Uma coisa que me chateia no sistema político actual é que não podemos ter confiança em nenhum político. O facto de haver partidos obriga a que o político não possa ser honesto e justo. É muito raro, e quando acontece é por oportunismo, um político dizer que o adversário naquele assunto está correcto, que errou, que devia ter dado ouvidos ao outro, que afinal estava a defender uma posição errada.
Se algum deputado disser um coisa destas, perde logo o apoio do partido e também, curiosamente, fica mal visto pelo eleitorado. A noção partido obriga que os seus membros defendam os princípios dele. Mas não há garantias que o partido esteja certo cem porcento em todos os assuntos. Mais, o que se vê é o fenómeno de claque, de adepto, ou seja, o membro de um partido defende o seu partido como um adepto de um clube o defende.
Neste fim-de-semana viu-se isso com o Manuel Alegre e o Marcelo Rebelo de Sousa. Tanto um como o outro, mais o primeiro que o segundo, deixaram as suas opiniões pessoais em casa e defenderam o seu partido. Estiveram ali porque um é rosa e o outro é laranja, não porque sinceramente achem que o seu líder vá governar bem (isto mais nas cores rosa que nas laranjas).
Mas que alternativa temos? Ninguém irá para a política sem ter um partido. Mesmo se tivéssemos círculos uninominais eles estariam presentes. O que poderia ser uma alternativa é pouco praticável, a governação ser feita directamente pela população.
Por isso talvez tenhamos que mudar as nossas exigências. Não devemos exigir honestidade total, porque sabemos que não é possível. Talvez devamos exigir que sejam honestamente desonestos, que defendam e ponham em prática realmente aquilo que prometem, os princípios dos partidos. Que os socialistas sejam mesmo socialistas, que os social-democratas sejam realmente social-democratas e por aí fora.
É isso que espero que o MEP seja, que no parlamento, se elegerem um deputado, que ele lute para cumprir o que se propõe, que seja honestamente desonesto e só apoie no parlamento propostas que coincidam com as suas. Pois os outros realmente não farão diferente.
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