009

Considerações sobre as férias



(Uso este vídeo por causa para palavra holiday, por favor vejam nela, se quiserem, o sentido de férias e não de feriado)

Tenho que confessar que não me sinto como a maioria das pessoas, se é que consigo saber o que os outros sentem, mas pelo menos sinto-me diferente daquilo que vejo as outras pessoas agirem e o que dizem.

Já leram o livro de Hermann Hess “O Lobo da Estepes”? Apesar de gostar muito de felinos, identifico-me mais com este lobo. Há algo em mim que não aceita o comum do relacionamento social. Se não fosse católico, estaria num caminho perigoso anti-social, anarca radical, talvez mesmo em franca autodestruição.

Assim o lobo anda adormecido, mas há momentos em que quase assume o controlo. As férias são um desses momentos. Tenho dificuldade em gostar das férias. Sim, é triste. Tanta gente suspirando por uns dias de férias e vem este aqui dizer que não gosta de gozá-las.

Normalmente quando começo a apreciar estes dias, eles acabam. Isto explica-se bem. Sou um animal de rotinas. Durante o ano inteiro tenho uma rotina, horários e tarefas. Chego as estes dias e tudo muda. Posso acordar mais tarde, mas isso baralha as horas para comer. Isso não seria problema se os meus pais mudassem a rotina deles, o que não acontece.

Nunca tivemos férias fora do nosso ambiente familiar, ou seja em locais alugados. Sempre fomos para casa de família ou para a nossa na terra do meu pai. Isto significa que a minha mãe sempre teve que fazer a comida e cuidar da “lida da casa”. Isto não são férias. Em criança eu não tinha consciência disso. Sofria só com a mudança de rotina. Em adulto sofro ao perceber que eu tenho férias, que mudo de ambiente e rotina, mas ela não, já para não falar da rotina.

Nestes dias estou de férias. Não saímos de Lisboa. Não vale a pena irmos à terra do meu pai, com o gato e tudo, só por uma semana. Para mais que começo a ter dúvidas se o meu pai está em condições para viagens de cinco horas.

Tinha a esperança de passar estes dias escrevendo e passando o tempo, mas surgem sempre coisas para fazer. Uma delas é pintar a casa. Preferia estar no emprego às voltas com as contas e o planos de poupança de custos.

Outra facada no meu coração é perceber que não conseguiria estar o dia todo a escrever. Umas duas horas e vá lá. A porcaria da net está sempre a tentar-me. Passear pela cidade? Tenho pouca vontade, pode haver calor, pode haver chuva, tenho que comer de tantas em tantas horas, mais vale não ir, não gosto de ir sozinho, não gosto de ir acompanhado. Aarrgghhhh...

Conviver com o meu pai também não é fácil. Está sempre a hostilizar-me. Todo o que digo serve de motivo para me chamar mentiroso. As refeições começam a ser difíceis, pois ele mete-se no digo à minha mãe, atribui coisas que ela diz a mim, temos que repetir muitas vezes que houve um avião que caiu no mar e que ninguém sobreviveu, não quer tomar os remédios, não quer beber água, deixa cair comida no chão e diz que somos nós. De manhã não é melhor. Anda perdido pela casa à procura da roupa e diz que a roubei. Não me deixa ajuda-lo a vesti-la. Não posso dizer para beber água, ou chá, nem dar-lhe uma peça de fruta para lanchar (questiona se lavei as mãos e mesmo que vá lavá-las, quando regresso já se esqueceu).

Hoje levantei-me mais tarde do que os dias de trabalho e quando me despachei fui fazer a meia hora de oração com aprendei nas Oficinas de Oração, para mim é melhor que seja de manhã. Nessa hora a minha mãe aproveitou para ir à praça. Pois durante a meia hora, que nas férias poderia ser maior, o meu pai andou da sala para o meu quarto com uma lengalenga, que aprendeu na infância, a meter-se comigo. E pensei, férias para quê? Para andar com os nervos em franja? A minha mãe é um ser humano extraordinário, com uma resistência e paciência memoráveis. Ela aguenta isto vinte e quatro horas por dia, todos os dias.

Quero pedir desculpa a quem teve a paciência de ler isto, mas o meu reino é mesmo muito imperfeito.

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