Como disse aqui há uns dias que havia duas coisas que estavam a alterar a minha percepção do tempo. A primeira foi a operação ao quisto, que por sinal já está melhor, já não tenho os pontos (tirados ontem, os segundos). Tive complicações e isso complicou-me a vida com a segunda coisa.
Resolvi comprar um carro. Já está feito. Foi isto que fez-me alterar a forma como o tempo tem passado. Terei feito bem? Terei escolhido mal? Precipitei-me? Irei morrer ou matar alguém porque tomei esta decisão? Porque foi me meter nesta alhada?
Para piorar as coisas não disse à minha mãe que ia comprar o carro até ao dia em que dei o sinal. Até esse dia o tempo ainda pareceu mais estranho. Tive medo que ela me dissuadisse, que o medo dela me dissuadisse. Já isso acontecera antes. Mas eu tinha que comprar a porcaria do carro. Porquê? Porque a porcaria da empresa em que trabalho vai mudar de instalações e os transportes públicos da minha zona para lá levarão uma hora e meia nos dias normais e duas ou mais nos piores. Teria que apanhar duas camionetas para fazer uma distância que por carro devo levar vinte minutos a andar devagarinho. É só por causa disso. Eu até suporto os problemas das viagens de comboio com o meu pai de férias, o que me obrigou foi mesmo o emprego. A empresa não é má de todo. Se eu for ao mercado, com as minha habilitações e idade, vou ganhar pouco mais que metade do que actualmente ganho. Custa-me admitir, mas sou um vendido. Trabalho pelo dinheiro e não pelo que faço. Estará isto perto da prostituição? Não vou levar o texto para aí.
Esta decisão tem me desgostado a vários níveis. Já falei de um. Outro é que estou a aburguesar-me, no sentido do Hermann Hesse. Tenho telemóvel. Tenho internet e um portátil. O que me faltava? Um carro. E preparem-se: quero ter uma vivenda. Nem mais. Andei com a sonhar em ter um iphone por causa de um passatempo da TMN. Poderei descer ainda mais? Nos primeiros tempos até estar adaptado ao carro e ao acto de conduzir deverei ir todos os dias para o trabalho nele. Lá se vai a caminhada matinal. Está claro que vocês devem estar a dizer neste momento: ora, vai caminhar noutra hora. Pois claro, mas eu sendo um burguês não deixo de ser complicado.
Os últimos dias têm sido complicados. Descobri mais uma coisa: eu vivo a um ritmo diferente do habitual, da sociedade. Descobri isto por causa do seguro. Tive só dois dias para arranjar um seguro. Ora eu gostaria de ter mais tempo para ver as simulações, para comparar preços e coberturas. Mas o vendedor disse-me que tinha que levantar o carro hoje e só deu-me os dados do carro na quinta-feira. No início da semana cheguei a comentar com os meus colegas que as matrículas deviam estar atrasadas por causa do final do ano e do aumento do IVA em Janeiro. Esperava ter uma semana para isto, até porque nunca tinha feito um seguro. Tanta coisa para aprender e para ter em atenção. Só consegui ter o seguro garantido ontem pouco antes de ir para o médico tirar os pontos. Estive várias vezes para dizer no facebook: se o arrependimento matasse... Outra preocupações foi a condução. Não tenho prática e até quinta-feira não tinha lições agendadas. É impressão minha ou fiz tudo ao contrário?
Com tudo isto tenho andado com pouca vontade para escrever nem dar sinais de vida aqui.
Ora porquê que intitulei este texto de plano? Na noite de quinta para sexta tive um sonho interessante e revelador. Sonhei que estava no programa da Casa dos Segredos. Acho que era um dos concorrentes. Estranho. De repente apercebo-me que havia alguém sendo atacado por um espírito, estava possesso. Como podem saber pelo que tenho dito aqui não sou crente em espiritismos e possessões. Uma coisa é crer intelectualmente outra é presenciar um fenómeno que não explicamos. Ao contrário de sentir medo, lembro-me de ter pensado que não acreditava nessas coisas e aproximei-me. Agarrei a pessoa, acho que era uma mulher, mas isso é irrelevante. Agarrei-a e dizia para comigo: Jesus está comigo, Jesus está comigo. Não senti medo. Ontem, num dos dias mais complicados que tive (bem se vê a vida calminha que tenho tido) disse várias vezes esta frase. Jesus está comigo.
Esta noite que passou foi muito melhor. Dormi bem e de manhã na meia hora sagrada cheguei ao seguinte raciocínio: temos que estar preparados para imprevistos. Ter um plano, uma ideia geral sobre como as coisas devem correr, pois quando aparecem imprevistos o que temos que fazer é comprará-los com o tal plano e fazer ajustamentos. Ter um plano em que entre a possibilidade de ajustamento é melhor que não ter nenhum. Na vida da fé isso pode-se aplicar. O plano é ser misericordioso como Deus, amar como Deus. Os imprevistos são os pecados, a falta de amor e de misericórdia. Se tivermos o plano bem presente no nosso espírito, os imprevistos não nos desorientam. Não somos dominados por eles, nem vencidos. Dizer que Jesus está comigo é olhar para o plano, é receber coragem, é saber que não estou sozinho. Deus não faz as coisas por mim, mas está comigo. Com este episódio aprendi isto e a relativizar um pouco as dificuldades.
Mas se para comprar um carro vivi um turbilhão destes (e não estive a maçar-vos com detalhes) então não quero pensar se algum dia for casar... mas desconfio que não corro esse risco...
1 comentário:
Parabéns!!!
Se quer um carro, se precisa dele e se tem dinheiro para o comprar, claro que fez muito bem! Treine a sua condução, tudo advém da prática, o que é preciso é força de vontade.
"Trabalho pelo dinheiro e não pelo que faço" - ó amigo Jota, afinal o amigo precisa de comer, de comprar roupa, de pagar as suas despesas, etc., etc. Ninguém consegue viver sem dinheiro e todos trabalhamos pelo dinheiro.
"Tenho telemóvel. Tenho internet e um portátil. O que me faltava? Um carro. E preparem-se: quero ter uma vivenda" - força, amigo Jota, lute pelos seus objectivos! Isso não é descer, é subir. Uma pessoa sem ambições não consegue nada na vida. A ambição só é pecado se o Jota, à custa dela, prejudicar terceiros. Enquanto viver só à sua custa e do seu trabalho, seja ambicioso, melhore a sua qualidade de vida, que lhe faz bem à alma! Sim, à alma!!!
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