terça-feira, 21 de julho de 2009

Minhas lágrimas são bits (uns e zeros em sangue)




No ano passado, dia 23 de Abril, o meu pai foi operado às cataratas (é triste constatar que colecciona maleitas). Passei a noite com ele na clínica. Foi a primeira directa que fiz. O meu pai falou a noite toda, não consegui pregar olho. Mas o pior aconteceu depois quando voltou para casa. Durante uns quatro a cinco dias tínhamos que pôr gotas nos olhos de hora em hora. Ele não queria, perguntava porquê, não acreditava que tinha sido operado, sentia uma impressão nos olhos e queria esfregar lá. Um inferno. Para, ao menos, termos a noite mais calma começámos a dar-lhe um medicamento que o médico lhe receitou para o acalmar. A primeira vez que tomou foi um choque para mim. Num minuto estava normal, no seguinte estava a apagar-se. Mas tivemos que lhe dar.

Um mês depois queiramos que ele fosse fazer análises e não lhe demos a metade do comprimido que andava a tomar à noite. Amanheceu a vomitar, com os diabetes altíssimos. Levámo-lo para o hospital e passou lá noite amarrado à cama, querendo ir embora. De noite caiu lá, ficou com um galo na cabeça. Uma tristeza. Só nessa altura é que li com atenção a literatura do medicamento. Era um anti-psicótico que cria habituação e é normal aquele tipo de sintomas. O meu pai não se aguentava em pé. Parecia ter tido um AVC, mas não teve.

Por causa disto não lhe damos nenhum anti-psicótico, só Valdispert e chá de tília ao deitar. Na noite passada nada disso funcionou. A minha mãe não dormiu um minuto e ele também não. Hoje estava de rastos. Eu? Eu sinto-me culpado por não ter dado conta de nada. Dormi quase oito horas esta noite! Sinto-me culpado porque não consigo aliviar o sofrimento dela. Sinto culpa por não conseguir chorar. Sinto culpa por me sentir impotente. Sinto culpa por não conseguir explicar à minha mãe os ensinamentos do frei Ignacio Larrañaga sobre o abandono. Sinto culpa por não estar a recorrer a todos os santos ou só a um para que o meu pai se cure. Sinto culpa por estar a despejar para aqui os meus sentimentos negativos. Sinto culpa por me sentir só, a fé devia ajudar-me a não me senti assim. Sinto culpa também por isso.





PS: Cheguei ao título depois do texto e admito que fui um pouco dramático demais. Peço desculpa.

1 comentário:

Anónimo disse...

Talvez o seu pai, necessite mesmo desse tratamento, ou um outro mesnos "agressivo"!

A medicina e os médicos, são Dom de DEUS!



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