As leituras de hoje tratam da Ressurreição, de como será a vida para lá do limiar da morte, a vida definitiva em Deus.
Na primeira leitura surge a noção do Antigo Testamento já de uma época tardia, já depois do regresso do Exílio na Babilónia, já com o contacto com o mundo helénico. Nos últimos séculos antes de Jesus a teologia judaica admitia a ressurreição e imaginava-a como uma continuação da vida terrena.
No Evangelho Jesus perante uma tentativa de rasteira dos Saduceus (grupo judeu que negava a ressurreição e que estava muito ligado ao poder da época) mostra que a ressurreição é algo de misterioso e de novo comparando com a vida actual. Também demonstra através da citação do livro do Êxodo (os Saduceus só consideravam como livros sagrados os primeiros cinco da Bíblia, onde estava o Êxodo) que o Deus de Israel é um Deus de vivos, incluindo os que já passaram por esta vida.
Realmente o que se passa depois da morte é um mistério. Há duas imagens que gosto de recorrer para pensar sobre este assunto. A primeira é comparar a vida a uma gravidez. O bebé na barriga da mãe não sabe o que há lá fora. Para ele o mundo, a felicidade é aquilo que ele tem vivido. Recebe de fora sons, sensações, mas perante o seu conhecimento actual pouco mais pode fazer do que suposições. Se tem alguma ideia sobre o que virá depois, será certamente muito difusa e desfocada.
A outra imagem é a do ciclo de vida da borboleta. Durante a fase da lagarta ela vive com os pés assentes em algo, normalmente folhas. A sua vida resume-se a comer e esconder-se dos predadores. Vive uma vida rasteira, na sombra. A fase do casulo representa a tomada de consciência de que vai e tem que mudar, transformar-se, abrir-se a algo maior. É a vida na fé. Depois vem a fase da borboleta. É a ressurreição, pouco resta da lagarta e da crisálida. A sua vida já não é rasteira nem escondida e encontrou a luz.
É esta a concepção cristã da ressurreição. A vida em Deus será algo totalmente diferente do actual, será algo que não imaginamos ser possível, algo novo, no entanto para o qual estamos destinados e preparados.
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