quarta-feira, 16 de junho de 2010

Bloomsday

Entre o dia 6 de Dezembro de 1999 e o dia 17 de Janeiro de 2000 eu vivi duas experiências únicas até então. Nos primeiros dias de Janeiro estive de baixa por causa de uma gripe. Nunca tinha estado e depois não voltei a estar, se bem me lembro. E o facto de ter estado de baixa foi importante porque deu-me tempo e coragem para ler o livro Ulisses de James Joyce.


Comecei a lê-lo no dia 6 de Dezembro e acabei no dia 17 de Janeiro. Foi uma experiência incrível. Cada capítulo está escrito num estilo próprio, com temáticas próprias. A sua leitura apresenta algumas dificuldades ao leitor. Não se apanha facilmente o fio à meada e por vezes é difícil mantê-la. Há muitas expressões em diferentes línguas, desde o latim ao alemão (o que torna a tradução um pesadelo). Recomendo a tradução dos Livros do Brasil, colecção Dois Mundos. É um teste à perseverança e é aconselhável ter um guia ao pé, sobretudo para as expressões noutras línguas.


Há um capítulo em que o personagem principal, Bloom, vai a uma maternidade e a linguagem no início é arcaica, para ao longo do texto ir modernizando-se até ao actual.


Há um capítulo escrito como se fosse uma peça de teatro. Ironicamente ou não é das partes mais alucinadas de todo o livro. Um dos últimos capítulos é incrível pele estilo adoptado. É usado o método de pergunta resposta. Por exemplo: O que viu Bloom ao entrar em casa? A resposta é uma descrição exaustiva de tudo o que está à vista. São apresentados cálculos variados, o dinheiro gasto no dia, o trajecto que a água faz até sair na torneira. Enfim, uma loucura.


Por fim, o último capítulo é famoso pela técnica usada de narração: a corrente da consciência. Entramos na cabeça da mulher do Bloom e vemos o que ela pensa e como pensa.


Este livro é muito importante para a história da literatura do século XX e quiçá para toda a história. É um exercício de liberdade criadora sem par. Depois dele o formato romance começou a não ter tantos espartilhos, o escritor fica livre de contar a sua história da forma como bem entender e que história bem entender.


A história de Ulisses começa nas primeiras horas do dia 16 de Junho de 1904 e acaba nas primeiras horas do dia 17. Acompanhamos, grande parte do dia do sr. Bloom, numa existência sem grandes aventuras, deambulando pelas ruas de Dublin.


Vi uma vez escrito que há quem celebre este dia comendo o pequeno-almoço do sr. Bloom: rins de porco fritos. Experimentei, mas não achei nada de especial... e não era para ser. O sr. Bloom é que gostava.


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