segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Uma face inculta

Há algum tempo que queira escrever sobre este caso da Face Oculta e quanto mais tempo foi passado, mas episódios foram aparecendo, desconfio que ainda não acabaram.

O que me apraz dizer sobre este assunto? Em primeiro lugar chamo aqui um texto escrito pelo Alma Peregrina a propósito das eleições. Tenho me lembrado muito desse texto por causa deste caso. Concordo com ele, mas analiso este caso sob outro ponto de vista, que no fundo vai dar ao mesmo.

O que se passa na Face Oculta? Pouca vergonha. Há um indivíduo que para ganhar mais dinheiro estabelece uma rede de contactos para o favorecerem. Em vez de aceitar os ditames dos concursos públicos e sujeitar-se ao resultado menos favorável, ele procurou influenciar quem decide a seu favor. Houve troca de dinheiro, está claro, e géneros também. Isto é uma forma de por o problema.

Outra é: alguém conhece muitas pessoas, que conhecem outras e através desses conhecimentos geram riqueza. As regras existentes são injustas porque atravancam a livre iniciativa. Vivemos numa selva. Não estavam a roubar ninguém em particular. A concorrência se pudesse faria o mesmo. Todos somos pessoas honradas, temos cargos de muita responsabilidade. O Estado massacra-nos com tantos impostos, para depois usá-los mal. Mais vale que seja para nós, que pagamos os impostos.

Que tipo de pensamento está por trás deste caso. Roubar ao Estado não é mais do que reaver o que é nosso por direito. Como o Estado é incompetente, não merece respeito. Já pagamos tantos imposto, que mal tem um amigo dar-os uma ajudinha num caso de somenos?

Sabem o que me alarma? É que qualquer um pode participar num caso destes. Quantos de nós já não obtivemos discos, filmes ou séries ilegalmente? Eu tenho uma pequena quota parte nisso, menos do que muitos, talvez a maioria, mas não estou isento.

Eu vejo a corrupção num mesmo patamar que estes “pequenos” delitos. Têm a mesma origem. Um afrouxamento moral. No meu emprego já tive que me conter no meu entusiasmo para emprestar um disco, pois sabia que iria ser logo copiado para quatro ou cinco pessoas. Está como socialmente aceitável sacar música, filmes, séries da net. Qual a justificação? Porque é fácil e porque eles (entidade abstracta que produz os conteúdos) não perdem dinheiro, porque têm muito dinheiro. Somos todos Robins dos Bosques, mas sem collants.

Parece-me que o que falta à nossa sociedade é uma cultura de honestidade. Não peço moralidade porque poderia ter más interpretações, talvez ética. Não demos por a culpa das nossas más acções no exterior, pois se compramos um dvd pirata foi porque quisemos, ninguém nos obrigou. Não vale dizer que os bilhetes de cinema são caros, ninguém nos obriga ir ver os filmes. Podemos esperar que dêem na televisão ou apanhá-los numa promoção de dvds de alguma loja. Comprar num dvd pirata por estas razões é ser egoísta.

E o que se aplica a um dvd pirata, aplica-se à fuga aos impostos, aplica-se às infracções ao código da estrada, aplica-se às cunhas para empregos, aplica-se aos favores da face oculta, apitos dourados e quejandos. Não precisamos de melhores leis ou de melhores agentes da justiça, precisamos que honestidade.

Sem comentários: