domingo, 20 de fevereiro de 2011

Sétimo Domingo do Tempo Comum – Ano A

Hoje o Evangelho apresenta o conceito fundamental do cristianismo. Nas semanas anteriores tivemos as novas leis, as novas interpretações do Antigo Testamento, hoje este conceito fundamental revela-nos um pouco da essência do próprio Deus.

Na primeira leitura temos o Senhor, através de Moisés, a estabelecer um mandamento de amor ao próximo. Este mandamento reside na necessidade de nós sermos santos como Deus é santo. Deus não odeia, nós também não devemos odiar. Se afastarmos o ódio do nosso coração, já estamos a ser um pouco como Deus.

E ser parecido com Deus, faz de nós templo Dele, onde Ele habita. Isso é bem explicado na segunda leitura por São Paulo. Cada um de nós é habitado por Deus. Vejamos então esta relação com uma imagem humana. A casa de alguém normalmente reflecte quem a habita. Todos temos tendência para personalizá-la ao nosso gosto e às nossas necessidades. Estaremos mais confortáveis e “felizes”, consoante estejamos mais identificados com o nosso lar. O mesmo acontece com Deus e com o Seu templo. Somos o Seus templo, se formos conformes a Ele, mais parecidos estaremos, até chegarmos ao ponto de não se separar a habitação do ocupante.

Esta identificação entre nós e Deus tem que vir da nossa essência. Ela deverá adequar-se à essência de Deus. Se Deus é Amor, uma manifestação principal disso é através da Misericórdia. Saber perdoar é uma arte a ser aprendida e praticada ao longo da vida. Saber perdoar é abdicar dos nossos direitos a bem do próximo. Quando Jesus diz: “se te baterem, oferece a outra face”, Ele está a dizer que devemos manter-nos abertos ao outro e dar-lhe outra oportunidade. A reacção animal é de defesa, fuga, contra-ataque, isolamento, corte de relações. Dar a outra face é recusar isso tudo. É dar oportunidade para o outro perceber o mal que fez, restabelecer a relação.

Para sermos capazes de fazer isso só seguindo o exemplo de Deus é que conseguimos. Nada em nós nos impele a sermos misericordiosos, se não for Deus, que nos habita, a inspirar-nos pela presença, pelo exemplo, pelos dons do Espírito Santo. Perdoar é um acto de vontade nossa. Numa primeira fase, talvez seja para estarmos de bem com Deus, depois quando já formos mais parecidos com Ele aí será já por desejo de bem para quem os magoou, ofendeu.

Jesus dá-nos outro argumento para imitarmos Deus. Se formos com os que não conhecem a Deus ou não querem conhecer, onde está o nosso ganho? Se nos dizemos cristãos, então temos que agir como Deus. Amar todos, sobretudo os que nos são desagradáveis. Este amor significar sermos misericordiosos, estarmos abertos à relação, por mais desagradável que nos seja. Há sempre uma forma de mantermos a porta aberta, até porque para haver relação é necessário haver movimento dos dois lados. A nós cabe manter o caminho aberto para irmos até ao outro. Já não podemos obrigar o outro à relação, tal como Deus não nos obriga a nada.

Mais, o longo dos Evangelhos fica claro que Deus dá mais valor à misericórdia, do que à grande atitude ou sacrifícios. Todos pecamos, mas se na nossa imperfeição compensarmos as falhas com misericórdia, somos perdoados. É isso que dizemos no Pai Nosso: “perdoai a nossas ofensas, assim como perdoamos a quem nos tem ofendido”.

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